As condições laborais dos profissionais da geologia em Portugal são marcadas pela precariedade dos vínculos contratuais e pelos baixos vencimentos, denuncia o novo presidente da Associação Portuguesa de Geólogos (APG), Luís Lopes. O Presidente espera avançar com a constituição da ordem profissional até ao final do mandato, em 2022, com vista ao maior reconhecimento social e à regulamentação da atividade da classe.
“Ninguém vai para a geologia para ficar rico, mas o que acontece nesta área é o que, infelizmente, acontece depois na maior parte dos outros cursos. O trabalho é precário e somos muito mal pagos. A situação da geologia é um reflexo da sociedade portuguesa”, refere o geólogo e professor da Universidade de Évora, em entrevista à Lusa.
O líder da APG, que regista atualmente cerca de 600 associados – apesar de os profissionais do setor em Portugal representarem três a quatro vezes esse número -, vinca ainda mais o paradoxo da realidade nacional neste setor com o exemplo do Reino Unido, onde “o curso que forma os profissionais mais bem pagos, visto a uma escala global, é o curso de geologia no Imperial College” de Londres.
Por outro lado, Luís Lopes lamenta as “confusões” com profissionais de outras áreas, como arqueologia ou biologia, e deixa críticas ao que considera ser uma desvalorização recorrente do trabalho dos geólogos nos mais diversos projetos.
“Não raras vezes o geólogo é convidado a dar o seu parecer a um estudo quando este está praticamente fechado e tem de ser entregue, mas não estava em conformidade porque faltava o parecer de um geólogo. E isso acontece mais por imposição das normas e não porque se poderia ganhar com isso”, sustenta.
Contudo, o geólogo e docente universitário reconhece também que há espaço para um “mea culpa” da APG no que toca à falta de reconhecimento social dos seus profissionais, assinalando que esta é uma das áreas à qual o organismo vai dedicar mais atenção no mandato, que começou há cerca de duas semanas e termina em 2022.
Paralelamente, Luís Lopes explica ainda que a atividade dos geólogos não é imune a fenómenos considerados globais, nomeadamente, a atual pandemia de Covid-19 ou as próprias alterações climáticas.
“De forma direta, grande parte dos geólogos faz o seu trabalho no campo e com o confinamento devido à covid-19 não foi possível exercer o trabalho no campo”, nota. Já sobre a questão ambiental, o presidente da APG lança um aviso: “Não se pode duvidar de que o Homem tem uma ação sobre o ambiente. Se não respeitarmos a Terra, ela vai responder de forma a que se torne insustentável a vida do Homem no planeta”.
Luís Lopes espera criar uma Ordem até 2022
Em entrevista à Lusa, o geólogo e professor da Universidade de Évora, de 55 anos, assume que o projeto de criação de uma Ordem dos Geólogos “é uma luta antiga” e “um processo que já vem de trás”, mas que enfrenta uma reduzida sensibilidade da população para a importância do trabalho dos profissionais de geologia.
“O principal objetivo de nos constituirmos como Ordem tem a ver com o reconhecimento da profissão. Sabemos que o caminho não é fácil, mas é o nosso objetivo e a nossa esperança. Enquanto não formos reconhecidos institucionalmente como Ordem, não podemos regulamentar a atividade”, afirma, sublinhando: “Enquanto isso não acontecer somos apenas uma associação, que pode dar orientações, mas não tem qualquer poder jurídico”.
As comparações com o “peso político” de outras classes profissionais que dispõem das respetivas ordens, como os advogados ou os médicos, é outro argumento invocado para defender a necessidade de dar esse passo entre os geólogos. E nem o reduzido número de profissionais (entre 2.000 e 3.000 no país) deve servir de entrave à sua formalização.
Luís Lopes admite que as reuniões realizadas pela APG no passado com diferentes grupos parlamentares na Assembleia da República ainda não se traduziram num reconhecimento a nível governamental e que, por isso, não houve uma “resposta ou demonstração de recetividade” em relação à constituição da Ordem.
“Ouvem-nos, mas o resultado tem sido inconsequente. Somos pela exploração sustentável dos recursos e por uma utilização responsável do território. É incompreensível que num país tão pequeno não tenhamos a geologia toda publicada a uma escala intermédia (1 para 50.000), que nem é detalhada, mas já permite alguma gestão do território. Se não soubermos o que temos, não podemos orientar para a utilização mais adequada do espaço”, explica.