Este podia ser o dia D para Pedro Proença à frente da Liga, acabou por não ser o dia C (de calendário) depois do adiamento da reunião da Comissão Permanente de Calendários para sexta-feira e, antes do início da reunião entre o órgão e os clubes, foi mais um dia F, de futebol, com uma troca “azeda” de palavras entre equipas, neste caso de Marítimo e Farense a propósito da solução encontrada na Segunda Liga com a subida dos primeiros classificados. Do encontro por videoconferência saiu uma certeza: perante a contestação que iria sofrer por parte de alguns clubes, Proença antecipou-se, marcou uma Assembleia Geral para junho e “esvaziou” parte das críticas.
Conforme já tinha sido confirmado ao Observador durante o dia por algumas fontes ligadas ao processo, Proença não aceita demitir-se nesta fase e avançou então com a marcação de uma Assembleia Geral no próximo dia 9 de junho para debater não só a sua posição no órgão mas também questões mais “fraturantes” que mereceram reparos por parte dos clubes, entre as quais a relação com as operadoras ou as decisões relativas à Segunda Liga, seja a nível desportivos após o fim da prova, seja a nível de compensações financeiras. Ponto importante: nessa altura a discussão poderá ocorrer cara a cara, por já não existirem as atuais limitações pela pandemia. E existe um hiato de um mês para fazer ver aos clubes o trabalho desenvolvido sobretudo desde meio de março.
António Salvador, presidente do Sp. Braga, pediu na sua intervenção a demissão de Proença, avançou o JN, o que não corresponde bem ao que se passou. Expliquemos: o conjunto arsenalista é, a par de Benfica e Marítimo, um dos principais contestatários da atual liderança mas a intervenção inicial do líder da Liga tirou peso a grande parte das críticas apresentadas. Ou seja, querendo ou não a saída do número 1 do órgão, essa será uma “não questão” até daqui a um mês, altura em que a liderança será “referendada”. Mas há um dado importante: quando abordou a situação, Salvador pediu a saída dos elementos da Direção, ou seja, dos oito clubes que dela fazem parte (FC Porto, Benfica, Sporting, Tondela, Gil Vicente, Leixões, Mafra e Cova da Piedade). O Expresso revela mesmo uma frase de Salvador, a propósito ainda dos contactos feitos pelo líder da Liga com autoridades políticas pelos jogos em sinal aberto: “Não estão lá a fazer nada. Se souberam e nada fizeram, também não estão”.
O episódio, segundo explicaram ao Observador, mostra os focos abertos e que deverão ter prolongamento até 9 de junho, dia da Assembleia Geral (que não podia ser antes por questões estatutárias, sendo que o dia 6, que foi avançado por alguma imprensa, iria também coincidir com as eleições de um dos membros da Direção do órgão, o FC Porto). Da saída de Proença pela alegada inação nos últimos dois meses, tendo ainda a questão dos contactos com instituições políticas pelo meio sem que os principais intervenientes na prova entre clubes e operadoras televisivas fossem ouvidas ou consultadas, ao peso do G15, que não foi sequer ouvido sobre a possibilidade de ter uma representação em São Bento na reunião com António Costa, passando pelo fundo criado para a Segunda Liga ou pelo recente pedido de impugnação por parte do Marítimo dessa mesma decisão.
E como fica Proença? O presidente da Liga continua a considerar que o trabalho realizado não foi devidamente valorizado, que a recente aprovação de pelo menos 12 estádios para os jogos do Campeonato mostra que os seus pedidos também tiveram frutos e que há determinados temas que têm merecido créditos para a Federação mas para os quais a Liga teve também um papel decisivo. Se será ou não suficiente, haverá ainda um mês pela frente para perceber. E entretanto existe o caminho de algumas figuras que se podem perfilar para um possível avanço, sendo que o Observador sabe que pelo menos dois nomes já foram falados entre alguns clubes da Primeira Liga.
“Este momento em que se deveria consagrar pela cooperação, altruísmo e unidade está a conhecer episódios de incontornável segregacionismo e evidente misantropia. Em momento algum o Farense exerceu qualquer tipo de pressão ou influência junto dos órgãos reguladores do futebol português, com vista ao término do Campeonato e consequente decreto de subidas e descidas de divisão”, tinham defendido os algarvios, numa resposta aos insulares após a ação colocada no Tribunal Arbitral de Desporto para anular as decisões desportivas e financeiras, a nível de apoio, para o segundo escalão – depois de ter ficado definido no “Regulamento do Fundo de Apoio à Tesouraria em resposta ao Covid-19” que os clubes teriam de aceitar a classificação sem hipóteses de impugnação.
Também Rui Alves, presidente do Nacional, reagiu à noite, à intenção do Marítimo. “Posso dizer que, com este problema de Covid-19, talvez o vírus tivesse atacado o neurónio de algumas pessoas. Creio que foi uma atitude desesperada de quem intentou esta ação, para mim despropositada e, mesmo não sendo juiz, penso que desprovida de qualquer possibilidade de êxito, percebendo-se a intenção. Estou absolutamente tranquilo relativamente à decisão tomada na instância adequada. Lamento partilhar o mesmo espaço territorial com tal personalidade. Penso que os madeirenses, mesmo os que não são do Nacional, devem sentir-se envergonhados”, disse. Com a subida do Nacional, os subsídio do governo regional da Madeira serão divididos de outra forma.