A necessidade de proteger o ambiente e de lutar pela sustentabilidade pode ter ficado adormecida no meio de todas as preocupações que 2020 inesperadamente trouxe. Mas nunca é demais relembrá-las, até em tempo de férias. Ou sobretudo em tempo de férias, quando há mais tempo para parar e pensar nos comportamentos do dia a dia. Daí que o assunto deste artigo seja ecoturismo, ou turismo de natureza, aquele cujas atividades respeitam o património natural e cultural dos locais visitados, contribuindo para a formação de consciência ambiental. No Centro de Portugal não faltam opções que combinam descanso e sustentabilidade, prazer e ecologia. Como estas.

Pedalar na Ecopista do Dão

Não é, ao contrário do que alguns afirmam, a maior ecopista portuguesa. Mas será, com certeza — e isso ninguém lhe tira —, uma das mais bonitas. Instalada numa antiga linha ferroviária que ligava Santa Comba Dão a Viseu, desativada em 1988, a Ecopista do Dão permite fazer esse percurso a pé ou de bicicleta, num piso regular e confortável, sem subidas ou descidas acentuadas e sempre com direito a vistas magníficas. Se no início a Ecopista se vai debruçando sobre os rios — ora sobre o Dão, ora sobre o seu afluente Pavia —, passando até por praias fluviais quase desertas, conforme o percurso avança e entra nos concelhos de Tondela e Viseu, a paisagem transforma-se, por entre arvoredo, vinhas e campos de cultivo. Nunca perde, porém, a beleza. Nem o ar puro com que sabe tão bem encher os pulmões.

3 fotos

Fazer glamping na Serra da Gardunha

Será um iglô? Será um OVNI? Não é uma coisa nem outra. E também não é o Super-Homem. São os domus do Natura Glamping, uma opção de alojamento que permite unir o glamour ao campismo, daí o nome, a quase 1000 metros de altitude, em plena Serra da Gardunha. O facto de o nome também incluir Natura, não é por acaso: aqui sim, faz-se verdadeiro Turismo de Natureza, já que tudo foi criado com o máximo de respeito pela envolvente e valorizando sempre os princípios da sustentabilidade. No local, além das vistas magníficas, é possível fazer diversas atividades, como passeios a cavalo ou de BTT, arborismo, yoga ou voos de balão.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

2 fotos

Dormir numa Casa da Árvore

Auto intitula-se um Eco Surf Resort. Ou seja, um retiro ecológico para surfistas. Ou um retiro para surfistas ecológicos, se preferir. Mas o Bukubaki, assim se chama este projeto, acolhe todos os que ali queiram passar uma temporada, mesmo que o seu interesse seja mais descansar do que surfar as ondas das praias em redor, como a de Super Tubos ou a das Azenhas. As curiosas casas da árvore, três no total, são a opção mais original para ali pernoitar. Equipadas com kitchenette, aquecimento (ecológico) e casa de banho privada, são uma espécie de ninhos onde o conforto e a sustentabilidade coexistem em harmonia. Como acontece, aliás, em todo o resort.

Assistir ao CineEco

O nome é uma abreviação orelhuda de Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, o único festival de cinema em Portugal exclusivamente dedicado à temática ambiental, no seu sentido mais abrangente. Realiza-se todos os anos em outubro, desde 1995, e conta com bastante prestígio internacional. Este ano, apesar de todas as particularidades, não será exceção. De 10 a 17 do referido mês, vão ser exibidos na Casa Municipal da Cultura de Seia e no Centro de Interpretação da Serra da Estrela uma vasta seleção de curtas e longas metragens, séries, reportagens televisivas e documentários, com diferentes prémios a concurso. Diferentes prémios, porém, um único objetivo: despertar a consciência ambiental dos espectadores.

