Os primeiros resultados do estudo à imunidade da população portuguesa à Covid-19 deverão ser conhecidos durante as duas primeiras semanas do mês de julho, disse esta quinta-feira o presidente do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), Fernando Almeida, durante a conferência de imprensa diária de acompanhamento da pandemia da Covid-19.
Fernando Almeida referiu que o inquérito serológico em Portugal já está, desde o dia 25 de maio, no terreno e deverá prolongar-se até perto do dia 12 de junho. “Muitas pessoas têm contactado o INSA oferecendo-se para fazer o teste serológico”, destacou o responsável, explicando que essas ofertas não podem ser aceites, uma vez que a amostra tem de cumprir critérios de correspondência com a população nacional.
“Lá para 15 de julho, na primeira ou segunda semana de julho, talvez possamos dar alguns resultados preliminares“, afirmou. Sobre as críticas à pequena dimensão da amostra (duas mil pessoas), Fernando Almeida respondeu que “não podemos ter o melhor dos mundos”, já que é preciso ter respostas rapidamente que permitam ajudar nas tomadas de decisão. Porém, o estudo vai ser repetido cinco meses depois, provavelmente aumentando a amostra, e o seguimento vai ser feito de três em três meses, para determinar a prevalência da imunidade.
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Fernando Almeida deixou ainda um alerta sobre a finalidade dos testes serológicos. “Fazer um teste serológico, se é a deteção de anticorpos, não é um teste usado para diagnóstico. As pessoas que o fazem devem de forma definitiva saber que não é um teste de diagnóstico. Não lhes confere a garantia de imunidade nem de que não são transmissores ou portadores”, disse o líder do INSA.
“O objetivo é perceber o nível de imunidade da população”, acrescentou Fernando Almeida, referindo-se a outros projetos de testes serológicos a ser feitos no país e alertando para o erro que é usar esse tipo de testes para diagnosticar a infeção.
O mesmo instituto tem estado também a fazer uma análise da variabilidade genética, fazendo sequenciação do genoma do vírus, que já encontrou 600 mutações diferentes do coronavírus em Portugal. Segundo Fernando Almeida, as mutações que se encontram no país são as mesmas que no resto da Europa.
“São mutações em relação ao vírus inicial de Wuhan. Cada vírus tem uma mutação por semana, alguns até têm mais. Este número permite-nos perceber até que ponto há alguma variabilidade“, disse Fernando Almeida. “Cerca de 90% destas mutações são todas iguais à grande maioria na Europa. Partilham as mesmas mutações. Isto significa que estas mutações são associadas ao vírus que está a circular mais na Europa.”
Metade dos testes no SNS são em Lisboa e Vale do Tejo
A situação na região de Lisboa e Vale do Tejo (que registou 93,4% dos novos casos) voltou a ser um dos tópicos a dominar a conferência de imprensa desta quinta-feira. O secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, revelou dados recentes, com data de terça-feira, segundo os quais “cerca de 50% dos testes do SNS foram feitos na região de Lisboa e Vale do Tejo. No Norte foram feitos cerca de 28%, no Centro 14%, no Alentejo 4% e no Algarve 2%. O que está em linha com a situação epidemiológica nacional e regional”.
A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, foi questionada precisamente sobre o plano de testagem no resto do país, respondendo que para já não estão planeadas campanhas de rastreio fora da região que mais preocupa as autoridades de saúde. “Foi definido um plano para rastrear a região de Lisboa e Vale do Tejo. Por esse motivo, estão a ser testadas as pessoas de acordo com a estratificação do risco. Estamos a acompanhar o resto do país, que está estável. Em termos de rastreios, estamos focados nas empresas de Lisboa e Vale do Tejo. O resto do país está a ser acompanhado, mas de momento não está a ser equacionado“, disse Graça Freitas.
“Os concelho de Loures, Lisboa, Almada, Seixal, Barreiro, Vila Franca de Xira e Sintra são neste momento dentro da região de Lisboa e Vale do Tejo as zonas com mais casos por 100 mil habitantes, desde 1 de maio a 1 de junho”, detalhou a diretora-geral da Saúde.
Graça Freitas foi também questionada sobre um surto numa empresa do Bombarral, do setor frutícola. “É uma zona onde é usada mão de obra temporária, estamos na altura da apanha da fruta, está sob grande observação das autoridades de saúde. Há vistorias programadas e a ser efetuadas e há planos para fazer testes”, detalhou.
DGS e Infarmed mantêm “cautela” sobre hidroxicloroquina
Questionada sobre os ensaios clínicos à hidroxicloroquina, entretanto retomados pela OMS, Graça Freitas reiterou que Portugal mantém a cautela. “A DGS e o Infarmed estão a acompanhar a situação e por enquanto vamos ser cautelosos e não vamos fazer a recomendação da utilização em Portugal”, disse.
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O secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, pronunciou-se também sobre a questão da fronteira com Espanha, depois de o país vizinho ter anunciado unilateralmente a abertura da fronteira a 22 de junho. “Essa questão não está ainda definida. Sei que esse tipo de decisões depende de uma articulação com o ministro do Interior espanhol e não haverá nenhuma decisão sem o acordo das partes”, disse o governante, reiterando o que já havia sido dito pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Junto aos estádios, Graça Freitas pede responsabilidade
Na mesma conferência de imprensa, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, foi questionada sobre as preocupações de saúde pública junto aos estádios de futebol, agora que o campeonato português foi retomado sem público nas bancadas. A pergunta referia-se especificamente à situação registada em Famalicão, onde a claque do FC Porto, os Super Dragões, esteve presente na quarta-feira.
Sem comentar o caso específico, Graça Freitas lembrou que é necessário que haja sentido de responsabilidade entre as pessoas que se aproximam dos estádios de futebol e que as normas sejam cumpridas.