Mais de metade (51%) dos moradores das favelas do Brasil afirmou que não conseguem cumprir as medidas de prevenção contra o novo coronavírus, informou esta quarta-feira uma pesquisa divulgada pelo Instituto Datafavela.
O levantamento, realizado em parceria com o Instituto Locomotiva e a Central Única das Favelas (Cufa), contou com 3.321 entrevistas, realizadas entre 19 e 22 de junho, com pessoas que vivem em 239 favelas distribuídas em todos os estados do país.
A sondagem mostrou que dos moradores de favela que afirmaram não conseguir seguir todas as recomendações para a prevenção do novo coronavírus, 39% declararam que tentam se prevenir, mas nem sempre conseguem fazer isto. Já 12% declararam não conseguir.
Outros 41% afirmaram que seguem as medidas de prevenção para evitar o contágio, enquanto 8% disseram não estarem tentando seguir as recomendações das autoridades de saúde.
Questionados sobre a razão que os impede de seguir as medidas de prevenção durante a pandemia, a maioria (72%) respondeu que precisa trabalhar e ganhar dinheiro.
No entanto, o levantamento mostrou um nível elevado de descrença sobre a perigosidade da pandemia: 45% declarou que não acha ser preciso seguir todas as medidas e 39% disse não acreditar que a Covid-19 seja uma doença tão grave.
A pesquisa mostrou que 89% dos moradores das favelas brasileiras afirmaram que contrariam as recomendações de isolamento social e saíram de suas casas na última semana.
Na média geral, os entrevistados declararam ter saído de suas casas cerca de quatro dias na última semana.
A sondagem indicou que 24% dos entrevistados declarou sair todos os dias de casa, 11% disse sair seis dias por semana, 15% sai cinco dias por semana, 10% sai quatro dias por semana, 10% sai três dias por semana, 15% sai dois dias por semana e 15% sai um dia por semana.
A preocupação com o rendimento entre os moradores das comunidades pobres do Brasil subiu 14 pontos percentuais em dois meses. A percentagem de moradores das favelas que declaravam estar preocupado com a renda familiar saltou de 75%, em março, para 89% em junho.
Além disso, 80% das famílias que vivem em favelas no país declararam estar sobrevivendo com menos da metade do seu rendimento antes da pandemia.
Pelo menos dois terços (66%) dos entrevistados declararam só ter dinheiro para sobreviver uma semana em casa sem trabalhar. Outros 29% disseram que não conseguiriam ficar nenhum dia sem trabalhar, enquanto 3% declararam ter reservas financeiras para um mês.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de infetados e de mortos (mais de 1,1 milhões de casos e 52.645 óbitos), depois dos Estados Unidos da América.
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 477 mil mortos e infetou mais de 9,2 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.