Marco e João acabam de chegar à rua Rua Ladislau Parreira, na zona velha de Setúbal. Um é cozinheiro, o outro empregado de balcão. E são ambos voluntários na associação CASA, que ajuda os sem-abrigo da cidade. “Como estamos sem trabalho, resolvemos ajudar. Fizemos um apelo no Facebook através do nosso círculo de amigos, conseguimos reunir algum dinheiro e comprámos comida”. Já há três semanas que cozinham todos os dias, com a excepção do sábado, quando a associação fecha. Só fazem pratos vegetarianos e ovos — e tentam variar. “Há dias fizemos ervilhas com ovos escalfados para termos também refeições com maior fonte de proteínas. Felizmente, na praça há muita gente que já nos conhece e todos os dias nos oferece alguma coisa.”
Há cada vez mais gente para ajudar. “A média de atendimento nesta fase são 45 pessoas, na sexta-feira foram 60. Antes do surto de coronavírus eram 22. Temos conseguido fazer milagres todas as noites”, diz Susana Marques, uma das coordenadoras da delegação, enquanto tenta manter a ordem necessária entre aqueles que se começam a juntar perto da CASA: “Mantenham a distância uns dos outros, cuidem da vossa segurança”.
Rogério tem 70 anos e Maria da Conceição 75 — são dos voluntários mais antigos. Quando lhe perguntam se não tem receio de ser infectado por fazer parte de um dos grupos de risco, Rogério encolhe os ombros: “É verdade, mas tem que ser. Quem é que ajuda estas pessoas se ficarmos todos em casa?”. Maria da Conceição acena com o olhar por detrás dos óculos: “Fui ao casamento do pai daquele rapaz que acabou de ser atendido…”
Maria João é outra voluntária. É técnica analista do Hospital Cuf Descobertas e por ela passam muitas das análises à Covid-19. Inicialmente, estes voluntários trabalhavam diretamente na rua, agora têm um espaço cedido pelo ator Luís Aleluia. São as grandes superfícies que mais ajudam a organização, mas nesta fase não chega, por isso tem sido fundamental o contributo de muitos pequenos comerciantes e do banco alimentar. “Se não houver comida confeccionada para todos, a equipa faz um cabaz o mais composto que consegue, com iogurtes, pão e alguns frescos. Ainda na semana passada tivemos um pescador que nos deu choco e, como tínhamos feijão, acabámos por fazer uma feijoada de choco. Foi um sucesso”, lembra Susana Marques.
Pode ver na fotogaleria em cima como são os dias na CASA de Setúbal.