Os centros de saúde não estão a conseguir atender todos os telefonemas que chegam às centrais porque a pandemia da Covid-19 provocou “uma sobrecarga” e, por isso, o remédio é “insistir”. Foi o conselho do Centro de Saúde de Oeiras ao Público, que relata as dificuldades de um homem em marcar uma consulta naquela instituição, tanto pela internet como por via telefónica.
Estas falhas de comunicação parecem refletir-se nos números das autoridades de saúde. De acordo com a Ordem dos Médicos (que só leva em conta o número de consultas presenciais), houve uma quebra de três milhões de consultas nos centros de saúde entre março em maio, em comparação com o mesmo período do ano passado. O Ministério da Saúde fala de menos 1,1 milhões de consultas, presenciais ou não, nos cuidados de saúde primários.
Mas o problema dos contactos à distância com os centros de saúde existe desde muito antes do aparecimento do novo coronavírus. Em 2018, Fernando Araújo, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, anunciava à Lusa que os telefonemas para centros de saúde que não pudessem ser atendidos seriam encaminhados para uma central.
Fernando Araújo defendeu que esta é “uma necessidade básica e não está cumprida” e que “não é adequado alguém ligar e ninguém atender”. Mas em declarações ao Público, Diogo Urjais, presidente da associação nacional das Unidades de Saúde Familiares, diz que a pandemia veio agravar um problema que já existia: “O sistema instalado não permite que fique gravado na nuvem que o utente ligou”.
Do lado dos centros de saúde, é a falta de recursos humanos que parece colocar em xeque o atendimento por telefone. Sem telefonistas nestas unidades, as chamadas só podem ser atendidas por secretários clínicos, que apenas conseguem atender até três chamadas em simultâneo, disse Diogo Urjais ao jornal.
Segundo o presidente da associação, “houve unidades que compraram telemóveis com cartões pré-pagos, algumas ARS [administrações regionais de saúde] deram um telemóvel para o coordenador da unidade, foram reativados equipamentos que não estavam a funcionar, mas alguns profissionais trouxeram telemóveis antigos de casa”, contou ao Público.
Rui Nogueira, presidente da Associação Nacional de Medicina Geral e Familiar confirma que “neste momento não temos recursos nem condições para dar respostas a todas as solicitações”. E não só por causa dos problemas apontados por Diogo Urjais, mas também por causa do seguimento que os centros de saúde têm de garantir aos doentes infetados pelo novo coronavírus através da plataforma Trace-Covid.