A primeira fase do estudo epidemiológico ENECovid19, realizado em Espanha e com o objetivo de averiguar a imunidade da população à Covid-19, revela que apenas 5% dos espanhóis — mais de dois milhões de pessoas — tem anticorpos para combater a doença. No entanto, alertam os especialistas, a presença de anticorpos contra a Covid-19 pode não ser suficiente para prevenir uma infeção futura.
Os dados, divulgados esta quarta-feira, além de excluírem qualquer hipótese de imunidade de grupo — que deverá ser um mínimo de 60%, de acordo com os epidemiologistas — revelam que se observa uma “imunidade semelhante entre homens e mulheres” e que a prevalência de anticorpos está relacionada com a “variação geográfica”, segundo Marina Pollante, diretora do Centro Nacional de Epidemiologia de Espanha, citada pelo El Mundo.
Isso explica que nas comunidades mais afetadas pelo vírus em Espanha, a imunidade chegue a ser sete vezes superior à das zonas menos atingidas pela Covid-19. Em Madrid, por exemplo, estima-se que a prevalência dos anticorpos seja de 11,3%. Em Soria, de 14,2% e na província de Barcelona 7,1%. Já em Ceuta, Astúrias e Canárias a prevalência de anticorpos é inferior a 2%.
Mais de 60 mil pessoas participaram no estudo epidemiológico ENECovid19, que teve início a 27 de abril, e foi desenvolvido pelo Ministério da Saúde em colaboração com o Instituto de Saúde Carlos III, o Instituto Nacional de Estatística e as comunidades autónomas. “O estudo ainda está em andamento”, destacou a diretora do Instituto de Saúde Carlos III, Raquel Yotti, que o descreveu como “um marco no país”. Salvador Illa, ministro da Saúde, acrescentou ainda que estes dados “fornecem aos país um raio-x da epidemia”, e permitem uma resposta mais “certeira” do país na tomada decisões no campo da saúde pública.
Crianças com imunidade inferior aos adultos
Ainda de acordo com os dados obtidos, e que resultam da análise da primeira de três fases da investigação, a prevalência de anticorpos aumenta com o número de sintomas de Covid-19 referidos — e é particularmente alto nas pessoas que referem anosmia, ou seja, perda total ou parcial de olfato.
Nas crianças, a imunidade é muito inferior aos adultos: nos bebés com menos de um ano é de 1,1%, entre um e quatro anos chega aos 2,2% e entre os cinco e os nove anos apenas 3% das crianças têm anticorpos contra a Covid-19.
As conclusões finais do estudo de seroprevalência (proporção de casos de infeção por agente patogénico numa determinada população) serão colocados à disposição da comunidade científica.
Em Portugal, arranca este mês o primeiro inquérito do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge para estudar o nível de anticorpos ao novo coronavírus desenvolvidos pela população. O objetivo é recolher cerca de duas mil amostras de sangue. Esta quarta-feira, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, anunciou que já está “no terreno” o estudo para avaliar a imunidade da população, tal como foi feito em Espanha. Lacerda Sales explicou que “foram já contactados todos os 17 hospitais da rede nacional de hospitais” e que “os materiais para a recolha de sangue e os questionários para a recolha de dados serão entregues nos locais até ao início da próxima semana.”