O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior considerou esta segunda-feira que o ensino “vive da interação entre as pessoas”, afastando a possibilidade de o trabalho à distância substituir o modelo presencial no período pós-Covid-19.
“Vivemos um tempo de incerteza, mas há algumas certezas e uma dessas tem a ver com a centralidade das pessoas, com a centralidade das competências e, certamente, que pessoas e competências exigem a presença e a interação física“, afirmou Manuel Heitor.
O ministro participou esta segunda-feira num dos debates da iniciativa “Skills 4 pós-Covid – Competências para o futuro”, promovida pela Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), que teve lugar no ISCTE, em Lisboa, e reforçou a importância de continuar a privilegiar o trabalho presencial, depois de uma fase em que o ensino se faz à distância, devido à pandemia da Covid-19.
“Usando as oportunidades que estas crises aceleradas no tempo nos dão, podemos reforçar o posicionamento do Ensino Superior na sociedade portuguesa, desde que sublinhando de uma forma clara que tem de ser presencial”, considerou.
Manuel Heitor referiu que algumas instituições de Ensino Superior no Reino Unido e nos Estados Unidos já anunciaram que o modelo de ensino remoto se vai manter no próximo ano letivo, mas ressalvou que estas universidades se posicionam “num mundo próprio” e, por isso, seria ilusório acreditar que o mesmo se poderia aplicar no contexto português.
“Temos é que perceber como é que nos podemos diferenciar no contexto europeu e perceber como é que o Ensino Superior em Portugal pode apresentar também uma estratégia própria, valorizando a presença”, considerou o ministro.
Mantendo o olhar no futuro, Manuel Heitor admitiu ainda que uma das principais lições a retirar da pandemia da Covid-19 é a de que as sociedades têm de “aprender com risco e aprender a conviver com o risco”.
“O posicionamento do Ensino Superior é particularmente oportuno para valorizar como podemos transmitir à sociedade e aos atores sociais, económicos e individuais, esta ideia de termos de preparar gerações para viver com mais riscos”, sublinhou.
No debate que se centrou nas competências para o futuro e no trabalho desenvolvido pelo ISCTE na área da ciência de dados, o ministro considerou que, além das tecnologias em geral e da ciência de dados em particular, as competências para o futuro devem ser, sobretudo, transversais, passando também pelas ciências sociais e humanas.
Esta vertente foi também valorizada pelo ex-governante e atual presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, que considerou que, apesar das transformações introduzidas pela pandemia no mercado de trabalho, há um conjunto de competências que se mantêm.
“Não é com o Covid-19 que muda tudo e nós continuamos a precisar das características de sempre das pessoas”, considerou, referindo-se às chamadas soft skills, como a resiliência, a motivação e a capacidade de liderança.
A iniciativa Skills 4 pós-Covid foi lançada no início de maio, com o objetivo de reforçar e valorizar a resposta conjunta dos sistemas de ciência e Ensino Superior aos desafios impostos pela pandemia que, em Portugal, já provocou 1.330 mortos e infetou 30.788 pessoas.
Portugal entrou no dia 3 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.
Esta nova fase de combate à Covid-19 prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.
O Governo aprovou novas medidas que entraram em vigor na segunda-feira, entre as quais a retoma das visitas aos utentes dos lares de idosos, a reabertura das creches, aulas presenciais para os 11.º e 12.º anos e a reabertura de algumas lojas de rua, cafés, restaurantes, museus, monumentos e palácios.