Visionário, dinâmico e com uma capacidade de trabalho ímpar, Alfredo da Silva ousou transformar económica e socialmente Portugal na primeira metade do século XX. Ao longo de décadas, contribuiu para o desenvolvimento das indústrias química e têxtil, da reparação naval, modernizou e incrementou os transportes urbanos e marítimos, apostando também no crescimento da atividade bancária e na melhoria da prestação dos serviços na área da saúde.
Mas quem foi Alfredo da Silva e como se tornou numa das figuras do século XX? Filho do comerciante Caetano Isidoro da Silva e Emília Augusta Laymé Ferreira, Alfredo da Silva nasceu a 30 de junho de 1871 e, desde cedo, revelou interesse pela área comercial. Aluno brilhante, antes de terminar o Curso Superior de Comércio de Lisboa, já era uma das vozes mais respeitadas na Companhia Carris de Lisboa e no Banco Lusitano, sendo aos 21 anos um exemplo de liderança e poder de decisão, o que lhe permitia desdobrar-se em várias atividades em simultâneo.
Foi durante o período em que integrou a direção do Banco Lusitano que iniciou a ligação à Companhia Aliança Fabril, primeiro como acionista, depois como administrador-gerente, empresa que acabou por ser a semente do grupo que iria construir. Paralelamente, a convite da Carris, foi ao estrangeiro e ficou a conhecer o que de mais avançado se fazia na Europa, principalmente na área industrial, e decidiu apostar na contratação dos melhores meios e especialistas para dirigir as suas fábricas. Sob o mote “Mais e Melhor”, criou a CUF – Companhia União Fabril, o maior e mais diversificado grupo empresarial do país que estendia a sua atividade à construção naval, têxteis, química, metalomecânica, minas, petróleos, tabaco, banca e seguros.
Homem de muitos ofícios
Já casado com Maria Cristina Resende Dias de Oliveira, e administrador-gerente da Companhia Aliança Fabril, sugeriu, em 1898, a fusão desta empresa com a concorrente Companhia União Fabril, criando a maior empresa industrial do país no setor químico. Entre os produtos fabricados, contavam-se velas e óleos vegetais, e, mais tarde, adubos. O espaço para a acolher seria o Barreiro, que se tornaria no maior complexo industrial do país.
Com os negócios a correrem de feição, em 1906, Alfredo da Silva começou a delinear as bases da vasta obra social da CUF. Com o argumento de que trabalhadores satisfeitos são mais dedicados, decidiu construir uma escola, uma farmácia, um posto de socorros médicos, uma despensa que vendesse os produtos praticamente a preço de custo e uma caixa económica para benefícios de todos os trabalhadores. Mais tarde, construiria um dos primeiros bairros de trabalhadores, com despensas, refeitório, moagem, padaria e um grupo cultural e recreativo.
Por entre aventuras políticas e o constante crescimento do seu império, que na década de 1910 já incluía uma frota de navios dedicada à importação, e, antes de ser vítima de dois atentados que o obrigariam a exilar-se fora do país, Alfredo da Silva casou a sua única filha com Manuel Augusto José de Mello, passo que seria fundamental na continuidade do Grupo CUF após a sua morte.
Nas décadas seguintes, estendeu a atividade ao setor bancário, enquanto acionista do grupo José Henriques Totta & Cª, apostou no negócio do tabaco, com a fundação da Tabaqueira, e, já no decorrer da II.ª Grande Guerra, focou-se na reparação e construção de embarcações para as frotas pesqueiras nacionais e estrangeiras, no estaleiro na Rocha Conde D’Óbidos (mais tarde Lisnave). Ainda antes da sua morte, a 22 de agosto de 1942, tem a sua derradeira conquista ao criar a Companhia de Seguros Império.
Um legado com futuro
Após a morte de Alfredo da Silva, Manuel de Mello, seu genro, assumiu a liderança do grupo e estaria na base da construção do Hospital da CUF, em 1945, da Soponata, em 1947, projeto este que cobriu a lacuna do país no transporte de combustíveis, e, em 1961, a Lisnave, um dos maiores estaleiros de reparação naval a nível mundial.
Alguns anos depois da revolução de 1974, que levou à nacionalização das empresas, o legado do “grande industrial” voltaria a expandir-se pelas mãos dos seus netos, através da criação de dois grupos distintos: o Grupo Sovena, de Jorge de Mello, e o Grupo José de Mello, de José Manuel de Mello. O primeiro focado na produção de azeite e óleos vegetais; o segundo, com atividades diversificadas, das autoestradas, à saúde, indústria química e produção de vinho. Hoje, quase 80 anos após a morte de Alfredo da Silva, as suas empresas continuam a caminhar e inovar, em direção ao futuro, prosseguindo o compromisso de contribuir para o desenvolvimento de Portugal.
