No final de julho, pouco depois de o Campeonato acabar, Fábio Martins deu uma entrevista à Rádio Cidade Hoje, a rádio local de Vila Nova de Famalicão. Em conversa, um dos capitães da equipa que ficou à beira de garantir o apuramento para as competições europeias na primeira temporada depois da subida à Primeira Liga falou sobre a campanha brilhante do Famalicão, sobre o treinador e sobre os colegas. Disse que João Pedro Sousa é uma “excelente pessoa” que fez um “grande trabalho”, que Guga é “o mais vaidoso” do plantel e que o campeão FC Porto foi o adversário mais difícil de enfrentar. Para Pedro Gonçalves, reservou dois tópicos.
“O Pedro Gonçalves é o mais nervoso, é chatinho e é muito difícil aturá-lo. É muito chatinho, está sempre a falar dentro de campo, todos os adversários se queixam dele”, disse Fábio Martins, em jeito de brincadeira, sobre o médio de 22 anos. Fábio e Pedro foram dois dos destaques de uma equipa do Famalicão que ficou no sexto lugar na Liga, que durante alguns minutos dos descontos da última jornada esteve apurada para a Liga Europa e que viu um golo do Marítimo adiar o sonho europeu. Uma equipa do Famalicão bem orientada por João Pedro Sousa, que tinha Fábio Martins como líder, Roderick e Centelles como patrões da defesa, Uros Racic como dono do meio-campo e Toni Martínez e Diogo Gonçalves como referências ofensivas. Pedro Gonçalves, na zona intermédia, a ‘8’ ou a ’10’, funcionou como a bússola de uma equipa como um pendor atacante sempre muito vincado – agora, está à beira de se tornar o mais recente reforço do Sporting.
De acordo com informações recolhidas, o acordo está fechado. Os leões pagaram uma verba a ronda os seis milhões de euros mais objetivos por 50% do passe do jogador também conhecido como Pote, faltando apenas as garantias bancárias da operação para haver o anúncio oficial. A possibilidade de haver jogadores no negócio para reduzir a verba envolvida existiu mas caiu por terra. Entretanto, o médio ofensivo, que vai assinar contrato por cinco temporadas, já tem exames médicos marcados, devendo estar na Academia na próxima semana.
Totalmente à vontade no futebol português e dono da braçadeira de capitão em várias ocasiões, era fácil imaginar que Pedro Gonçalves fosse nascido e criado nos escalões nacionais. Mas a verdade é que não é bem assim – e esta foi mesmo a primeira temporada do médio de 22 anos na Primeira Liga. Natural de Chaves, o internacional Sub-20 por Portugal começou a dar os primeiros passos na formação do Desp. Chaves antes de atrair a atenção do Sp. Braga, onde subiu pelas camadas jovens até ao juniores. Foi nessa altura que, em 2015 e com apenas 17 anos, se mudou para Espanha e para o Valencia, onde acabou por completar a formação numa altura em que era Nuno Espírito Santo o treinador da equipa principal. Ficou dois anos, sem nunca se estrear perto dos “grandes” nem pisar o relvado do Mestalla, e rumou ao Wolverhampton em 2017, reencontrando o técnico português.
Em duas épocas em Inglaterra, esteve principalmente ao serviço das equipas de Sub-21 e Sub-23 dos wolves, mas mereceu uma aposta de Espírito Santo na Taça de Inglaterra. Em agosto de 2018, há quase dois anos, entrou na segunda mão de uma eliminatória contra o Sheffield Wednesday, substituindo Elliot Watt por volta da hora de jogo. O Wolverhampton ganhou, numa edição da Taça em que só caiu nas meias-finais com o Watford, e Pedro Gonçalves estreou-se no futebol inglês e na equipa mais portuguesa de Inglaterra.
A adaptação ao país, garante, foi fácil devido ao grande grupo de jogadores portugueses no clube. “Os portugueses juntavam-se muitas vezes e criámos todos uma forte ligação. Falamos diariamente”, contou o jogador há pouco tempo em entrevista ao jornal O Jogo, onde acabou por revelar que desenvolveu uma amizade próxima com Rúben Neves, com quem chegou a viver durante três meses. “Mas raramente falávamos de futebol. Queríamos era jogar PlayStation e jogar futebol no jardim”, recordou Pedro Gonçalves, que dedicou o primeiro golo que marcou pelo Famalicão ao internacional português – para desagrado da namorada. “A minha namorada ficou chateada por causa da amizade tão próxima com o Rúben e então decidi dedicar-lhe [o golo seguinte]. Já estou perdoado”, brincou o jovem jogador.
No verão passado e em conjunto com João Caiado, Pedro Gonçalves mudou-se do Wolverhampton para o Famalicão para reforçar o projeto da equipa recém-promovida à Primeira Liga. Rapidamente se tornou uma das opções iniciais de João Pedro Sousa, acabando a época com sete golos ao longo de 40 jogos em todas as competições e revelando um gosto especial por dificultar a vida aos “três grandes”: marcou ao Benfica na Taça de Portugal e ao FC Porto na jornada inaugural da retoma, ficando em branco com o Sporting apesar de ter sido titular nas duas partidas que deram vitória para o Famalicão.
O acordo entre Sporting e Famalicão está praticamente concluído e a contratação de Pedro Gonçalves está agora presa por detalhes relativos ao valor final da transferência, à duração do vínculo contratual e aos habituais exames médicos. À partida, o jovem médio deve assinar por cinco temporadas e custar um valor abaixo dos sete milhões de euros, num negócio que vai ainda incluir cláusulas por objetivos. Pedro Gonçalves junta-se assim a Antunes e Pedro Porro, lateral esquerdo português vindo do Getafe a custo zero e lateral direito espanhol emprestado pelo Manchester City ao Valladolid (que será de novo cedido), que também já têm tudo acertado para serem reforços de Rúben Amorim. Perto de um acordo total com os leões estão também Feddal, central marroquino de 31 anos do Betis, e Adán, guarda-redes de 33 anos do Atl. Madrid formado no Real Madrid.
As atenções passarão a partir daqui a estar concentradas em dois jogadores: Nuno Santos, ala do Rio Ave, e um avançado em quem os responsáveis verde e brancos depositam grandes esperanças não só em termos desportivos mas também na capacidade que terá de ser “chamariz” para os adeptos. Além de Frederico Varandas, presidente da SAD, e Hugo Viana, diretor desportivo, o Sporting já tem a trabalhar um advogado especialista em Direito Desportivo com a função de ajudar a desbloquear alguns dos processos que continuam estagnados.