A associação ambientalista Zero diz que Portugal não está a aproveitar os apoios para a conservação da natureza e que a par de atrasos em projetos podem ficar por usar 10 milhões de euros.

O alerta é feito em comunicado, no qual a associação também apela para que se reexamine a relação do Homem com mundo natural e lembra que apesar de todos os avanços tecnológicos continua igual a dependência de ecossistemas saudáveis.

O comunicado surge quando se assinala o Dia Internacional da Biodiversidade, com a associação a avisar que essa verba de 10 milhões de euros destinada à conservação da natureza não deve ser desviada para outros fins.

Uma coisa é certa: apesar de todos os nossos avanços tecnológicos, somos completamente dependentes de ecossistemas saudáveis e vibrantes para a nossa saúde, água, alimentos, medicamentos, roupas, combustível, abrigo e energia, só para citar alguns”, começa por frisar a associação.

Depois da pandemia de Covid-19 a Zero considera que se deve aproveitar para “reconstruir melhor” e para aumentar a “resiliência dos países e comunidades”, e que 2020 deve ser o ano de se inverter a tendência de perda de biodiversidade no planeta.

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No entanto, escreve a associação, com base em elementos fornecidos pela Autoridade de Gestão do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (PO SEUR), em Portugal a execução financeira e os indicadores de realização de projetos de conservação da natureza aprovados até ao fim de 2019, e a execução de projetos até essa data, tiveram atrasos “muito preocupantes”.

Com base nessa análise diz a Zero que se caminha “para um cenário de não aproveitamento do financiamento disponível” que poderá, segundo a estimativa da associação, atingir os 10 milhões de euros, “isto é, 25% do montante total dos investimentos previstos”.

Nas contas da Zero, até ao fim de 2019 dos 40 milhões de euros destinados a três linhas de financiamento foram aprovados projetos que envolvem um financiamento do Fundo de Coesão na ordem dos 32,5 milhões de euros. Os 10 milhões, diz-se no comunicado, explicam-se por haver 7,45 milhões de euros ainda não atribuídos e 3,44 milhões de euros de não execução sobre projetos que deviam ter sido concluídos até ao fim de 2019.

A associação apresenta vários exemplos da falta de execução de projetos, e fala de baixas taxas de realização e de atrasos, quando há uma “carência de investimentos na conservação de espécies e habitats, como demonstram todos os relatórios submetidos à União Europeia”.

Quando “se olha para a tipologia de projetos de conservação financiados, à exceção de algumas intervenções como no Parque Nacional da Peneda-Gerês, em áreas fortemente fustigadas pelos incêndios (…), nem sempre se constata uma linha coerente nas operações apoiadas, sendo notória uma enorme desorientação na definição das verdadeiras prioridades de investimento que tem caracterizado a atuação do Ministério do Ambiente, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e da própria Autoridade de Gestão do PO SEUR, nos últimos quatro anos”, acusa a Zero.

Também, e tendo em conta os indicadores de biodiversidade e conservação da natureza, o investimento em ações de informação ficou “aquém do esperado.

Em conclusão das contas, a Zero diz temer que os cerca de 10 milhões resultantes “da má programação e da fraca execução” seja transferidos para outras áreas de investimento público, “fragilizando ainda mais a política de conservação da natureza”.

E deixa sugestões para usar essa verba, como, entre outras, a recuperação das populações da truta-de-rio autóctone, o reforço das populações de presas silvestres do lobo-ibérico (corço e veado), a reabilitação de habitats de água doce de águas paradas, e a preservação da flora ameaçada.

O dia 22 de maio como Dia Internacional da Biodiversidade assinala a assinatura da Convenção sobre diversidade biológica, a 22 de maio de 1992 em Nairobi, no Quénia.

A efeméride começou por ser assinalada a 29 de dezembro, data da entrada em vigor da Convenção, mas em 2000 a Assembleia-Geral das Nações Unidas escolheu o dia 22 de maio.

Impacto do teletrabalho no Ambiente precisa de “avaliação integrada”, diz associação

O impacto do teletrabalho no ambiente está longe de se resumir às emissões poluentes e precisa de uma “visão integrada” sobre socialização, trabalho em equipa, tempo livre, novos gastos energéticos e deslocações diferentes, alerta a associação ambientalista Zero.

