O PCP vai deixar o Governo à espera e a negociar, pelo menos para já, só com o Bloco de Esquerda, o PEV e o PAN. Ao contrário dos bloquistas, o PCP não vai reunir-se com o primeiro-ministro esta sexta-feira. António Costa antecipou que esta semana teria reuniões com os partidos, incluindo com o PCP, mas os comunistas alegaram “razões de agenda” e, segundo confirmou fonte do partido ao Observador, não vão participar nas reuniões sobre o Orçamento do Estado que decorrem na sexta-feira entre o primeiro-ministro e os partidos à esquerda do PS.
O encontro entre PCP e Governo também não deverá ocorrer na semana seguinte, o que significa que os comunistas estão a querer demonstrar que são eles que definem os timings da negociação e não o Executivo de António Costa. Ao que o Observador apurou junto de fonte do PCP “não é expectável” que a reunião entre PCP e o Governo ocorra antes da Festa do Avante, o que significa que os comunistas não têm problemas em deixar António Costa à espera e a negociar sozinho com Catarina Martins pelo menos até 6 de setembro (último dia da festa). Isto não significa, no entanto, segundo a mesma fonte, que o PCP esteja indisponível para negociar com o Governo o próximo orçamento do Estado.
O PCP já se reuniu duas vezes com o Governo, a 15 e 24 de julho, mas depois desses primeiros encontros no âmbito do Orçamento para 2021, os comunistas deixaram claro que preferiam que as próximas reuniões com o Governo fossem mais técnicas. Ou seja: sem líderes e com a discussão num patamar abaixo, mas simultaneamente mais técnico, com membros como o ministro das Finanças João Leão ou a secretária de Estado do Orçamento Cláudia Joaquim. Aliás, na última reunião, de 24 de julho, o PCP pediu mesmo que a reunião seguinte fosse técnica. Essa reunião chegou a estar agendada, mas o PCP pediu esta semana que fosse reagendada, segundo apurou o Observador. Neste momento não há qualquer data para essa reunião técnica, nem data para uma futura reunião entre os líderes do PCP e do Governo.
No dia em que o Bloco se reúne com o primeiro-ministro, Jerónimo de Sousa prefere seguir a “agenda intensiva” que já tinha programada e que se vai estender na semana seguinte até à Festa do Avante. O secretário-geral do PCP participará e intervirá no Comício “Nem um direito a menos. Confiança e luta por uma vida melhor”, às 18h30, no Jardim 1º de Maio, em Grândola.
É preciso não esquecer que no discurso de rentrée da Festa do Avante, o PCP tem aproveitado para endurecer o tom com o Governo e sublinhar diferenças. Nos últimos anos tem vincado sempre mais que não faz parte de nenhuma coligação parlamentar ou algo similar. Participar nestas reuniões com o Governo nesta altura poderia tornar-se estrategicamente difícil de gerir para o PCP, na véspera de um dos maiores momentos de afirmação política do partido.
Ainda esta quarta-feira, como noticiou o Observador, havia a indicação de que a reunião com o PCP deveria ocorrer esta sexta-feira, depois da que está marcada com o Bloco de Esquerda. Ao contrário do PCP, o Bloco vai já a jogo, mas também promete não facilitar a vida ao primeiro-ministro já que cada vez mais aumenta o caderno de encargos e cada vez mais engrossa a voz. Tem até aconselhado o Governo não acenar com o fantasma da crise política porque, como se viu no Orçamento Suplementar, tem sempre o PSD para esses momentos.
Governo aprova fim do fator de sustentabilidade nas profissões de desgaste rápido (como BE pediu)
Já esta quinta-feira, na reunião do Conselho de Ministros, o Governo aprovou ainda o diploma que elimina o fator de sustentabilidade para as carreiras especiais que tinham uma idade de acesso à reforma inferior à do regime regular. Trata-se de uma reivindicação feita pelo BE ainda este fim de semana, quando Catarina Martins, a falar aos jornalistas numa pedreira em Penafiel, avisou o Governo de que só negociaria o OE 2021 quando o que estava aprovado no OE2020 fosse de facto cumprido. Era o caso da eliminação do fator de sustentabilidade nas profissões de desgaste rápido. Dias depois, e na véspera de Governo e BE se sentarem à mesa das negociações, o Governo aprova o que o BE queria. Um sinal a ter em conta.