Explorar a Ria de Aveiro (e arredores)

Quem pensa que Aveiro é só moliceiros e ovos moles engana-se redondamente. É um dos melhores destinos de turismo de natureza do país, muito por culpa de um ecossistema único, fruto da Ria de Aveiro e respetivo sapal. Em Salreu, perto de Estarreja, o projeto BioRia oferece percursos pedestres e cicláveis, um centro de interpretação ambiental e a possibilidade de observar as aves limícolas que fazem desta região o seu habitat. O mesmo é válido para a Barrinha de Esmoriz, no extremo norte da ria, onde uma rede de passadiços permite apreciar a fauna e flora locais. Já na Reserva Natural das Dunas de São Jacinto misturam-se águas doces e salobras, as dunas e o pinhal. O resultado é uma paisagem inesquecível, que pode ser descoberta a partir de trilhos assinalados, recorrendo ao auxílio do Centro Interpretativo local. É tudo? Nem por isso: quem quer dar ao pedal deve ainda explorar os percursos da NaturRia, na Murtosa e da Ecopista do Vouga, ambos nas imediações da ria e com muito também para oferecer a quem por ali se desloca.

Avistar a maior lagoa natural da Península Ibérica

Chama-se Pateira de Fermentelos — ou apenas Pateira para alguns — e deve o nome aos seus habitantes mais ilustres, os patos. A sua área divide-se entre três concelhos, Águeda, Aveiro e Oliveira do Bairro, e constitui a maior lagoa natural da Península Ibérica. Apesar desse estatuto, é ainda relativamente desconhecida e, por isso, um sítio idílico, onde é possível desfrutar de um sem número de atividades: dos passeios nos trilhos assinalados, à travessia nas tradicionais gaivotas a pedais, sem esquecer a pesca, a observação de aves, a prática de ioga, stand up paddle ou BTT nos trilhos em redor, ou até mergulhos e piqueniques nos parques fluviais em redor da lagoa.

Descobrir as Grutas da Moeda

O ano é 1971. Estamos em São Mamede, concelho da Batalha. Dois caçadores seguem uma raposa. Esta esconde-se num algar no meio do bosque. Os dois homens entram e ficam impressionados com o que veem: múltiplas galerias repletas de formações calcárias. Acabam de descobrir as Grutas da Moeda. Hoje, qualquer pessoa pode impressionar-se no mesmo local. As grutas estão abertas ao público — a extensão visitável é de 350 metros, e a profundidade de 45 abaixo da cota de entrada. E por muito calor que esteja no dia da visita, lá dentro estarão uns agradabilíssimos 18ºC. As visitas às galerias — batizadas conforme as imagens que sugerem, como Lago da Felicidade, Sala do Presépio ou Capela Imperfeita, entre outras — são acompanhadas de um guia, habilitado a desvendar os mistérios de tão imponente formação. No Centro de Interpretação Científico-Ambiental, essa descoberta pode ir ainda mais longe: ali aprende-se sobre a forma como a gruta interage com a biodiversidade local e sobre a importância do calcário na região.

Descer o Mondego num caiaque

Para apreciar devidamente a beleza do Vale do Mondego, nada como descer o rio a bordo de um caiaque, de Penacova até Coimbra, numa distância de cerca de 25 quilómetros. E nem é preciso estar numa forma física por aí além — o percurso é fácil e é possível fazê-lo a um ritmo leve, de passeio. Possível e recomendado, já agora. Certos guias permitem, inclusive, paragens para mergulhos nas praias fluviais das redondezas, o que em tempo de verão torna a experiência ainda mais aprazível. A chegada a Coimbra pelo rio também oferece uma nova e belíssima perspetiva da cidade, apesar de alguma dureza nesta fase do percurso, essa sim, só recomendável a quem queira testar a sua capacidade atlética.

Respirar o ar puro das serras

Em altitude o ar pode até ir ficando cada vez mais rarefeito mas a sua pureza é indiscutível. É por isso que se deve tirar vantagem dos percursos pedestres e cicláveis das serras do Centro de Portugal. E se os do Parque Natural Serra da Estrela/Geopark Estrela são incontornáveis, os da Reserva Natural Serra da Malcata, habitat do célebre lince ibérico mas também de numerosas outras espécies, e onde existem uma série de trilhos assinalados, a maior parte deles circulares. Não muito longe, a Serra da Marofa oferece também o mesmo ar puro, além de ser um ponto importante da Grande Rota do Côa, cujos pontos de interesse incluem, por exemplo, a riquíssima Reserva da Faia Brava, onde há muito por descobrir, entre trilhos, pinturas rupestres (abrigo das Lapas Cabreiras) e a observação de algumas aves imponentes, casos do abutre do Egipto ou da águia de Bonelli.

Fotografia: Miguel Serra

Saiba mais sobre este projeto em https://observador.pt/seccao/centro-de-portugal/