Ações que marcam uma data importante
Mas o legado de Alfredo da Silva está além das atividades empresariais. Nesse sentido, como parte integrante das comemorações dos 150 anos do seu nascimento, que terão lugar entre junho de 2020 e junho de 2021, a Fundação Amélia de Mello pretende divulgar a história e vida do empresário através de várias ações. Assim, será lançado um desafio às escolas secundárias, do ensino profissional e do último ciclo do ensino básico, em colaboração com o Ministério da Educação e da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, sob o Alto Patrocínio do Presidente da República, a concretizar através de um concurso a decorrer no ano letivo 2020/2021.
Selo comemorativo
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Outras das iniciativas que pretende assinalar os 150 anos do nascimento de Alfredo da Silva é a emissão de quatro selos alusivos à sua pessoa e projetos, uma ação conjunta entre a Fundação Amélia de Mello e os CTT. A coleção é composta por uma série limitada de selos que sublinham a mais relevante iniciativa empresarial ocorrida em Portugal em quase século e meio, para que outros se sintam inspirados em contribuir para colocar o nosso país na senda do progresso económico e social.
O que se pretende é que os alunos desenvolvam trabalhos sobre Alfredo da Silva, tendo como referência as suas iniciativas e empreendimentos. O ponto de partida será uma biografia do fundador do Grupo CUF, que será gratuitamente disponibilizada aos alunos, professores e escolas. Para avaliar os trabalhos, serão constituídos júris temáticos para selecionar os vencedores, e as escolas dos alunos vencedores receberão também um prémio monetário para apoio a projetos.
Conferência nacional e conferências temáticas
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Entre setembro de 2020 e junho de 2021, a Fundação Amélia de Mello vai apresentar uma série de conferências temáticas, tendo em comum a vida de Alfredo da Silva, a sua obra e os projetos empresariais que desenvolveu, bem como os continuados pelos seus sucessores. Esses encontros serão realizados em vários pontos do país e em conjunto com algumas instituições nacionais de referência. Além disso, em junho de 2021, está prevista uma conferência nacional na Fundação Calouste Gulbenkian. Eis a calendarização:
CONFERÊNCIA 1
Setembro de 2020
O Contributo da CUF para a Medicina em Portugal
Lisboa, Hospital CUF Tejo
CONFERÊNCIA 2
Setembro 2020
A História Empresarial e os seus Protagonistas
Porto, Católica Porto Business School
CONFERÊNCIA 3
Novembro de 2020
CUF, Azeite e Oleaginosas: Passado, Presente e Futuro
Estação Agronómica de Oeiras, iBET em colaboração com INIAV e ESBUC-Porto
CONFERÊNCIA 4
Dezembro de 2020
Globalização em Português: Revoluções e Continuidades Africanas
Lisboa, Academia de Ciências de Lisboa
CONFERÊNCIA 5
Janeiro de 2021
A Obra Social da CUF
Barreiro, Escola Alfredo da Silva
CONFERÊNCIA 6
Março de 2021
A Química para a Vida
Aveiro, Departamento de Química da Universidade de Aveiro, FEUP e APQuímica
CONFERÊNCIA 7
Março de 2021
Marketing with Purpose
Carcavelos, Nova School of Business & Economics
CONFERÊNCIA 8
Abril de 2021
Futuro das Medicinas e Temas Centrais de Vida: Envelhecimento, Estilos de Vida, Ética
Lisboa, NOVA Medical School | FCM
CONFERÊNCIA 9
Abril de 2021
Inovação e Processo Criativo
Guimarães, Universidade do Minho
CONFERÊNCIA 10
Maio de 2021
Envelhecimento e Temas Tecnológicos Associados
Coimbra, Universidade de Coimbra, Faculdade de Medicina
CONFERÊNCIA 11
Maio de 2021
Patrimónios Fabris e Requalificação Urbana
Barreiro, Universidade Autónoma de Lisboa
CONFERÊNCIA 12
Junho de 2021
Envelhecimento, Tecnologia e Isolamento
Viseu, Instituto Politécnico de Viseu, Instituto Piaget e Universidade Católica Portuguesa
CONFERÊNCIA NACIONAL
Junho de 2021
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian
Outra iniciativa da Fundação Amélia de Mello é a criação dos Prémios Alfredo da Silva, que contam com a parceria de instituições como a COTEC – Associação Empresarial para a Inovação –, o BCSD – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável – e a Nova SBE – Nova School of Business and Economics. O objetivo é distinguir e apoiar a realização de projetos de investigação científica avançada em três áreas: Alfredo da Silva e o empreendedorismo; Inovação tecnológica, mobilidade e indústria; Sustentabilidade dos sistemas de saúde.
Os projetos vencedores vão arrecadar 25 mil euros, sendo os destinatários investigadores das universidades e institutos politécnicos do país.