O teletrabalho não são só as emissões poluentes. As conclusões de alguns estudos mostram um benefício ambiental e financeiro, mas é precisa uma visão integrada. Vários fatores devem ser equacionados. O ganho ambiental nas deslocações para o trabalho só é válido se o dinheiro poupado não for aplicado noutras viagens, ou seja, noutras emissões poluentes”, avisa o presidente da Zero, Francisco Ferreira.

Em declarações à Lusa a propósito do impacto ambiental do teletrabalho imposto pela Covid-19, o responsável observa que “se se aplicar o dinheiro poupado nas deslocações para o trabalho em viagens que não faríamos em condições normais por falta de rendimento, de carro ou avião, temos um efeito de retorno que coloca em causa a poupança de emissões poluentes”.

O responsável esclarece estar em causa um efeito semelhante ao que acontece “se substituirmos uma lâmpada incandescente por uma led, que só gasta 5%, mas depois a deixamos sempre ligada, porque só gasta 5%”. “O ganho não é total, é só parcial”, destaca. Estes ganhos ambientais dependem ainda “do tipo de transporte que as pessoas usavam para trabalharem”.

Serão maiores se a pessoa se deslocasse de automóvel. Se se deslocasse de transporte público, os ganhos não serão tão grandes, porque o comboio ou o autocarro vai continuar a circular”, observa.

Para a Zero, as consequências do teletrabalho são “complexas e difíceis de prever” e “não devem ser vistas apenas do ponto de vista ambiental” mas sim “enquadradas no desenvolvimento sustentável”.

Nesta perspetiva, pesam questões como “quem paga as despesas da internet”, o subsídio de refeição, “que achamos que deve continuar a ser pago” ou os horários, que não podem ocupar todo o dia do trabalhador.

A Zero assinala ainda a necessidade de “garantir que os custos do teletrabalho são devidamente avaliados e repartidos com as empresas”, em vez de ficarem exclusivamente a cargo do trabalhador. Por outro lado, é preciso perceber que, deixar de ter um escritório com ar condicionado para várias pessoas pode significar uma “climatização” com maior impacto ambiental “em cada uma das casas dessas pessoas”.

“O ar condicionado, usado pelas empresas mas em poucas habitações, é quatro ou cinco vezes mais eficiente do que o aquecimento a óleo que temos em casa”, diz. Francisco Ferreira descreve “estudos que mostram que o uso de energia não aumenta com as pessoas a trabalhar em casa”. “Como nos sai do bolso, preferimos poupar e aguentar o desconforto ou vestir mais umas roupas”, diz.

Já no caso de viagens para outros países, na maioria de avião, os ganhos [ambientais] são efetivamente brutais”. “Num conjunto de avaliações que já foram feitas a nível ambiental há, realmente, uma vantagem grande no que respeita, principalmente, à área das emissões poluentes associadas às deslocações”, refere.

Também por isso, Francisco Ferreira alerta que o ganho ambiental ao nível da poluição e impacto nas alterações climáticas continua “positivo” mesmo se ponderado “o custo de energia repartido pelas diferentes casas dos trabalhadores”. “Há um ganho líquido muito grande”, assegura.

O teletrabalho permite ainda “algo crucial para uma época de pandemia, que é a flexibilização dos horários para não sobrecarregar o transporte público”.

Se conseguirmos ter um conjunto de pessoas em teletrabalho, é possível aumentar e gerir melhor a oferta de transporte público” devido aos cuidados impostos devido ao risco de transmissão da infeção.

Francisco Ferreira destaca serem precisas “muitas contas” para avaliar os impactos do teletrabalho, mas ressalva que ele “resolve não só a questão da qualidade do ar, reduzindo emissões de carbono e de outros poluentes, mas também os problemas do aquecimento global e das alterações climáticas”.

É preciso ainda ponderar que “quem trabalha em casa usa mais os meios digitais e menos papel”, recorre menos “ao descartável” e às embalagens e “ganha tempo livre” que pode significar “mais tempo disponível para dedicar a causas sociais ou ambientais”, destaca.