Investigadores que analisaram as publicações na literatura médica sobre Covid-19 e a gravidez aconselham as grávidas a estenderem a todo o período de gestação os cuidados acrescidos que têm no primeiro trimestre.
Em declarações à agência Lusa, a investigadora Inês Fronteira, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), explicou que “a evidência (prova) ainda não é muita quanto à infeção pelo vírus nos primeiros meses da gravidez, quando há uma maior cautela das grávidas pois há maior risco de complicações para o feto” e, por isso, é preciso manter todos os cuidados durante toda a gravidez.
As mulheres grávidas devem ser muito cautelosas e vigilantes em relação à exposição ao vírus, mesmo que esta ocorra no final da gravidez. (…) Ainda não temos tempo para verificar o que acontece quando são expostas no primeiro trimestre, pois as grávidas observadas até aqui foram sempre de último trimestre”, explicou.
A epidemiologista, que para este trabalho se juntou a um conjunto de investigadores brasileiros, país que enfrentou surtos de zika que deixaram graves problemas a recém-nascidos, disse que tudo o que está publicado na literatura sobre a matéria “ainda não permite perceber exatamente como ocorre, quando ocorre, a transmissão de mãe para filho”.
Muito provavelmente ocorre por contacto com a mãe, após o nascimento, e não pela transmissão vertical. (…) Há a tendência de aproximar a cara do bebé da cara da mãe e, portanto, muito provavelmente foi por essa forma, ou até pela amamentação, não sabemos ainda”, afirmou.
A investigadora do IHMT sublinhou que os dados disponíveis têm também de ser analisados tendo em conta que a informação disponível “é maioritariamente de grávidas na China, que tem uma cultura diferente”.
De qualquer forma, acrescentou, foi possível perceber que a forma mais frequente de apresentação da infeção pelo SARS-CoV-2 (o coronavírus que provoca a Covid-19) nas grávidas “é através de sintomas respiratórios ligeiros e pneumonia com apresentação ligeira, havendo também tosse e fadiga”.
O estudo permitiu ainda concluir que a maioria das grávidas infetadas com Covid-19 teve parto por cesariana e que a maioria dos recém-nascidos não apresenta problemas de saúde e dá resultado negativo para o SARS-CoV-2 até 36 horas após o parto.