E se lhe dissessem que em vez de ter de se submeter aos testes de zaragatoa — em que um cotonete com cerca de 15 centímetros é inserido pela fossa nasal dez centrímetros até chegar à rinofaringe — chegaria um teste de saliva para detetar o novo coronavírus? Vários equipas de todo o mundo, incluindo em Portugal, estão a desenvolver métodos que permitam substituir o incómodo das zaragatoas por um único e preciso teste à saliva.

Nos EUA, a Food and Drug Administration (FDA) — a agência reguladora norte-americana dos produtos farmacêuticos e alimentares — autorizou o SalivaDirect, um teste mais rápido e fácil (isto é, menos desconfortável) para detetar o SARS-CoV-2 a partir de uma amostra de saliva. Foi desenvolvido para pessoas assintomáticas, a precisão rondará os 90% e conta com a ajuda da NBA para chegar ao mercado.

Os jogadores da liga de basquetebol profissional foram os cobaias — além de fazerem os testes comuns de zaragatoa, foram também submetidos a estes testes à saliva. Quando as amostras foram analisadas no laboratório da Universidade Yale, a equipa do investigador Nathan Grubaugh concluiu que os resultados dos novos testes eram comparáveis aos “tradicionais”. “Acho que qualquer pessoa prefere ter só de cuspir num tubo do que ter um cotonete inserido nas fossas nasais”, disse Grubaugh à CBS News. Nos testes feitos atualmente uma zaragatoa permite encontrar material genético do vírus na nasofaringe e na garganta.

O SalivaDirect é o quinto teste autorizado pela FDA em que a amostra é a saliva.  Não implica o uso de reagentes, pelo que os laboratórios podem facilmente obter os resultados, que chegam em 24 horas. Cada teste custa cerca de 10 dólares (8,45 euros).

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O Reino Unido também está a apostar neste novo método. O país vai começar a disponibilizar testes rápidos — em que o resultado é obtido em 90 minutos — que permitem distinguir a Covid-19 de outras doenças, como a gripe. Um com recurso a zaragatoa e outro ao ADN encontrado na saliva.

À BBC, o ministro da Economia britânico, Nadhim Zahawi, adiantou que, em setembro, os hospitais do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido vão passar a ter mais de 5 mil máquinas de testes de saliva (os DnaNudge), que já são usadas em oito hospitais londrinos. Estas máquinas vão produzir 5,8 milhões de testes nos próximos meses.

Por cá, também há equipas dedicadas aos testes de saliva. O Diário de Notícias já tinha dado conta de que um grupo de médicos e investigadores liderados por Nuno Rosa, professor da Universidade Católica Portuguesa e investigador no Saliva Tec (laboratório que se dedica ao estudo daquele fluído), está a desenvolver um teste em que é apenas necessária uma gota de saliva para avaliar se uma pessoa está ou já esteve infetada com SARS-CoV-2. A ideia é que o teste esteja disponível “em meados do próximo ano, se tudo correr bem”. A técnica, indolor e não invasiva, permitirá determinar a carga viral dos doentes, assim como o nível de anticorpos.

A Universidade de Évora também está a estudar o uso da saliva para detetar a presença do novo coronavírus. “A saliva pode fornecer informações clínicas sobre a doença”, se houver métodos adequados de recolha, admite um estudo publicado no Journal of Clinical Medicine. A recolha de saliva, defendem os investigadores, “poderá ser uma alternativa menos incomodativa e dolorosa”.

Universidade de Évora investiga potencial da saliva no estudo da doença

Em França, o laboratório Skill Cell também quer encontrar uma alternativa aos testes invasivos da zaragatoa. Para isso, criou um teste à base de saliva, que será recolhida para um tubo, numa consulta ao médico ou mesmo em casa.