Gostamos do que é diferente, do que não é percorrido, dos sítios onde ninguém ousa ir, ora porque fica longe, ora porque (bom… introduzir qualquer razão válida). São esses que pedem para ser explorados, são esses que pedem o nosso olhar curioso, vontade de desbravar localizações remotas. São esses que nos deixam entusiasmados no momento do regresso, sabendo que, para a próxima, não hesitamos em arriscar no que não é tão conhecido. Portugal está a pedi-las, está a pedir uma roadtrip pelas aldeias top secret do nosso país. Já estamos à sua espera, vai apanhar a boleia?
Comecemos pelo extremo Norte do país, ali pertinho da terra de “nuestros hermanos”. Perdida no coração do Parque Natural de Montesinho, uma área protegida no concelho de Bragança, é a mais de 1000 metros de altitude que encontramos a aldeia comunitária de Montesinho, a mais carismática da região. Uma viagem até Montesinho está a pedir que reparemos nas casas construídas em granito com os telhados em lousa e nas varandas em madeira, que olham o verde das pastagens e da serra. Assim é, Portugal está a pedi-las, assim como os trilhos do Parque Natural de Montesinho, um dos maiores do nosso país. É aí que partimos para desbravar e explorar o património natural da misteriosa Terra Fria Transmontana. Portugal está à espera que coloquemos as nossas melhores botas, enchamos o cantil de água, snacks na mochila e que façamos uma expedição pela Rota desta terra maravilhosa. Regresse às origens, inspire a tranquilidade, desfrute dos encantos de Montesinho. A serra está cheia de segredos e só quem lá vai, sabe deles.
Portugal está a pedi-las porque é no nosso país que está Estorãos, uma das aldeias mais bonitas do Minho, e não em qualquer outro sítio. Esto-quê? Sim, Estorãos. Localizada no concelho de Ponte de Lima, esta pitoresca aldeia, no sopé da Serra de Arga, pode não ser primeira opção do seu roteiro, mas garantimos que encanta qualquer visitante. A beleza desta aldeia minhota, onde corre uma ribeira desde o alto da serra, não deixa ninguém indiferente, não fosse a paisagem belíssima, como aquelas dos filmes que ganham todos os prémios importantes do cinema.
Ora, imagine: neste museu ao ar livre, as águas calmas da serra de Arga chegam cá a baixo, ao rio Estorãos, e envolvem a aldeia, formam pequenos lagos e represas, entre pontes, moinhos, casas rústicas, vinhas e vegetação muito verde. Percebe-nos agora? Portugal está a pedi-las e por isso queremos avisar agora e não depois: leve a máquina fotográfica, traga até baterias extra, demore-se neste lugar mágico e descubra o os tesouros desta terra, como a antiga azenha da aldeia ou a ponte romana, que conta histórias de outros tempos. Sem querer convencê-lo, já está convencido?
Escreva Vilarinho de Negrões em qualquer motor de busca. Está a pensar no mesmo que nós? Como é que o nosso país consegue surpreender-nos desta forma? Ainda vamos no início deste texto mas é por isto que Portugal está mesmo a pedi-las. Mais ainda: é por isso que Portugal está a pedir que exploremos os seus recantos mais escondidos, como esta aldeia no concelho de Montalegre. É rara a beleza de Vilarinho de Negrões, uma aldeia encaixada numa estreita península (repare como a serra e o céu ficam bonitos refletidos nas águas da albufeira do Alto Rabagão). Outro parêntesis: depois de perder-se pelas ruelas da aldeia, depois de observar as aves aquáticas que sobrevoam a península, depois de ver as casas tradicionais de granito e as construções antigas, afaste-se. Observe a aldeia de longe e repare como a água parece crescer pelas casas adentro. É importante vir aqui pelo menos uma vez na vida. Apresse-se, até agora a natureza tem poupado Vilarinho de Negrões à subida das águas do rio. Por via das dúvidas, ponha-se já a caminho…
Drave é para os aventureiros, é para os que não têm medo de caminhar perdidos pela montanha, é para os amantes da tranquilidade da natureza, é para os que entendem que Portugal está mesmo a pedi-las, e, por isso, arriscam pelos percursos que quase ninguém conhece. Drave, a aldeia mágica da Serra da Freira, que integra o Geoparque de Arouca, faz juz a tudo isso e mais ainda. Sem habitantes, isolada da civilização, sem eletricidade. Aqui não há água canalizada, correio, gás, saneamento, cobertura móvel, mas há tudo o resto: há serenidade e estrelas no céu, de tal forma que parece que estamos no Planetário. Há trilhos com vegetação majestosa, cascatas e piscinas naturais com água muito clara, e tanto silêncio que nos faz sentir pequenos. A aventura começa antes de chegar à aldeia: existem apenas dois acessos para fazê-lo e nenhum inclui o carro, pelo que terá, necessariamente, de fazer parte do percurso a pé, através do trilho pedestre PR 14. Portugal está mesmo a pedi-las. Agora até merecia um brinde: é que Drave é nosso e de mais ninguém.
