Santa Clara e Marítimo não chegavam à Cidade do Futebol com muitos pontos em comum, incluindo tudo o que se passou durante a pandemia onde sendo as duas únicas equipas insulares na Primeira Liga tiveram decisões quase opostas em relação à melhor forma de terminar a prova (com os açorianos a decidirem logo que viajariam para o Continente e ficariam por cá em estágio, enquanto os madeirenses bateram para o pé para fazerem os seus jogos no Funchal). E também em termos táticos e estratégicos eram diferentes. Havia ainda assim algo que os unia nesta fase recente do Campeonato: as vitórias frente ao Benfica e o que significaram para os seus objetivos.
“Vamos conquistar a melhor classificação de sempre do Santa Clara e, para isso, este jogo é para nós extremamente importante. Porque é um jogo na nossa casa, emprestada, mas é a nossa casa. O Marítimo vem à procura da estabilidade na tabela classificativa e o Santa Clara à procura da melhor classificação possível nesta fase da época, em que não estamos a olhar para trás. É isso que nos dá segurança também para abordar o jogo de forma bastante positiva, até porque queremos dar uma resposta rápida àquele jogo menos conseguido que tivemos no Bessa, ainda por cima sem pontos. Os jogadores do Santa Clara sabem que cada jogo tem a sua história e frente ao Marítimo vai ser complemente diferente”, referiu no lançamento João Henriques, técnico do Santa Clara.
“Temos de estar focados e não pensar que, por já termos feito isto [ganhar ao Benfica], as coisas vão acontecer naturalmente e que os pontos vão cair no nosso bolso. Temos que lutar muito para que os pontos fiquem connosco e não podemos pensar que com o Santa Clara vai ser tudo fácil. As coisas não funcionam assim nem me sinto mais confortável. Estou muito confiante mas não estou mais confortável e não estou mais confiante agora do que estava no início da retoma nem do que estava antes do jogo com o Benfica. Estarei confortável quando, matematicamente, estiver na posição que garanta o que nós queremos”, disse José Gomes, treinador do Marítimo.
No final, o balão do Marítimo teve muito mais gás do que o do Santa Clara, que já perdera algum ar na deslocação ao Bessa. Pela segunda vez na presente temporada os insulares conseguiram somar dois triunfos consecutivos e, com 35 pontos, colocaram-se numa posição bem mais confortável na tabela classificativa, naquele que foi também o segundo jogo seguido sem sofrer golos desde que Amir rendeu Charles na baliza. Ao contrário do que aconteceu com o Benfica, onde já levava cinco defesas nos 20 minutos iniciais, o iraniano esteve menos em jogo mas quando foi preciso cumpriu. Lá na frente, Rodrigo Pinto acertou no poste e viu Marco defender mas nunca conseguiu o golo que lhe desse o prémio de MVP. E acabou por ser Xadas, médio emprestado pelo Sp. Braga, a entrar em campo para fazer o único golo do encontro num livre lateral na direita em arco que não sofreu qualquer desvio.
O encontro começou com intensidade. Ou melhor, Mamadu Candé começou cheio de intensidade, tendo visto logo aos dois minutos o primeiro amarelo por uma entrada sobre Bambock a meio-campo. De resto, com mais ou menos intensidade, o jogo foi sobretudo marcado por um arranque com pouca qualidade, muitos (demasiados) passes que foram sendo falhados e intervenção aqui e ali do vento forte que soprava em Oeiras e que condicionava qualquer exploração da profundidade que fosse feita, confirmando-se assim a mesma expressão tática do Marítimo no que toca ao jogo com o Benfica mesmo perante um ataque do Santa Clara só com uma unidade na frente. Zainadine, num cabeceamento após canto ao segundo poste que saiu torto, teve a única tentativa de visar a baliza.
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Os açorianos tentaram depois ter outra qualidade ofensiva, Carlos Júnior ainda teve um outro pormenor a fazer a diferença sem consequência, Thiago Santana mostrou-se mais ao jogo mas foram os madeirenses a controlar mais o jogo e a terem no último quarto de hora as duas únicas grandes oportunidades até ao intervalo, ambas em lances de bola parada: primeiro, no seguimento de um canto, René Simões desviou de cabeça para Rafael Ramos tirar em cima da linha com Marco batido e, na recarga, Rodrigo Pinho a acertar na pequena área no poste (34′); depois, e no seguimento de um lançamento lateral de Pelágio, o avançado subiu mais alto do que os centrais contrários e conseguiu cabecear para grande defesa de Marco para canto (41′). De bola corrida, o perigo era nulo.
A irregularidade exibicional chegou também ao vento, que se na primeira parte estava a favor do Marítimo, na segunda manteve também essa tendência. No entanto, e logo a abrir, o Santa Clara conseguiu ter a primeira boa saída ofensiva, com Osama Rashid a romper de trás, a receber nas costas da defesa contrária a bola vinda do lateral Rafael Ramos e a rematar para (a primeira) defesa segura de Amir (48′). Na resposta, e aproveitando uma boa zona de pressão ofensiva aproveitando um erro de Marco a sair a jogar com os pés, Correa surgiu em boa posição, puxou para o pé esquerdo mas acabou por rematar em zona central para o guarda-redes dos açorianos (54′).
Com vários jogadores em subrendimento e uma equipa longe daquilo que já conseguiu mostrar esta temporada, João Henriques começou a mexer na equipa. Saiu Costinha, entrou Diogo Salomão, mudou as características do ala à direita. Saiu Anderson Carvalho, entrou Lincoln, mudou o jogo da equipa. Aliás, nas três primeiras vezes em que tocou na bola houve outros tantos lances de perigo: iniciou a jogada que teve uma variação larga de Osama Rashid para Carlos Júnior fazer a diagonal e disparar um míssil à trave (58′); marcou um livre largo para João Afonso cabecear para defesa de Amir, que evitou ainda com o pé a recarga de Thiago Santana (61′); tentou também ele o remate, que desviou num adversário e saiu para canto (63′). O Santa Clara parecia outro mas foi curto.
O Marítimo recuperou o comando do encontro, voltou a conseguir condicionar a construção dos açorianos e chegou mesmo ao golo pouco depois por Xadas, que acabado de entrar marcou na direita um livre lateral em arco (uns metros à frente de onde tinha sido a falta) que não sofreu qualquer desvio e acabou mesmo por entrar na baliza de Marco, perante os protestos por uma falta de Zainadine sobre Francisco Ramos que nem Carlos Xistra nem o VAR decidiram sancionar. E até acabariam por ser os madeirenses a beneficiar das melhores oportunidades a partir do 1-0, incluindo uma em que Zainadine, num canto, viu Rafael Ramos evitar em cima da linha antes de Cryzan, avançado lançado por João Henriques, afastar o perigo da área dos açorianos evitando males maiores.