A secretária executiva da Aliança de Líderes Africanos Contra a Malária (ALMA) disse esta quinta-feira que a Covid-19 é uma “ameaça real” à luta contra a malária, estimando que a pandemia faça duplicar as mortes por esta doença em 2020.
Foram feitos progressos significativos, com 93 milhões de casos de malária e 500 mil mortes evitadas todos os anos, mas o progresso estagnou. A pandemia de Covid-19 é uma ameaça real à luta contra a malária e tem o potencial de frustrar e fazer regredir os progressos alcançados”, afirmou Joy Phumaphi.
A responsável da ALMA, que falava esta quinta-feira numa iniciativa online para assinalar os dois anos do lançamento da campanha “Zero Malária”, promovida pela organização sem fins lucrativos Speak Up África, citou dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), que estima que, no pior cenário, os efeitos do novo coronavírus poderão fazer duplicar as mortes por paludismo em 2020.
Em 2020, 27 países representam 85% dos casos de malária e, apesar de a maioria estar a conseguir manter os seus programas de luta contra a doença, Joy Phumaphi adiantou que os esforços estão a ser afetados pela redução do acesso aos serviços de saúde.
Por isso, defendeu, a mobilização para a luta contra a malária “é hoje mais crítica do que nunca” para atingir o objetivo de erradicação da doença em África até 2030.
“Apelamos aos governos para que a malária se mantenha destacada nas agendas políticas”, disse Phumaphi, sublinhando, por outro lado, a importância de, numa altura em que todas as atenções estão voltadas para a Covid-19, mobilizar as populações, os doadores internacionais e o setor privado para o apoio à campanha “Zero Malária, começa comigo”.
Durante o evento, foi lançada uma nova campanha com o objetivo de envolver as empresas, empresários e gestores do setor privado na luta contra a malária.
O novo programa “Zero Malária, Compromisso Empresarial”, que junta o Ecobank, a Speak Up África e a Parceria para a Erradicação da Malária (RBM), pretende encorajar os decisores do setor privado a aumentarem o financiamento da luta contra a malária e a adotarem práticas mais direcionadas para eliminar a doença.
“A longo prazo, a eliminação da malária aumentará a prosperidade em toda a África ao promover uma mão-de-obra mais saudável que pode estimular o crescimento económico”, salientou Paul-Harry Aithnard, diretor do Ecobank para a região da União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA)
A OMS estima que sejam necessários mais de 10 mil milhões de dólares para implementar estratégias nacionais de controlo do paludismo em 30 países africanos durante os próximos três anos.
Apesar dos reconhecidos esforços dos países, o financiamento do controlo do paludismo continua a ser um desafio, sendo necessários mais 2 mil milhões de dólares por ano para proteger todas as populações em risco.
“Se quisermos acabar com o paludismo nesta geração, é crucial que aumentemos o financiamento para proteger todas as pessoas em risco”, defendeu, por seu lado, Abdourahmane Diallo, diretor executivo da RBM.
De acordo com este responsável, o compromisso empresarial com a campanha contra a malária “apresenta ao setor privado uma oportunidade única de se juntar à luta”.
Aumentar o empenho e as contribuições do setor privado significa mobilizar pessoas e recursos para livrar de uma vez por todas o continente africano do paludismo”, sublinhou.
A comissária da União Africana para os Assuntos Sociais, Amira Mohammed Elfadil, que enviou uma mensagem para o evento, classificou esta nova campanha como “um passo fundamental para o envolvimento crescente do setor privado africano”.
A luta contra a malária continua a ser um dos maiores desafios do nosso continente. Esperamos que outras organizações se juntem ao movimento para apoiar esta causa”, frisou.
A diretora executiva da Speak Up África, Vacine Chibo, defendeu que todos têm um papel a desempenhar na eliminação do paludismo, considerando “essencial o envolvimento do setor privado”.
“O grupo Ecobank é um líder a trazer mais parceiros e recursos. Juntos, ao criar uma forte rede de ação, podemos fazer da eliminação da malária uma prioridade política”, concluiu.
Transmitida através da picada de mosquitos, a malária, também conhecida como paludismo, mantém-se como uma das doenças mais mortais em África, sendo responsável por quase meio milhão de mortes anualmente.
A doença está presente em todos os países africanos lusófonos, com Moçambique a concentrar o maior número de casos e mortes, seguido de Angola e Guiné-Bissau.
Próximos da erradicação da doença estão Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 516 mil mortos e infetou mais de 10,71 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.