A 14 de março, no dia em que o Charlton deveria defrontar fora o Hull City num encontro que podia valer a saída da zona de despromoção do Championship (segundo escalão inglês), Seb Lewis não estava no estádio mas sim em casa. E ia estar no KCOM Stadium, de certeza absoluta. Ao invés, com o adiamento de todos os jogos das divisões profissionais e amadoras em Inglaterra, ficou em casa. E partilhou através do Twitter um dos pontos altos que teve com o seu Charlton, clube da zona de Londres que não há muito tempo andava na Premier League.

“A chegar ao jogo do playoff final para ouvir a música ‘Sam Bartram Jimmy Seed’ (como o meu filho chama) a ser cantada foi algo mesmo especial (mais alguém sente falta do futebol?)”, escreveu Jimmy Seed, proprietário da equipa que é também conhecida como The Addicks ou Red Robins. Seb sempre foi um verdadeiro adepto, um símbolo do Charlton, ou não tivesse uma série de 1.076 jogos consecutivos a seguir a equipa, ao longo de mais de 20 anos. Por isso, e sem o melhor e mais importante que tinha na vida, ia ao baú das recordações puxar pelas boas memórias. Até que, dois dias depois, a saúde acabou por tomar-lhe o tema de conversa e partilhas.

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“A asma aumentou muito na sexta-feira feira, fiquei sem fôlego e com tosse. Falei com o médico e fui informado para entrar em isolamento por precaução nos próximos sete dias”, disse a 16 de março. No dia seguinte, já a tomar medicação, agradeceu as muitas mensagens de incentivo que recebeu e disse que se sentia melhor da parte da asma “apesar do cansaço”. No dia 20, entrava no hospital com uma infeção pulmonar, na passada segunda-feira teve a confirmação de que estava infetado com Covid-19. Entrou nos cuidados intensivos, com necessidade de estar ligado a um ventilador. Acabou mesmo por morrer esta quinta-feira, aos 38 anos.

O anúncio foi feito pelo Charlton através das redes sociais e restantes plataformas. “Estamos realmente devastados por sabermos que morreu um dos mais dedicados, leais e populares do nosso clube, Seb Lewis, com apenas 38 anos. Obrigado Seb pela tua lealdade e dedicação ao Charlton. O Valley, e um pouco por todo o lado para cima e para baixo no país, nunca será o mesmo sem ti. Descansa em paz”, escreveu, numa mensagem que não demorou a ter milhares e milhares de partilhas, a que se foram juntando testemunhos de dirigentes, jogadores, treinadores e adeptos da equipa e não só – aqueles que tinham uma bandeira com “Seb many miles” em sua homenagem.

Em declarações ao site do clube, Lionel Lewis, pai de Seb, contou ainda a história de como nasceu a paixão pelo clube, admitindo que não tinha ideia de quão adorado era o filho. “Levei-o ao primeiro jogo ao The Valley em 1993, o Charlton ganhou 5-1 e ficou tremendamente entusiasmado, a dizer que queria ir mais vezes. Ele era disléxico e não conseguia ler um livro inteiro até que saiu a biografia de Gary Nelson [ex-jogador do clube] e ele leu tudo”, contou, acrescentando que estava sempre ansioso para ser o primeiro a comprar o novo equipamento ou a ter um novo livro, que tinha rituais quando ia ver jogos fora e que a ida ao relvado do The Valley, o estádio do Charlton, quando chegou ao jogo 1.000 consecutivo foi um dos momentos mais altos da sua vida.

A história não demorou a correr o país, com dezenas e dezenas de adeptos do Charlton a colocarem camisolas e cachecóis à janela em homenagem a Lewis, tendo sido criada uma corrente com hashtag #StayHomeForSeb nas redes sociais que vai juntando essas demonstrações de respeito e afeto, ao mesmo tempo que, numa parede junto ao estádio, foi já pintada a inscrição “Seb 1076” para recordar o adepto que, como tweet fixado, tinha um lamento… ligado ao futebol. “A sensação de a minha maratona de 22 anos consecutivos a ver jogos do Charlton (1.076 seguidos) poder estar nas mãos do governo (seja agora, daqui a umas semanas ou meses) não é o sentimento mais confortável”. E é esse espírito que tem motivado um sem número de homenagens.