Vicente Jorge Silva, co-fundador e primeiro diretor do jornal Público, morreu na madrugada desta terça-feira. Tinha 74 anos. A notícia foi avançada pelo Público e confirmada ao Observador por fonte familiar.

Vicente Jorge Silva em entrevista: o jornalismo, a política e a vida

Nascido a 8 de novembro de 1945 no Funchal, na Madeira, numa família de fotógrafos, o jornalista foi ainda o responsável pela criação da Revista, do semanário Expresso, e dirigiu o Comércio do Funchal.

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Acho que aprendi a ser jornalista no Comércio do Funchal“, afirmou numa entrevista ao Observador, em setembro de 2019. “Cheguei a fazer uma página literária quando tinha 14 ou 15 anos, não sei como é que é possível, num semanário lá na Madeira. E, portanto, o jornalismo era uma coisa que estava profundamente entranhada em mim. Embora eu não tenha na minha família nenhuns precedentes. São todos fotógrafos. Mas eu tinha a mania do jornalismo e, depois, também do cinema.”

Do Comércio do Funchal para o Expresso

Depois de um “conflito” com os “camaradas” do Comércio do Funchal, ruma até Lisboa, em 1974, onde passa a integrar a equipa do Expresso.

“Numa dada altura, o Balsemão diz-me: “Oiça lá, você venha para cá durante um tempo, e pronto. Depois recebe à peça, não sei quê, depois logo se vê”. Bom, e assim fiz. E, depois de um certo tempo, adaptei-me bastante bem ao ambiente do jornal. E um dos responsáveis do jornal foi ter com o Balsemão e disse-lhe que o meu entendimento com o restante pessoal era tão bom que eu tinha que entrar para lá, porque era naturalmente da família. O Balsemão disse-me isso e eu entrei.”

Nos anos 80 chega à direção do semanário, altura em que surge a ideia de criar “uma revista em papel de jornal”, que tem início na altura em Marcelo Rebelo de Sousa chega à direção do jornal: “(…) eu tinha uma excelente relação com o Marcelo, mas ele sentia-se muito mais à vontade para estar a fazer o primeiro caderno sem eu estar ali, porque havia aquelas reuniões de redação e eu às vezes fazia umas perguntas: “Então esta coisa está a ser tratada de uma certa maneira, não seria melhor tratarmos isso de uma outra forma, ouvindo mais gente?”. Enfim, coisas desse género. Acho que aquela divisão foi ótima para ambas as partes (…)”

“O Belmiro de Azevedo não era especialista no negócio jornalístico, e eu também não era”

Ainda no semanário, começa a projetar o Público, tornando-se o seu primeiro diretor, em 1990. Chegou mesmo a tentar “convencer” Francisco Pinto Balsemão a criar o diário, mas sem sucesso. É então bate à porta de Belmiro de Azevedo, descrevendo-o como “a pessoa mais desempoeirada” entre os empresários portugueses.

O Belmiro de Azevedo não era especialista no negócio jornalístico, e eu também não era. Nós tínhamos era um projeto de um jornal que gostávamos de fazer e depois vimos quem é que em Portugal poderia financiar um projeto destes. Claro que seria muito mais prático ser o Pinto Balsemão, se ele estivesse para aí virado. Mas não estava. Eu achava que o Expresso era sempre a mesma coisa e queria fazer uma coisa que saísse todos os dias e acompanhasse a atualidade de uma forma muito mais viva.”

Questionado pelo Observador sobre a sua polémica mais marcante, Vicente Jorge Silva descarta a “geração rasca”, expressão que utilizou num editorial, em 1994, que assinou a propósito das manifestações estudantis contra Manuel Ferreira Leite, ministra da Educação de Cavaco Silva.

Depois de sair do Público em 1996, Vicente Jorge Silva foi deputado e militante do PS. Ao Observador, garantiu que nunca se teria inscrito no partido “se eu soubesse o que sei hoje” e não acredita na teoria de que António Costa ou Augusto Santos Silva não soubessem que José Sócrates realmente era.

O seu grande sonho era ser realizador de cinema. Sonho esse que chegou a concretizar, tendo feito uma longa metragem e várias curtas.

De acordo com a informação avançada pela Servilusa, o corpo do jornalista estará em câmara ardente, a partir das 18h00, nas Capelas Exequiais da Basílica da Estrela em Lisboa. Na quarta-feira, 9 de setembro, às 16 horas, seguirá para o crematório dos Olivais em Lisboa.