O último Grande Prémio da Áustria ficou muito resumido na KTM ao acidente que levou à desistência de Miguel Oliveira e Pol Espargaró. Na verdade, quase se resumiu apenas isso. O resto, durante a semana, foi história: round 1, round 2, round 3 e a perceção que as coisas não ficaram resolvidas a 100% entre os pilotos depois da entrevista onde o português colocou em causa a inteligência emocional do espanhol em determinados momentos da corrida. No entanto, houve mais pontos de relevo nessa quarta prova do Mundial de 2020. Que se voltaram a ver agora.

Round 3 do acidente na Áustria: Oliveira tenta apaziguar com “conselho”, Espargaró acusa português de “falta de respeito”

O que ficou da primeira corrida no Red Bull Ring de Spielberg? 1) se não fosse a bandeira vermelha mostrada após o violento acidente entre Franco Morbidelli e Johann Zarco e/ou a troca de pneus quando os pilotos fizeram aquela paragem enquanto a pista era limpa, muito dificilmente Espargaró não tinha acabado no pódio e Oliveira não tinha registado o melhor resultado no MotoGP; 2) em prova, até com algumas nuances como os diferenciais do português no terceiro setor, as KTM (as de fábrica ou as satélite, a Tech3 do piloto de Almada e de Lecuona) não ficaram a dever nada às restantes; 3) depois da opção da equipa em colocar pneus usados em Espargaró depois da paragem, o espanhol, que liderou a corrida, caiu a pique e era uma questão de tempo até ser ultrapassado por Oliveira; 4) até com uma qualificação má, Brad Binder teve andamento para chegar ainda ao quarto lugar.

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Mais uma semana, mais uma corrida no mesmo local com a designação de Grande Prémio da Estíria, mais uma demonstração do bom momento da KTM a dois níveis: Pol Espargaró conseguiu os melhores tempos nos treinos livres e alcançou mesmo a pole position, Miguel Oliveira esteve sempre entre os seis primeiros nos treinos livres e falhou por uma posição a entrada na segunda linha da grelha, sendo que pelo meio voltou a haver um momento de alguma tensão entre os dois pilotos que não passou ao lado da própria organização do MotoGP. Juntando a isso o andamento de Taakaki Nakagami com uma Honda de 2019 que lhe valeu o segundo tempo da qualificação, o rendimento das Sukuzi de Joan Mir e Álex Rins e incógnitas como Brad Binder, Fabio Quartararo, Valentino Rossi e Johann Zarco, que depois da fratura do escafóide falhou os treinos de sexta mas fez uma grande sábado apesar de sair da última posição ainda pelo acidente do último domingo, esta era uma das corridas mais aguardadas neste Mundial de 2020 marcado pelo equilíbrio e pela imprevisibilidade.

Round 2 entre Miguel Oliveira e Pol Espargaró com português ao ataque: “Nem todos nascem com a mesma inteligência”

“No cômputo geral, foi um dia positivo. Fizemos uns treinos livres 3 muito bons e também uns treinos livres 4 super bons com um andamento de corrida muito forte. Fui para a qualificação a sentir-me preparado e fiz o meu melhor. Não foi suficiente para chegar às duas primeiras linhas, que era o nosso objetivo. De qualquer forma, é bom começar da terceira linha, melhor do que no último fim de semana e acho que estamos prontos para a corrida amanhã [domingo]”, comentou após a qualificação o piloto português, que não foi além do 18.º lugar num warm up onde Andrea Dovizioso foi o mais rápido e Pol Espargaró ficou-se também pela 11.ª posição.

