O Governo e a autoridade nacional de saúde são claros: não há data para o regresso à vida normal. Na conferência de imprensa diária sobre o surto de Covid-19, a ministra da Saúde, Marta Temido, disse este sábado que não há “ainda uma luz concreta, exata, ao fundo do túnel“, apesar de existir “uma expectativa“. A diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, concorda que esta é uma questão “muito complexa” e que “não há uma data simples” para o fim das medidas de contenção. E avisa: “Tem de ser analisado dia a dia, dado a dado, medida a medida. Não há resposta de ‘sim’ ou ‘não’ em relação a nenhuma data.”

Graça Freitas dá, no entanto, uma garantia que esse regresso à normalidade já está a ser estudado e equacionado. “Neste momento, hoje  mesmo, um grupo de académicos e cientistas está a fazer estudos para poder responder melhor às dúvidas, em que datas podemos retirar algumas medidas de contenção, para voltarmos à vida normal sem risco”, adianta a diretora-geral de saúde.

A ministra da Saúde também acrescentou à discussão o sinal de que a curva, o tal planalto que não é pico agudo, está a correr bem.  Marta Temido revelou que o número de médio de casos secundários resultantes de um caso infetado para o período 21 de fevereiro e 16 de março foi 1,81 (chamado índice R0). Isto mostra que, entre este período, “o surto estava a crescer” mas que Portugal estava “com uma taxa já inferior àquilo que que estivemos”. A descida do ‘R0’ é fundamental para se chegar ao fim do período mais crítico e, por consequência, ao fim das medidas de contenção.

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“Esta não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona”

Marta Temido lembrou ainda que “esta luta não é uma corrida de 100 metros”, mas “uma longa maratona” para a qual é preciso “dosear muito bem as nossas energias, expectativas e esforço.” E acrescenta: “Precisamos de continuar, mesmo de continuar, a utilizar as medidas de contenção e de mitigação. Precisamos mesmo de continuar a informarmo-nos corretamente sobre aquilo que são as regras recomendadas.”

A governante lembrou ainda que num momento como este “todos temos medo”, mas destaca que “este é o momento de equilibrar o medo e a coragem, a coragem de ficar em casa, de continuar a ajudar os outros desde que devidamente protegidos, e a pedir ajuda quando precisamos dela.”

A ministra da Saúde adiantou também que este sábado os serviços vão receber “80 mil zaragatoas e 260 mil testes”, admitindo que “nos últimos dias temos tido falta de zaragatoas em vários pontos do sistema, sejam entidades públicas, sejam entidades privadas.” A governante revelou que “o número de testes entre 1 de março e 1 de abril foi 88.497 de testes de diagnóstico“, sendo que “67% foram realizados no público e 43% no privado”. Portugal tem neste momento uma capacidade de fazer “6480 testes por dia no público e 4190 testes por dia no setor privado.” A governante disse ainda que este sábado chegam 144 ventiladores de uma encomenda de 1500 e ainda 3 milhões de máscaras cirúrgicas e 400 mil máscaras FFP2.

Ministra explica mortes que desapareceram do boletim após autópsia

A ministra da Saúde referiu os dados da situação epidemológica registando que há uma taxa de letalidade global de 2,5% e uma taxa de letalidade acima dos 70 anos de 10,3%. Marta Temido justificou o porquê de terem desaparecidos mortes de alguns pontos do boletim diário da DGS de hoje. Começou por registar essas três mudanças:

Na região de saúde do Alentejo ontem constava um óbito que hoje constam zero. Na caracterização dos óbitos, ontem havia mais um óbito no grupo masculino dos 50 aos 59 anos e mais um óbito no feminino dos 70 aos 79 anos”. Explicou, no entanto, que “decorre de terem sido casos que no resultado laboratorial na autópsia tiveram como consequência não ser uma morte associada à Covid-19”.

A diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, confirmou ainda que em Portugal vão ser feitos “testes de imunidade”, num processo que está a ser gerido pelo Instituto Ricardo Jorge em sintonia com outros países. Avisa, no entanto, que ainda vai demorar tempo a avançar para esses testes.