Das 1.786 mortes registadas por Covid-19 em Portugal desde o início da pandemia, 688 (ou seja, 38,5% do total das vítimas mortais) foram pessoas que tinham morada em lares, avançou esta quarta-feira a ministra da Saúde, Marta Temido, na habitual conferência de imprensa. Muitos dos utentes, sublinha a ministra, morreram nos hospitais e não nas estruturas residenciais para pessoas idosas.

“Muitos utentes residentes em lares, como é o caso do utente que faleceu hoje [quarta-feira] no Centro Hospitalar do Barreiro/Montijo, faleceram no hospital. É normal que assim seja. Por exemplo, dos 18 óbitos que são identificados como sendo associados ao surto de Reguengos de Monsaraz, só três aconteceram no lar. A maioria das pessoas veio a falecer no hospital”, explicou Marta Temido, voltando a alertar para o facto de se tratarem de “pessoas que tinham como morada uma estrutura residencial para idosos”, não significando que os óbitos tenham acontecido dentro dos lares.

Apesar dos números, Marta Temido sublinhou uma “evolução positiva” na situação em lares de idosos, referindo que há, neste momento, 69 estruturas com casos positivos de Covid-19, correspondentes a 563 residentes de lares e 225 profissionais. Para comparar a evolução da situação, a ministra relembrou os números anteriores: “Chegamos a ter 365 entidades onde havia casos positivos e 2.500 utentes e mais de mil funcionários infetados”. Temido recordou ainda que existem “cerca de 2.500 estruturas residenciais para idosos, com licenciamento” em Portugal, além de “um conjunto de outras estruturas não licenciadas, mas que continuam a ser acompanhadas”.

Já sobre o caso do surto no lar em Reguengos de Monsaraz, onde morreram 18 idosos e há 162 casos de infeção, Marta Temido afirmou que todas as responsabilidades “vão ser apuradas em sede própria” e que o Ministério da Saúde, depois de ter recebido vários documentos e relatórios sobre o lar, “acionou a sua estrutura inspetiva, a Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS), pedindo a avaliação das responsabilidades dos intervenientes na área da saúde”. “Interessa-nos perceber, face aos documentos enviados, quais os aspetos que merecem da nossa parte uma responsabilidade específica, designadamente em termos de procedimentos, mas também em termos de responsabilidades eventualmente disciplinares”, explicou.

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O que falhou no lar de Reguengos? Tudo, diz o relatório da Ordem dos Médicos

Marta Temido avançou que os documentos foram enviados ao Ministério da Saúde e remetidos para a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS): o relatório da Ordem dos Médicos, uma avaliação realizada pela Saúde Pública Regional e também uma pronuncia que foi pedida pelo gabinete do secretário de Estado sobre o documento da Ordem à Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo e à Direção-Geral da Saúde. E alerta: a tutela “compreende e acompanha a sensibilidade que se gera em torno desta situação”, mas “não vai fazer mais comentários sobre esta temática e deixar as entidades que têm competências nesta matéria fazerem a avaliação”.

Bebé de quatro meses é a vítima mais nova em Portugal

Esta quarta-feira foi também registada a vítima mortal mais nova até ao momento em Portugal: uma criança de quatro meses que “tinha outras condições associadas”. A criança morreu no Centro Hospitalar de Lisboa Central. A diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, revelou que a criança foi infetada por “transmissão familiar” e que tinha de nascença “uma cardiopatia congénita”.

A infeção com o novo coronavírus “levou a um agravamento desta patologia” e ao aparecimento “de uma consequência cardíaca que é muito descrita internacionalmente nos casos muito graves, uma miocardite.” A causa de morte final, acrescentou a diretora-geral de Saúde, foi um choque séptico mas a “codificadora da DGS mais reputada (tem formação dada pela OMS)” classificou a morte da bebé como sendo “um óbito por Covid”.

“DGS elencou uma série de parâmetros que precisa de conhecer” para a Festa do Avante

Sobre a realização da Festa do Avante, Graça Freitas referiu que a Direção-Geral de Saúde que está decorrer uma “ampla conversação” com os promotores do evento, tendo já sido pedidos “documentos técnicos que permitam apreciar com rigor e de forma objetiva como é que está previsto que o evento decorra”, tendo em conta a situação da pandemia de Covid-19.

Os trabalhos de preparação deste evento, acrescenta, são “de rigor e de minúcia e que implicam da parte das várias estruturas envolvidas uma ampla conversação”, à semelhança do que já foi feito em outros eventos.

A DGS elencou uma série de parâmetros que precisa de conhecer para se poder pronunciar, à semelhança do que já fez no passado. Costumamos pedir à entidade promotora de um determinado evento que nos faça chegar um plano de contingência e que nos descreva um determinado conjunto de procedimentos”, esclarece Graça Freitas.

Há 152 surtos ativos em Portugal

No início da conferência de imprensa, a ministra da Saúde revelou que há, neste momento, 152 surtos de Covid-19 em Portugal, de acordo com o último levantamento feito pela Direção-Geral da Saúde. Deste número total de surtos, 44 foram registados no Norte, seis no Centro, 74 em Lisboa e Vale do Tejo, 15 no Alentejo e 13 no Algarve.

Já relativamente ao surto de Covid-19 em Mora, Marta Temido informou que foram registados 49 casos positivos, “todos com cadeias de transmissão identificadas”, estando cinco pessoas internadas no Hospital de Évora. “Apesar da sensação de dificuldade”, a ministra da Saúde fala no “cumprimento exemplar das regras”. Já em Montemor-o-Novo, outro concelho do Alentejo que registou surtos de Covid-19 e que ativou o Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil, há 28 casos, tendo sido testadas mais de 250 pessoas.