O Ministério da Cultura vai abrir um processo de classificação para proteger o arquivo com mais de 150 anos do Diário de Notícias, revelou esta segunda-feira à agência Lusa fonte oficial.

“Já foi tomada a decisão de abertura do processo de classificação”, disse fonte do gabinete da ministra da Cultura, Graça Fonseca, contactada pela Lusa sobre um apelo público para a classificação urgente do arquivo como património protegido.

Entre os subscritores do documento enviado à Lusa estão os antigos presidentes da República António Ramalho Eanes e Jorge Sampaio.

Subscrevem também este documento a pedir que se salve “um arquivo único e imprescindível”, os historiadores Fernando Rosas, Pacheco Pereira e Irene Pimentel, os escritores Francisco José Viegas e José Luís Peixoto e os jornalistas Adelino Gomes, António José Teixeira, Diana Andringa, José Carlos Vasconcelos, José Mário Silva e José Pedro Castanheira, assim como a presidente do Sindicato dos Jornalistas, Sofia Branco, entre outros.

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“Dada a excecional relevância histórica, cultural e cívica do acervo documental em questão e atendendo aos riscos de extravio, deterioração e até destruição que neste momento o espreitam, os abaixo-assinados vêm requerer à Direção Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB), ao abrigo do regime geral dos arquivos e do património arquivístico regulado pelo decreto-lei no 16/93, de 23 de janeiro, a classificação do arquivo histórico do Diário de Notícias como património arquivístico protegido, com vista à sua salvaguarda, organização e futuro acesso público”, lê-se no texto.

O arquivo do Diário de Notícias consiste em “450 metros de prateleiras, mais de 11 mil coleções de jornais e revistas de todo o mundo, quase 35 mil livros”, refere-se.

De acordo com este documento, o arquivo está atualmente “arrumado num armazém, inutilizável e em risco de poder vir a desaparecer no contexto da crise que atravessa a empresa proprietária, o grupo Global Media”.

Os subscritores argumentam que “o seu valor histórico e documental é absolutamente ímpar no panorama arquivístico nacional”, correspondendo a mais de 150 anos de publicações em três séculos diferentes, “uma memória única e valiosa” dos períodos “da monarquia, da República, da ditadura e da democracia em Portugal” e “da revolução industrial, das guerras, do fascismo, do comunismo, da União Europeia”.

“Pela primeira página do Diário de Notícias passaram as histórias que contam a história do mundo e do país: o fim da guerra civil dos Estados Unidos da América, o assassinato de Lincoln, a invenção da dinamite por Alfred Nobel, a Comuna de Paris, os primeiros jogos de futebol, a guerra dos Boers, a erupção do Krakatoa, a vacina de Pasteur, a torre Eiffel, a invenção do gramofone, do cabo submarino, do raio-x, da impressão digital e do cinema, a reinvenção dos Jogos Olímpicos, a guerra dos Boxers na China, Zapata, Lenine, as trincheiras da Primeira Guerra, Versalhes, Ataturk, a penicilina, a Coca-Cola, a pastilha elástica, Gandhi, a Grande Depressão”, assinalam.

O arquivo do Diário de Notícias inclui “as cerca de 55 mil edições” do jornal e “um milhão de fotografias, 3,5 milhões de negativos fotográficos, 50 mil chapas de vidro, zincogravuras e provas de contacto, 10 mil desenhos originais (entre os mais de 70 ilustradores do jornal estiveram Rafael e Columbano Bordalo Pinheiro, Stuart Carvalhais, Almada Negreiros, D. Carlos e D. Amélia)”, detalham os subscritores deste documento.

Entre os artigos publicados no jornal, são destacados uma crónica do escritor francês Victor Hugo a elogiar a abolição da pena de morte em Portugal, a reportagem de Eça de Queiroz sobre a inauguração do Canal do Suez e as entrevistas de António Ferro a Mussolini e Adolf Hitler.

Completam a lista de subscritores deste apelo os membros da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) Mário Mesquita e Francisco Azevedo e Silva, que fizeram parte de direções do Diário de Notícias, os jornalistas Jacinto Godinho e Leonete Botelho, os professores universitários José Rebelo, Maria Augusta Babo e Alexandre Manuel e Raimundo Narciso, ex-presidente do movimento Não Apaguem a Memória.