Eram os últimos metros da primeira etapa do Tour da Polónia. Fabio Jakobsen e Dylan Groenewegen, dois holandeses, estavam lado a lado no sprint para chegar à vitória, com uma ligeira vantagem para o primeiro. Mesmo antes da meta, um empurrão de Groenewegen empurrou Jakobsen contra as barreiras, originando um acidente arrepiante que ainda atirou outros três ciclistas para o chão. O jovem de 23 anos foi colocado em coma induzido, operado durante várias horas e não terá lesões cerebrais, apesar do estado grave em que ainda se encontra. Groenewegen, do lado da fora da cama de hospital, está a braços com o maior pesadelo da carreira.
Uma carreira que começou quando o holandês era ainda criança, na cidade em que nasceu, Amesterdão. Recebeu a primeira bicicleta aos sete anos e cresceu numa família muito ligada ao ciclismo, ainda que do lado de fora das pistas: o bisavô abriu uma loja de bicicletas nos anos 20 e o negócio foi continuado pelo avô e depois pelo pai de Dylan. Aos 17 anos, o agora ciclista inscreveu-se num curso profissional de construção de bicicletas e veículos semelhantes, de forma a perpetuar um dia o negócio da família.
Começou o percurso em 2014, ao assinar pela Team Roompot, e no ano seguinte mudou-se para a LottoNL–Jumbo, a atual Team Jumbo-Visma que ainda representa atualmente. Foi o campeão holandês de estrada em 2016 e ganhou quatro etapas da Volta a França nos últimos três anos (uma em 2017, duas em 2018 e outra em 2019). Nunca competiu nem no Giro D’Italia nem na Vuelta e ganhou duas etapas da Volta ao Algarve há dois anos.
Logo depois do acidente e da confirmação da gravidade das lesões de Fabio Jakobsen, o diretor desportivo da Deceuninck–Quick-Step, a equipa do holandês, pediu “prisão” para Groenewegen, numa mensagem publicada no Twitter. Já a Union Cycliste Internationale (UCI), o organismo que regula todo o ciclismo internacional, condenou o “comportamento perigoso” do ciclista, para além de ter anunciado que Dylan Groenewegen foi desclassificado da etapa e a vitória foi atribuída a Jakobsen. “A UCI, que considera o comportamento inaceitável, referiu de imediato o assunto à Comissão Disciplinar para pedir a imposição de sanções compatíveis com a seriedade dos factos”, acrescenta o comunicado.
#TDP2020 | ????♂️???? ACCIDENTADO FINAL de la 1a etapa de la Vuelta a Polonia en Spodek, Katowice. Dylan Groenewegen cerró a Fabio Jakobsen que se estrelló violentamente contra las vallas de protección. ????????????♂️
???? @SenalDeportes pic.twitter.com/Ek7urLEUCt
— Mundo Ciclístico (@mundociclistico) August 5, 2020
A Team Jumbo-Visma, a equipa de Groenewegen, limitou-se a lamentar os factos, anunciou um processo interno de investigação e disse que vai emitir um comunicado oficial nos próximos dias. Mas o ciclista, de forma individual e nas próprias contas nas redes sociais, decidiu quebrar o silêncio. “Odeio o que aconteceu ontem. Não consigo encontrar palavras para descrever o quanto lamento ao Fabio e aos outros que estiveram envolvidos no acidente. Neste momento, a saúde do Fabio é a coisa mais importante. Penso nele constantemente”, lia-se na mensagem do holandês de 27 anos.
Fabio Jakobsen sofreu lesões graves no nariz, na faringe e na laringe, foi submetido a uma cirurgia de cinco horas e permanece em coma induzido, ainda que os responsáveis do hospital onde está internado tenham garantido que o ciclista não sofreu danos cerebrais. “As principais lesões situam-se ao nível do rosto. Felizmente, a visão não foi afetada. O estado de saúde é grave, mas estável”, adiantou o diretor-adjunto do hospital de Sosnowiec, Pawel Gruenpeter, que acrescentou que ainda esta quinta-feira será realizado um procedimento para acordar o holandês do coma.
Fabio Jakobsen had facial surgery during the night. His situation is stable at the moment and later today the doctors will try to wake Fabio up.
More information will be published when available.
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Photo: @GettySport pic.twitter.com/aVK6HakIwk
— Soudal Quick-Step Pro Cycling Team (@soudalquickstep) August 6, 2020