À porta da Associação das Cozinhas Económicas, na Baixa de Coimbra, onde esteve a distribuir refeições aos que ali ocorrem porque viram a pobreza agudizar-se com a pandemia, Marcelo Rebelo de Sousa quis deixar claro aos portugueses que a crise económica e social é profunda, não tem fim à vista e pode estender-se “até 2022 e 2023”. Impressionado com o número de pessoas que passaram pelo refeitório social, falou dos novos sem-abrigo, portugueses e emigrantes que até há bem pouco tempo conseguiam subsistir, e que agora “têm teto mas já não têm dinheiro”. “É gente muito nova, trabalhadores precários, estudantes e até classe média”.
Um cenário dramático, a condizer com a atividade económica do país, que se está a “afundar“, (visível através da queda do PIB, como recorda o Presidente, que chegou a estar abaixo dos 6% mas que agora se situa nos 9,5%, segundo o Banco de Portugal) ao mesmo tempo que o prolongamento da pandemia “implica o aumento das despesas sociais e sanitárias”.
Uma combinação letal que empurra as previsões económicas e financeiras da segunda metade deste ano, para níveis “piores do que se pensava”. Mais um alerta de Marcelo Rebelo de Sousa que, em relação à meta do défice para 2020 – que foi revista pelo Ministro das Finanças, João Leão, para os 7% – disse traduzir “a crise brutal que já começámos a viver e vamos viver”.
O discurso pôs fim às dúvidas que esta crise é passageira mas as questões à volta da sua reeleição permanecem: “Sou Presidente da República e não candidato presidencial. Vou continuar assim até ao final de novembro, e depois logo verei o que faço”, acrescentando, ainda, que até à convocação das eleições, o que os portugueses querem é um Presidente que acompanhe a pandemia, “porque é isso que os preocupa”, assim como a crise económica e social, “e não um candidato presidencial”. E dessa forma, relativizou o facto da mais recente sondagem presidencial atribuir 65% dos votos.
Sobre a situação epidemiológica no país, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que há evoluções diversas nas sociedades, “umas que apresentam números que lhes permite, de forma unilateral, impor limites à entrada e saída dos seus nacionais em visitas ao estrangeiro” – e outras, como é o caso da portuguesa, optam por não “retaliar”, porque “toda esta situação muda muito, não vale a pena olhar para realidade de forma estática”.
Assumiu, no entanto, que há um surto localizado na periferia de Lisboa, mas “nem cobre a maioria dos concelhos na Grande Lisboa” e, também, não tem “provocado stress no SNS”.