Numa altura em que várias cidades se multiplicam cenas de violências entre manifestantes e polícias armados, e nalguns casos até militares, na sequência dos motins que sucederam à morte de George Floyd durante uma detenção policial, há comunidades onde os agentes das autoridades se juntaram ao protestos, caminhando lado a lado com quem saiu à rua e evitando uma potencial escalada de violência naqueles locais.
Minneapolis está a arder (e o Presidente está a deitar mais gasolina na fogueira)
Um desses casos passou-se em Flint, no Michigan, conhecida internacionalmente por ter uma crise no abastecimento de água canalizada, que chega contaminada às torneiras de quem lá mora. Naquela cidade, em que 53,7% dos cerca de 95 mil habitantes são negros, muitos saíram à rua para protestar.
Perante um grupo de manifestantes, o xerife do condado de Genesee (onde se insere Flint), Chris Swanson, tirou o capacete e disse que os seus polícias tinham o cassetete “em baixo”.
“A única razão que nos traz aqui é garantir que vocês têm uma voz. Nem por um segundo pensem que ele representa os polícias de todo o condado e da nossa esquadra”, disse, em relação ao polícia, entretanto suspenso, que foi acusado de homicídio involuntário em terceiro grau e de homicídio negligente em segundo grau de George Floyd, em Minneapolis.
O xerife Chris Swanson disse que queria “fazer disto um desfile e não um protesto” e de seguida disse aos manifestantes: “Digam-nos o que é que precisam que façamos”. A isto, os manifestantes começaram a gritar “juntem-se a nós!”. Após alguma hesitação, o xerife Chris Swanson aceitou o pedido e começou a caminhar lado a lado com os manifestantes.
Genesee County Sheriff (Flint, Michigan) Chris Swanson put down his helmet and baton and asked protesters how he could help.
The protesters chanted "walk with us" so the Sheriff joined — and walked alongside the protesters in solidarity.
Leadership.????❤️ https://t.co/Vs3941C2o8
— Rex Chapman???????? (@RexChapman) May 31, 2020
Em Houston, o chefe da polícia daquela que é a maior cidade do Texas, com 2,3 milhões dos quais 22,5% são negros, e onde George Floyd nasceu e cresceu, também foi filmado a discursar em frente a manifestantes sem que alguma vez fosse antagonizado por qualquer um deles — antes pelo contrário.
“Aquele tipo de tratamento não é correto”, disse o chefe da polícia de House, Art Acevedo. “Estou furioso. Estou furioso porque as pessoas não compreendem porque é que as pessoas negras estão tão irritadas.”
“O que eu adoro nesta cidade é que [apesar de quererem que se fale] de pessoas de cor como se fossem bandidos ou vagabundos e, para mim, para o meu povo, como imigrante, sabem que mais? Nós construimos este país. E tenho uma notícia a dar-lhes: nós não vamos a lado nenhum! Esse barco já passou. Por isso, quem tiver ódio contra pessoas de cor, aguentem-se. Porque esta cidade é uma cidade cuja maioria é composta por minorias. E esta cidade é a cidade onde brancos, negros, castanhos, [imigrantes] legais ou ilegais se juntam, porque nós avaliamos-nos uns aos outros pelo que elas têm no coração”, disse Art Acevedo.
O chefe da polícia de Houston falou ainda contra a possibilidade de haver manifestações violentas naquela cidade. “Prestem atenção, porque são os tipos brancos com tábuas de skate que estão a começar a merda toda!”, disse. “Não vão atrás dessas tretas, aquilo é obra do Diabo!”
De acordo com o jornal Houston Chronicle, até agora as manifestações naquela idade têm permanecido não-violentas, apesar de se registar uma subida de tensão.
Art Acevedo, Houston Chief of Police “DONT FOLLOW THAT BULLSHIT” pic.twitter.com/2HFBu86fOc
— bnasty (@bribrielle_) May 31, 2020
No condado de Camden do estado de Nova Jérsia, onde vivem 506 mil pessoas, da quais 21,6% são afro-americanas, a polícia também esteve lado a lado com manifestantes. O momento em que o chefe da polícia daquele condado, Joe Wysocki, se juntou aos manifestantes e ajudou a transportar uma tarja foi fotografado e divulgado no Twitter daquele departamento policial.
Já antes disso, Joe Wysocki tinha criticado abertamente o polícia de Minneapolis que é agora acusado de ter cometido homicídio contra George Floyd. “Acho que todos vimos um homicídio a acontecer em vídeo”, disse na sexta-feira. “Vou fazer tudo o que for possível para treinar os nossos agentes de maneira a terem os conhecimentos e a capacidade de agirem nestas situações. Isto não pode acontecer de maneira alguma em Camden.”
Chief Wysocki on the march today, standing together with the residents we serve to remember and honor George Floyd. #StrongerTogether #CamdenStrong pic.twitter.com/UJAjxXkxrx
— Camden County Police Dept. (@CamdenCountyPD) May 31, 2020
Além disso, também em Miami e em Nova Iorque há imagens de polícias que se ajoelharam juntamente com manifestantes — repetindo assim o gesto celebrizado pelo ex-jogador de futebol americano, Colin Kaepernick, que ficou conhecido por se ajoelhar durante o hino dos EUA no início de cada jogo, em protesto.
https://twitter.com/BahatiRemmy/status/1267070374505779201