O Ministério da Justiça da Bolívia acusou o ex-Presidente daquele país, Evo Morales, de ter violado uma menor de idade enquanto ainda governava. A suposta vítima, Noemí Meneses Chávez, tem atualmente 19 anos e é namorada de Evo Morales, com quem vive na Argentina, onde Morales está exilado.

“O Ministério da Justiça apresentou uma denúncia contra Juan Evo Morales Ayma pelos crimes de violação e tráfico de pessoas, em virtude dos áudios e das imagens tornados públicos da senhora Noemí M., que já é maior de idade”, afirmou o vice-ministro da Transparência da Bolívia, Guido Melgar. “De acordo com a informação que nos chegou, a senhora acompanhava Juan Evo Morales a todo o lado quando este era Presidente.”

Para já, apenas o Ministério da Justiça tomou a posição de acusar Evo Morales. A Procuradoria-Geral ainda não avançou contra o ex-Presidente e ainda não confirmou nem desmentiu à imprensa boliviana se pretende ou não mover um processo contra ele.

A acusação do Ministério da Justiça foi formalizada depois de o jornal espanhol OK Diario ter escrito, a 9 de agosto, que as autoridades bolivianas já estavam a investigar uma alegada relação amorosa entre Evo Morales e Noemí Meneses Chávez. Como meio de prova, as autoridades tinham na sua pose várias fotografias em que o ex-Presidente e aquela jovem estão juntos. De acordo com o relatório da investigação a que aquele jornal teve acesso, Noemí Meneses Chávez tinha 14 anos quando a relação entre os dois se iniciou.

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Nesse relatório, é referido um vídeo em que Noemí Menses Chávez dá os parabéns a Evo Morales e, nele, denuncia a duração da relação mantida pelos dois: “Desejo-te um feliz aniversário. Para o mês que vem estaremos juntos. Temos uma trajetória de cinco anos juntos. Sou uma sortuda por ter-te. Amo-te muito”.

De acordo com o código penal boliviano,qualquer relação sexual entre um adulto e um menor de 18 anos é considerada uma violação, mesmo que haja consentimento por parte deste último. É um crime punido por uma pena que pode ir dos 3 aos 6 anos de prisão.

O ex-Presidente da Bolívia tem guardado silêncio desde que este caso  e a investigação em torno dele vieram a público. “Não tenho nada a comentar, inventam de tudo e eu não falo dessas coisas”, disse ao OK Diario. Apesar de ser um assíduo utilizador do Twitter, nem ali Evo Morales comentou o caso.

Em julho, Evo Morales foi formalmente acusado por crimes de terrorismo e financiamento de terrorismo, por alegado envolvimento com grupos de cocaleros (agricultores do setor das folhas de coca, geralmente indígenas e pró-Morales) que estiveram na origem de várias manifestações e ações violentas.

Eleições marcadas para outubro e novembro

Evo Morales está atualmente exilado na Argentina, depois de uma passagem prévia pelo México. Em novembro de 2019, depois de umas eleições que foram consideradas fraudulentas pela Organização de Estados Americanos, e que poderiam levá-lo a um quarto mandato (apesar de em 2016 essa possibilidade lhe ter sigo negada em referendo), Evo Morales recebeu a “sugestão” do exército para que se afastasse.

A sua saída do país levou a que a segunda-vice-presidente do Senado, Jeanine Áñez, se tornasse na Presidente interina da Bolívia com o objetivo de convocar eleições. Aquela mudança, porém, não foi bem recebida pelos apoiantes de Evo Morales, maioritariamente indígenas. Por outro lado, a população católica, mais urbana e de classe média, viu na ascensão de Jeanine Áñez um regresso a uma política mais conservadora. “A Bíblia voltou ao Palácio”, proclamou a presidente interina quando tomou posse.

Enquanto isso, as eleições que Jeanine Áñez tinha como função convocar têm tardado. No início do ano as eleições chegarm a estar agendadas para 3 de maio, mas tiveram de ser adiadas por causa da pandemia da Covid-19. Já em agosto, foram fixadas duas novas datas: 18 de outubro para a primeira volta e, caso seja necessária uma segunda, 29 de novembro.

A atual Presidente interina já anunciou, em janeiro, que será candidata às eleições presidenciais — isto depois de ter garantido até aí que não o faria. Já o ex-Presidente Evo Morales está impedido de concorrer.

Bolívia. “Agora sim, guerra civil”?