O presidente argentino anunciou a extensão do isolamento total até depois da Semana Santa (termina a 11 de abril) e avisou os empresários que “chegou a hora de ganharem menos” e que será duro com eventuais despedimentos.

“Tomei a decisão de prolongar a quarentena. É a recomendação que me fazem os especialistas. Por isso, o isolamento social, preventivo e obrigatório, que dispus há dez dias, será até o dia em que terminar a Semana Santa”, anunciou Alberto Fernández num discurso feiro a partir da residência presidencial de Olivos, onde durante o dia recebeu uma comissão de crise formada por oito dos mais reconhecidos infecciologistas e epidemiologistas do país.

Depois de ter o aval sanitário, Alberto Fernández procurou, por videoconferência, o consenso político com todos os governadores para estender por mais 11 dias o isolamento total que começou no último dia 20 e que terminaria, inicialmente, no dia 31. Se a nova data não for também prolongada, a Argentina ficará 24 dias em quarentena total.

E o que vamos conseguir com isso? Controlar a transmissão do vírus. E, como o vírus completa o seu ciclo no corpo humano entre o 10.º e o 14.º dia, ao prolongarmos a quarentena, vamos conseguir que o ciclo do vírus no corpo humano se complete até duas vezes. Assim, vamos ter dados mais claros para podermos trabalhar sobre quem teve o vírus e para podermos atender adequadamente”, explicou Fernández.

O Presidente argentino concluiu que, ao estender o período de isolamento, o país não comete o erro de países europeus, como Itália e Espanha, que demoraram a tomar decisões.

“Se vocês compararem a nossa curva de crescimento com a daqueles países que aplicaram tardiamente a quarentena, vão perceber tudo o que ganhamos”, apontou Fernández, vangloriando-se do “pioneirismo” argentino. “Somos um caso único no mundo de um país que aplicou a quarentena plena, assim que foi conhecido o início da pandemia. Nenhum outro país fez isso”, comparou. O Presidente argentino fez um balanço dos últimos dias para pedir aos cidadãos que se orgulhassem do que foram capazes de cumprir.

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Quero que todos fiquem contentes. Mais de 90% dos argentinos cumpriram cabalmente com a quarentena que propusemos. Nos 10% restantes foram trabalhar enfermeiros, médicos, forças de segurança, forças armadas, trabalhadores de transporte de carga, de supermercados, de farmácias”, agradeceu o Presidente, lamentando, no entanto, o “número muito baixo de gente que não cumpriu”.

Segundo Alberto Fernández, entre 21 e 27 de março, as forças de segurança controlaram 568 mil pessoas e 118 mil veículos. Como resultado desses controlos, foram apreendidos 3.778 veículos e identificados 23.111 infratores. “A imensa maioria cumpriu. Só um grupo reduzido se achou mais esperto do que os demais. Essas pessoas terminaram pagando as consequência, privando-os do seu automóvel que ficou sequestrado e suportando um processo penal que ficará nos seus antecedentes”, sentenciou.

O Presidente disse que, embora a Saúde tenha prioridade sobre a Economia, o governo tomou as decisões para garantir que os salários possam ser pagos e apelou aos empresários que entendam a solidariedade que a pandemia impõe.

“Não vamos cair no falso dilema de Saúde ou Economia. Uma economia que cai, sempre se levanta, mas uma vida que termina, não levantamos mais”, indicou, sublinhando as medidas tomadas para garantir dinheiro aos setores informais empobrecidos e para ajudar as empresas a obterem créditos subsidiados para pagarem os salários.

Assim como serei duro com quem não respeitar o acordo de preços máximos num momento de extrema necessidade, serei duro com aqueles que despedirem gente”, advertiu. “Se alguma coisa essa pandemia tem de ensinar-nos é a regra da solidariedade. Aqui ninguém se salva sozinho. Aqui, do que se trata, para muitos desses empresários, é de ganhar menos; não de perder”, avisou, advertindo diretamente aos empresários: “Bom, rapazes, chegou a hora de ganhar menos”.

E pediu aos argentinos para encararem o que resta do isolamento, com alegria para a dor ser menor. “Peço-lhes que, com a alegria de que estamos a fazer coisas boas, assumamos os dias que restam de quarentena. A Argentina é a nossa casa comum e temos de cuidá-la muito. Esse caminho está a começar. Não temos nenhum resultado garantido, mas sabemos que, se cumprirmos, a dor será menor”, concluiu Fernández.

Embora a sociedade argentina seja politicamente polarizada, sendo o Presidente representante de um desses polos, em vários bairros da capital foram ouvidos aplausos das janelas num fenómeno de união poucas vezes vista na história do país.

A Argentina somou neste domingo 75 novos casos, totalizando 820, do quais 20 foram vítimas fatais.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, já infetou mais de 697 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 33.200.