Ada Hegerberg gosta de ser das primeiras a fazer as coisas. Foi a primeira mulher a levantar a Bola de Ouro, em 2018, o ano em que a FIFA decidiu começar a atribuir ao futebol feminino o mesmo prémio que dá ao futebol masculino desde os anos 50. Já ganhou quatro vezes a Liga dos Campeões, sempre ao serviço do Lyon, e na final do ano passado tornou-se a primeira a marcar três golos numa final europeia, com um hat-trick em 16 minutos. No verão passado, decidiu também tomar a decisão quase inédita de renunciar à seleção da Noruega e falhar o Mundial, por diferendos com a Federação. Agora, tornou-se a primeira a aproximar o valor dos contratos publicitários das mulheres aos valores dos contratos publicitários dos homens.
Um Mundial que não tem a melhor do mundo e é o mais importante de sempre. Mas porquê?
Esta segunda-feira, a Nike anunciou que assinou um contrato de 10 anos com a avançada norueguesa, que até aqui era patrocinada pela Puma. Ainda que os valores e os termos definitivos do vínculo não tenham sido anunciados, a Forbes garante que a norueguesa de 24 anos vai receber anualmente uma quantia que chega aos seis dígitos e que a torna a primeira a receber algo aproximado àquilo que os jogadores recebem por compromissos publicitários. Por exemplo, e se olharmos apenas para os atletas que têm contratos de longa duração com a Nike, Mbappé chega a receber quatro milhões de dólares anuais pelo vínculo com a marca, enquanto que Sterling aufere cerca de dois milhões.
Just did it. #Nike pic.twitter.com/YELGPoH9nF
— Ada S Hegerberg (@AdaStolsmo) June 8, 2020
“Para mim, pessoalmente, este é um passo gigantesco na minha carreira. Sinto que a Nike inspirou milhões de pessoas no desporto e eles são quem acaba por fazer a diferença quando se trata de elevar a mulher no desporto e criar uma forma de comparação. Espero que esta parceria possa escrever história outra vez, dentro de campo, quando eu voltar”, disse Hegerberg em entrevista à Forbes, onde também falou sobre os efeitos da pandemia no futebol. “Tem sido difícil para o futebol masculino. Por isso, obviamente, se olharmos de uma forma histórica, é sempre o elo mais fraco que acaba por sofrer mais com uma crise destas. E sinto que o futebol feminino ainda está numa fase em que é o elo mais fraco do futebol”, acrescentou a norueguesa.
Ada Hegerberg falhou o Mundial 2019, conquistado pelos Estados Unidos e onde a Noruega caiu nos quartos de final, por um diferendo com a Federação sobre a igualdade de pagamento para a equipa masculina e para a feminina. A luta da avançada do Lyon, que ainda não anunciou se e quando pretende voltar à seleção, acabou por inspirar outras batalhas: no início do ano passado, meses antes do Mundial, várias jogadoras da seleção norte-americana decidiram processar a própria Federação por aquilo a que chamaram “discriminação de género institucionalizada”. Sobre isso, a norueguesa considera “muito importante” que os líderes do desporto, incluindo do desporto feminino, “mantenham as vozes bem claras”.
Certo é que a Nike decidiu assinar Ada Hegerberg não só pelo facto de ser uma das melhores jogadoras do mundo — e para tomar uma atitude relativamente à igualdade de pagamento — como também pelo ativismo da avançada norueguesa fora dos relvados. Ao lado de Raheem Sterling e de Megan Rapinoe, que alastram as respetivas áreas de intervenção ao racismo e às causas LGBT, Hegerberg é nesta altura uma das atletas mais influentes do mundo e a mulher que está na linha da frente da promoção do futebol feminino.