Isto é um aviso à navegação: altere a rota que colocou no GPS, ponha mais combustível e comece a conduzir em direção à Serra do Açor. Envie mensagem aos amigos que estão nos carros de trás: “todos os caminhos vão dar a Foz d’Égua”. Portugal está a pedi-las e esta é uma paragem obrigatória. Com menos de 50 habitantes, que vivem em pequenas casas de xisto, diz-se que estaria esquecida não fosse a proximidade com Piódão, a quatro quilómetros, o que lhe dá ainda mais encanto. Comparada frequentemente com Hobbiton, a aldeia do filme “Senhor dos Anéis”, este tesouro rural, faz-nos sentir dentro de um conto de fadas (e está tudo bem apelar ao romantismo, quando equilibrado faz bem ao ânimo). Procure: a praia fluvial no centro da aldeia e mergulhe naquelas águas frescas, o açor esculpido e o altar que estão no alto da colina.
Talasnal, Talasnal. Continuamos a desbravar o centro de Portugal e a viagem prossegue por esta aldeia pitoresca, no coração da Serra da Lousã, concelho da Lousã. É uma das mais bonitas da área, pela alma que mantém e pela forma como as poucas dezenas de casas estão alinhadas na encosta, criando a ilusão de que sempre estiveram ali e que fazem parte da paisagem. Perder-mo-nos no Talasnal será difícil, visto que a aldeia tem apenas uma grande rua principal, que acompanha as casas todas costa acima, mas depois há os becos, e esses levam-nos a sítios encantadores como a Alminha ou os lagares de azeite. Depois de tanta viagem, já precisa de uma pausa para restabelecer energias? É esse o momento ideal para se sentar num dos cafés da aldeia e provar retalhinhos, talaniscos e outros petiscos locais.
Já ouviu falar da península encantada, à beira do rio Zêzere? Falamos de Dornes, a mítica aldeia dos Templários em Ferreira de Zêzere, em Santarém. Portugal está a pedi-las, está a pedir que continuemos a explorar os seus recantos mais secretos, como esta aldeia ribeirinha, que tem tanto de história como de beleza. Não precisamos de mais de uma hora para percorrer o centro de Dornes, mas espere mais um pouco, demore-se: Dornes está a pedi-las, está a pedir que descubramos a Torre Templária de Dornes, a praia fluvial, enquanto descansamos dos quilómetros ao volante.
Estamos na mítica Nacional 2, a terceira rodovia mais longa do mundo que é, em cada paragem, um convite aos sentidos. E já que estamos por aqui, que tal uma visita ao centro, literal, de Portugal? É perto de Vila de Rei que encontra o Centro Geodésico do nosso país, lá do cimo tem uma vista deslumbrante que vale a pena espreitar. Esta aldeia, no distrito de Castelo Branco, é o destino perfeito para os amantes de desportos de natureza como TT/BTT, desportos náuticos (é aqui, em Vila de Rei que existe uma das cinco primeiras estâncias de wakeboard do mundo), e trilhos pedestres. E porque todos os aventureiros, a dada altura, precisam de comer: fique a saber que os melhores petiscos estão aqui. Falamos do afamado bucho, dos maranhos. Não muito longe da aldeia, encontra ainda a Praia Fluvial do Penedo Furado. Aqui entre nós: a visita vale mesmo a pena.
É (possivelmente) a aldeia mais bonita do Alentejo. Santa Susana, em Alcácer do Sal, espanta pela tranquilidade, pela beleza das pequenas casas brancas, emolduradas por faixas muito azuis nas janelas e nas portas, se este não é o contraste mais bonito da nossa ruralidade, então o que será? É que Portugal está a pedi-las, está a pedir que nos percamos pelos montes alentejanos e que façamos uma paragem intencional por aqui: o momento pede que deixemos o relógio no carro e que descubramos as seis ruas que compõem esta pequena aldeia, e as pessoas que lá vivem, e as histórias que guardam. Não se visita Santa Susana para fazer “check” na lista, esta aldeia pede mais: pede que viajemos no tempo, sem pressa de regressar ao presente.
Ora, o carro já merecia descanso, as suas costas já estão tensas de tanta condução, não se assuste: a roadtrip está quase no fim, mas quando Portugal está a pedi-las, não podemos não ir, adiar o inevitável, que é conhecer as aldeias mais secretas do nosso país. São Cristóvão, em Montemor-o-Novo, uma aldeia na planície, com pequenas casas caiadas a branco e as famosas faixas azuis, onde a história da sua fundação merece uma visita. Muito serena, é um prazer observar a arquitetura desta aldeia, e reparar nos seus detalhes, especialmente na forma como o posicionamento das casas criam sombras mágicas no chão de pedra.
Temos tudo, sabe? Temos os montes e as serras, temos o mar, e temos as aldeias secretas mais bonitas do mundo. Portugal está a pedi-las, e nós, portugueses, sabemos disso. E sabemos também que temos sorte: porque estas aldeias são nossas e todos os anos nos esperam. Seguimos viagem?
Saiba mais sobre o projeto “Portugal Pede Sagres” em https://observador.pt/seccao/observador-lab/portugal-pede-sagres/