Grande Prémio da Estíria. Miguel Oliveira termina treinos livres com quarto melhor tempo, Pol Espargaró foi o mais rápido

Muitos holofotes no espanhol, mais uma saída falhada do espanhol: Jack Miller, que estava atrás de Pol Espargaró, saltou para a liderança da corrida, Joan Mir ficou na segunda posição, Nakagami passou também o piloto da KTM depois de dois toques que levantaram “fantasmas” sobre mais uma possível desistência, Miguel Oliveira saiu a tentar evitar qualquer confusão guardando o sétimo lugar até ser ultrapassado ainda na primeira volta por Andrea Dovizioso, que curiosamente tinha colocado o português como um dos candidatos a chegar ao pódio. Lá atrás, Rossi subiu à décima posição e Brad Binder teve uma grande recuperação na classificação.

Ao contrário do que se passou nas últimas corridas, os dez primeiros continuavam muito “agarrados”, com Joan Mir a alcançar a liderança passando Jack Miller, Álex Rins a apertar Pol Espargaró pelo quarto lugar, Binder a subir mais uma posição deixando Miguel Oliveira no nono posto, Fabio Quartararo com duas saídas de pista com trajetórias mais largas que condicionavam o resto da corrida do líder do Mundial, Lecuona a fazer a melhor prova pela Tech3 e Zarco, lá atrás, a correr sozinho contra o tempo e a fazer as voltas mais rápidas da pista. Só na décima volta se começou a ver verdadeiras mudanças em relação ao português, com Binder e Oliveira a passaram Viñales, o português a atacar logo de seguida o sul-africano mas a permanecer na oitava posição.

A meio da prova, as lutas estavam “definidas”: Mir, Miller e Nakagami pelas três posições de pódio; Pol Espargaró e Álex Rins pelo quarto lugar; Dovizioso, Binder e Oliveira entre o sexto e o oitavo posto. Era aqui que se centravam as atenções, foi aqui que se registaram algumas mudanças com Nakagami a ultrapassar Miller quando Joan Mir já tinha uma vantagem confortável na frente e Binder e Oliveira a colocarem Dovizioso no oitavo lugar. Na ótica do português, que estava a 0.9 segundos do sul-africano, ou acontecia algo na frente ou a sétima posição estaria mais ou menos certa até que Maverick Viñales perdeu os travões da Yamaha, saltou da moto, a mesma foi em frente, bateu na proteção e começou a arder e a bandeira vermelha foi mostrada pela segunda corrida seguida.

Joan Mir acabou por ser o mais prejudicado, sendo ultrapassado por Jack Miller, Miguel Oliveira um dos mais beneficiados com uma grande saída para as últimas 12 voltas que o colocou no quinto lugar em luta com Taakaki Nakagami e depois num inédito quarto posto atrás de Pol Espargaró. Binder saltou para o quarto lugar, Oliveira recuperou posição, Dovizioso passou o sul-africano. Emoção era algo que não faltava, com a nuance de Espargaró estar a descolar até ultrapassar Mir, superar e ser superado por Miller e Miguel Oliveira saltar para o terceiro lugar, depois de uma trajetória mais larga de Mir que lhe valia um pódio virtual que nunca tivera em MotoGP. Andrea Dovizioso passou também um Mir em queda livre na classificação, o que colocava o português com outro tipo de desafios na defesa do terceiro posto, mas tudo terminou da melhor forma para o piloto de Almada que assegurou a primeira vitória de sempre no MotoGP: Dovizioso teve uma curva mais larga, Miller e Espargaró andaram picados pela liderança e Miguel Oliveira aproveitou para ultrapassar a concorrência e ganhar a prova.

Com este resultado e os 25 pontos somados, Miguel Oliveira ascendeu ao nono lugar de um Campeonato do Mundo que continua em aberto: tendo um total de 43 pontos, está a um Joan Mir, a dois de Valentino Rossi, a três de Takaaki Nakagami, a cinco de Maverick Viñales e a seis de Brad Binder. As três primeiras posições são agora ocupadas por Fabio Quartararo (70), Andrea Dovizioso (67) e Jack Miller (56). O Mundial tem agora uma paragem de três semanas, regressando no dia 13 de setembro com o Grande Prémio de São Marino.