Ainda é apenas um relatório preliminar a aguardar certificação científica, mas um grupo de cientistas reclama ter finalmente provas da existência do novo coronavírus ativo nas gotículas respiratórias, também conhecidas por aerossóis. Os 18 virologistas da Universidade da Florida que assinam a pré-publicação encontraram uma técnica para conseguirem isolar o vírus no ar e vêm dar resposta a uma dúvida que existe até na Organização Mundial de Saúde sobre a capacidade deste vírus que pôs o mundo em estado de sítio se espalhar pelo ar com grau infeccioso suficiente para trasmitir o vírus.
A conclusão já divulgada na MedRxiv (que pré-publica artigos científicos na internet) dita que “pacientes com manifestações respiratórias de COVID-19 produzem aerossóis, na ausência de procedimentos geradores de aerossol, que contêm SARS-CoV-2 viável, e esses aerossóis podem servir como fonte de transmissão do vírus“. O trabalho envolveu uma técnica de isolamento do vírus vivo e da sua coleta no ar por condensação. A recolha foi feita a uma distância de dois e cinco metros de doentes com Covid-19 internados no hospital. Até aqui não tinha sido ainda possível capturar gotículas sem danificar o vírus que nelas poderia estar contido e tirar esta dúvida.
O New York Times explica que a técnica consiste no uso de vapor de água puro para aumentar os aerossóis o suficiente para que possam ser recolhidos facilmente do ar, transferindo-os rapidamente para um líquido rico em sais, açúcar e proteínas que permite preservar o patógeneo.
A técnica foi usada numa enfermaria dedicada exclusivamente a pacientes Covid-19, no Hospital de Shands na Florida, para evitar que outros vírus estivesse no ar e pudessem comprometer a recolha. Além disso, nenhum dos pacientes estava sujeito a procedimentos que geram aerossóis, ou seja, excluiam-se logo à partida outras hipóteses de disseminação rápida do vírus pelo ar. E foi neste ambiente controlado que foram recolhidas amostras, a 2,10 metros e a 5 metros, tendo ambas vírus vivo, capaz de infetar outras células.
John Lednicky, que liderou o estudo, diz ao NYT que o facto de a sala ter boa ventilação (tinha seis renovações de ar por hora) pode explicar que tenham sido encontradas apenas 74 partículas de vírus por litro de ar. O que pode significar que, em espaço fechados mais pequenos, com menos ventilação e cuidados com a qualidade do ar — como escolas –, podem acumular mais vírus transportado pelo ar, avança o mesmo cientista.
Uma conclusão que não é unânime entre especialistas que consideram que o que foi provado não permite afirmar com certeza qual o risco de infeção de uma pessoa com o vírus que é disperso em gotículas pelo ar, já que este pode ficar suficientemente disperso para perder capacidade infecciosa.
Ainda em julho, a Organização Mundial de Saúde veio dizer que “nos últimos dois meses” tinha vindo a considerar “que a transmissão por aerossóis é possível”, embora sublinhasse logo que essa admissão “não é sustentada por evidência sólida ou clara”. A OMS chegou a defender que o único meio de transmissão era através de gotículas expelidas por uma pessoa infetada, que não atingiriam ninguém que estivesse a mais de dois metros de distância. As provas que reclamava não existirem — e que já tinham sido defendidas numa carta que reuniu vários especialistas sobre esta matéria específica — dão agora um novo passo no conhecimento do vírus e nos riscos de espaços fechados, lotados, em que não é possível cumprir a regra número um nesta pandemia: distanciamento físico.
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