O verão, o sol e o bom tempo pedem um bom peixe nas tardes e noites mais quentes. E é no Centro de Portugal que vai encontrar os melhores peixes e os melhores pratos de peixe. Desde a raia à lampreia, passando pelo ensopado de enguias, opções saborosas não faltam. Vamos a isso?

Peniche

Que esta é uma terra de pescadores não restam grandes dúvidas. Não só uma das suas principais artérias se chama Avenida do Porto de Pesca como, nas horas de descanso, é possível ver, ao longo da doca, inúmeras embarcações ali atracadas. E estar na lota de Peniche no momento em que essas — e outras — embarcações chegam da faina e descarregam a matéria-prima para o leilão diário é uma experiência única, tal a riqueza das águas da região. A caldeirada, um dos pratos emblemáticos de Peniche, é espelho dessa riqueza: manda a tradição que seja preparada com os peixes que mais povoam as suas águas, como o pata-roxa, o safio, a raia ou o tamboril, entre alguns outros. Nalguns pontos da cidade também ainda se encontra quem venda o peixe seco ao sol — quando o tempo o permite, isto é — um método de conserva tradicional que nos habituámos a associar apenas ao bacalhau mas que aqui serve para garantir que outros peixes, como cação ou abrótea, mantêm todas as suas propriedades. Aproveite, claro, para saborear as sardinhas assadas em Peniche – não se vai arrepender.

Óbidos

A cerca de 80 quilómetros de Lisboa encontramos a vila de Óbidos. Se alguma vez a visitar, tem de experimentar a caldeirada de peixe e as enguias fritas. A Lagoa de Óbidos é o sistema lagunar mais extenso da costa portuguesa e faz ligação com o mar através de um canal chamado de “aberta”. É nela que entram muitas espécies de peixe que fazem da Lagoa um viveiro e é ela que tem as famosas enguias de Óbidos. O ensopado de enguias é um dos pratos mais típicos da vila e faz as delícias de quem está à procura de um prato de peixe que seja diferente daqueles a que estamos habituados. Já que está nesta zona, aproveite para provar o famoso lingueirão, regado de coentros e limão, perfeitos para um final de tarde solarengo e em boa companhia.

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Infografia: Teresa Dias Costa

Nazaré

O mediatismo que as grandes ondas da Nazaré ganharam nos últimos anos vieram redobrar a admiração pela coragem dos pescadores locais que as enfrentam diariamente para trazer para terra o seu sustento, o peixe. E que belo peixe é o da Nazaré, a começar nas afamadas sardinhas, que este ano se pescam entre 1 de junho e 31 de julho. Quanto mais tarde, melhor: não é por acaso que o ditado diz “em Agosto, sardinhas e mosto.” A caldeirada nazarena também é tradição antiga — como acontece, aliás, na maioria das vilas e cidades piscatórias. Se começou por se fazer com o peixe miúdo que era o quinhão das tripulações, hoje já leva espécies mais nobres, como o cação ou o tamboril. As massadas de peixe, com robalo e/ou sargo, têm igualmente lugar cativo nas ementas. E, tal como acontece em Peniche, o peixe seco é tradição na Nazaré: é possível, junto ao Centro Cultural, observar as peixeiras das sete saias junto ao seu “estindarte”, o nome que dão ao estendal onde colocam a secar carapaus, batuques, petingas, polvos e outras espécies que existem com fartura nestas paragens.

Ria de Aveiro

No que ao peixe diz respeito, a água doce e a salgada partilham importância na zona de Aveiro, ou não fosse ela marcada pela sua Ria, a belíssima laguna que é, também, a foz do Rio Vouga. Sem ria não se conseguiria, por exemplo, ter lampreia e sável nas devidas épocas — de fevereiro a abril para a lampreia, a partir de março para o sável, espécies que são sabiamente confecionadas em restaurantes da zona, que fazem chamariz da lampreia à bordalesa e do sável frito com açorda de ovas. E é também a ria que permite que proliferem as enguias, tão importantes para um dos ex-libris gastronómicos aveirenses, sobretudo na zona da Murtosa, a caldeirada de enguias. As douradas, robalos e linguados  que existem por ali em grande número fazem o gáudio dos pescadores que se acumulam nos molhes durante o verão. E não se pode falar da região da Ria de Aveiro sem mencionar o bacalhau. Já as receitas, essas, perduraram no tempo e são iguarias únicas, como o bacalhau assado, as caras, línguas e buchos de bacalhau ou a feijoada de samos.

inúmeros bacalhoeiros, de onde eram lançados ao mar pequenas embarcações de um tripulante (os dóris), numa epopeia que pode ser admirada no Museu Marítimo de Ílhavo. Ainda hoje é nesta região que se concentra a maioria das fábricas transformadoras do fiel amigo. Já as receitas, essas, perduraram no tempo

Região de Coimbra

A região de Coimbra é terra de chanfana, de leitão da Bairrada (este último também uma especialidade na Ria de Aveiro), mas é também a terra da lampreia, mais especificamente ao arroz de lampreia. Não é um peixe muito bonito mas é muito saboroso e é em Coimbra que vai conseguir perceber todo o sabor que este peixe traz aos pratos que são confecionados com ele. Até há um festival dedicado a este prato em Penacova e Montemor-o-Velho: o festival do Arroz da Lampreia. Num dia calmo, passeie por estes locais, conheça a melhor arte urbana presente nela, conheça a história de Portugal nesta cidade imponente e, no final, não se esqueça de levar um pouco do sabor da região através do arroz de lampreia. A melhor altura para comer este “bicho feio” é até abril, portanto, aponte na agenda e não se esqueça de provar esta iguaria.

Ainda em Coimbra, explore a Figueira da Foz. A licença mais antiga da arte xávega em Portugal é do concelho da Figueira Foz. Apesar de este tipo de pesca de arrasto ter caído em desuso ainda é praticado nalguns concelhos, como Mira. E é um espetáculo bonito de se ver: os barcos de cores garridas vão largar a rede, subindo a maré contra a rebentação das ondas — daí as proas mais elevadas que o normal — e, no regresso, essa rede é puxada com o auxílio de bois ou tratores. O resultado da pescaria exibe-se ali, à vista de banhistas e gaivotas, enquanto pescadores e ajudantes separam o ganho por espécies. Essas espécies não variam muito das restantes zonas costeiras do centro. Variam, porém, alguns métodos de confeção: a raia, por exemplo, é aqui cozinhada com o delicioso molho de pitau, feito à base dos seus fígados. A chora, uma espécie de sopa de bacalhau, a caldeirada de petinga ou o arroz de sardinha são outras receitas piscívoras muito apreciadas e consumidas nesta zona.

Em Mira e Cantanhede, perca-se com os peixes do mar que são ótimos neste verão que já chegou e que pede peixe grelhado, como os carapaus, as sardinhas, as douradas, entre outros que são únicos nesta região, acompanhados com as melhores batatas da terra.

Já sabe: o melhor peixe dá à costa no Centro de Portugal. Conheça a nossa costa e aventure-se nestes pratos que são uma delícia neste verão que já chegou.

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