* Em atualização

A estátua Cónego Melo, localizada na rotunda de Monte de Arcos, em Braga, foi vandalizada durante a madrugada deste domingo, avança o Jornal de Notícias. De acordo com o jornal, na escultura foram escritas as palavras “assassino”, “abril” e “Pª Max”, poucos dias depois de a estátua do Padre Anónio Vieira também ter sido vandalizada em Lisboa. Ao Correio da Manhã, a PSP afirmou que a estátua está assim desde 25 de abril deste ano.

Eduardo Melo Peixoto, mais conhecido por Cónego Melo foi um sacerdote português e ativista anti-comunista. Foi acusado de envolvimento na morte do Padre Max, o candidato da União Democrática Popular que foi morto num atentado à bomba em 1975, por ter alegadamente estado ligado à organização radical e terrorista de direita Exército de Libertação de Portugal (ELP).

A estátua já tinha sido vandalizada anteriormente, há sete anos (em 2013), como “forma de protesto contra a figura do clérigo”, refere a Braga TV. Na altura, como escreveu o jornal Público, tinham sido inscritas na base em mármore as palavras “fascista” e “assassino” a tinta vermelha. Já a escultura teria sido pintada com tinta azul.

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Nesse ano de 2013, o ato de vandalismo terá sido feito durante uma madrugada, depois de um dia de protestos contra a edificação da estátua. Um dos manifestantes, o sociológico e professor da Universidade do Minho Manuel Carlos Silva, disse então ao Público que o movimento que organizou o protesto não tinha “nada a ver com os atos posteriores”.

Já em 2017, o Correio da Manhã noticiou que a estátua tinha sido novamente vandalizada, com inscrições a tinta vermelha de expressões como “fascista”, “assassino” e “Padre Max” na base da escultura.

Presidente da Câmara de Braga: “A história não se reescreve com vandalismo”

O presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, lembrou em declarações à Rádio Observador que “esta não é uma atitude inédita”, aliás “tem ocorrido infelizmente com alguma frequência”. E acrescentou que o desenlace destes atos de vandalismo tem sido invariavelmente o mesmo: “A autarquia acaba por limpar a estátua”, até voltar a haver, “mais cedo ou mais tarde”, um “novo episódio desta natureza”.

O autarca de Braga, eleito com o apoio do PSD, reconheceu que a edificação da estátua não foi consensual na cidade, “gerou bastante polémica”, e que ele próprio entendeu “na altura em que a estátua foi instalada que devíamos procurar maior consenso”. Esta foi edificada por financiamento privado e terá recolhido o apoio da maioria dos locais, embora não tenha sido consensual.

Não podemos aceitar que alguns manifestem a sua posição desta forma. A história não se reescreve com este tipo de iniciativas de vandalismo em relação àquilo que são peças de memória coletiva que não deixam de evocar a história”, vincou Ricardo Rio, acrescentando no entanto que “não enquadraria esta iniciativa nesta situação mais abrangente que hoje lamentavelmente se vive um pouco por todo o mundo”, já que os atos de vandalismo à estátua têm sido recorrentes nos últimos anos.

[As declarações de Ricardo Rio à Rádio Observador:]

Ricardo Rio: “Vandalização não se enquadra na situação global”

Em 2013, o site oficial do Bloco de Esquerda — Esquerda Net — escrevia que a colocação do monumento fora aprovada com os votos favoráveis do Partido Socialista e com a abstenção dos vereadores dos partidos à direita do PS. Ricardo Rio vinca ao Observador que à época “a maioria dos cidadãos bracarenses entendeu prestar essa homenagem e permitir a instalação desta estátua, que até resultou de uma iniciativa privada”.

Na altura, o BE declarava a oposição à estátua, considerando-a uma “ofensa ao sentido democrático dos bracarenses que, desde o primeiro momento, se opuseram à glorificação de quem tem no seu currículo a participação ativa na violência contra a democracia e o envolvimento na especulação imobiliária”. E recordava que “quando, na Assembleia da República, foi proposto pelo CDS um voto de homenagem ao cónego Melo, após a sua morte, a imensa maioria dos deputados socialistas absteve-se ou votou contra, tendo-se retirado da sala deputados do PSD como Mota Amaral ou o bracarense Miguel Macedo”.

PSP e vereador do PCP em Braga dizem que estátua já estava vandalizada

Na sequência da publicação da notícia do JN, o Correio da Manhã escreve que a PSP de Braga  garante que a estátua tem escritas as palavras “assassino”, “facho” e “Pª Max” com tinta encarnada desde, pelo menos, 25 de abril deste ano. Além disso, esta autoridade disse ao mesmo jornal que não houve nenhuma queixa de vandalismo à estátua feita nas últimas 24 horas.

“Não tem nada que ver com os episódios de vandalismo que têm sido verificados noutros pontos do País. A estátua do Cónego Melo está assim desde o 25 de abril. Não recebemos qualquer queixa de vandalismo nas últimas 24 horas”, escreve o Correio da Manhã citando uma “fonte da PSP de Braga”.

No Twitter, o vereador do PCP em Braga, Carlos Almeida, também se pronunciou sobre este episódio. Numa publicação, o político afirma que “a estátua está neste estado há imenso tempo” e que as notícias tiveram como como propósito “propagar mentiras e incentivar o ódio”.

O tweet de Carlos Almeida

Noutra publicação, Carlos Almeida acusou ainda: “As motivações contra a estátua do bombista Melo são muito antigas e nada têm a ver com os acontecimentos recentes. Mas pelos vistos há quem queira, através da mentira, descredibilizar a luta contra o racismo e acentuar o clima provocatório”.

Ventura reage: “Isto já só vai lá à bastonada”

O líder e atualmente deputado único do partido Chega, André Ventura, já reagiu ao incidente. Na sua conta oficial na rede social Twitter, partilhou uma fotografia da estátua vandalizada e escreveu: “Estátua do Cónego Melo também vandalizada. Isto já só vai lá à bastonada”.

A publicação de André Ventura na rede social Twitter