Familiares do grupo preso na China há 20 dias pediram este sábado que lhes seja permitido enviar medicamentos ou simplesmente falar com os detidos, instando as autoridades a permitir o seu acesso a advogados e o regresso a Hong Kong.
O apelo foi feito durante uma conferência de imprensa no território semi-autónomo que juntou mães, pais e irmãos de seis dos 12 ativistas pró-democracia detidos em 23 de agosto pela guarda costeira chinesa, e que incluem o estudante universitário Tsz Lun Kok, com passaporte português. O grupo foi detido por suspeita de “travessia ilegal” quando se dirigia de barco para Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo político.
Envergando capuzes, óculos de sol e máscaras para proteger a sua identidade, os familiares dos detidos exigiram hoje que as autoridades chinesas permitam o acesso dos seus familiares aos advogados da sua escolha, até agora recusado pelas autoridades prisionais, em alguns casos alegando que já teriam sido nomeados advogados oficiosos pelo Estado chinês.
“Não consigo dormir desde que ouvi a notícia [da detenção]. Estou muito preocupada […], nem sequer sei se ele ainda está vivo”, queixou-se a mãe de um dos detidos, de acordo com a correspondente da agência France-Presse (AFP) em Hong Kong, que divulgou as declarações na rede social Twitter.
Em alguns casos, denunciaram, foi-lhes recusado enviar medicação de que os seus familiares dependem, como antidepressivos ou medicamentos para a asma.
“Todas as manhãs ele precisa de inalar o remédio para a asma”, explicou o irmão de um dos ativistas detidos, contando que, quando ligou para o centro de detenção em Shenzhen, na China, para tentar que os medicamentos lhe fossem entregues, um agente lhe terá dito que a sua identidade não podia ser verificada, desligando o telefone.
Numa declaração lida pelo deputado James To, do Partido Democrático, a mãe de um detido com 16 anos queixou-se que não consegue dormir, e só espera que o filho possa telefonar e que o advogado que contratou possa encontrar-se com o menor em Shenzhen, segundo a mesma fonte.
Na terça-feira, a chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, disse que os 12 detidos do território na China têm de responder às acusações no continente antes de o governo da região poder intervir, um anúncio criticado hoje pelas familias.
“Espero que o governo [de Hong Kong] nos possa dizer o que se está a passar”, apelou a mãe de outro dos detidos. “Quanto mais notícias leio, mais medo tenho”, acrescentou.
O advogado em Hong Kong do jovem com passaporte português disse hoje à Lusa que a mãe de Tsz Lun Kok teve receito de participar na conferência de imprensa, por temer que isso pudesse prejudicar o filho, que enfrenta acusações relacionadas com a participação nos protestos pró-democracia na antiga colónia britânica, em 2019.
O advogado, que pediu para não ser identificado, continua sem notícias do Consulado de Portugal em Macau e Hong Kong. “Dizem que estão a acompanhar [o caso], mas os esforços que dizem estar a fazer estão longe de ser satisfatórios”, criticou, defendendo que um representante consular deveria “dirigir-se pessoalmente ao centro de detenção em Shenzen”, em vez de tentar contactar as autoridades chinesas por telefone.
A Lusa questionou novamente o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português na sexta-feira, para saber que diligências foram feitas para obter informações sobre o jovem e se tiveram resposta, mas o gabinete de Augusto Santos Silva não respondeu até agora às questões.
Segundo o jornal Hoje Macau, que citou fonte consular, o Consulado teria pedido informações ao Comissariado dos Negócios Estrangeiros em Hong Kong sobre o estado de saúde de Tsz Lun Kok, alertando para o seu direito a ser assistido por um advogado, mas não teria recebido qualquer resposta – uma informação que aquele posto diplomático não confirmou à Lusa, remetendo todas as questões para o MNE.
O advogado em Hong Kong do estudante com nacionalidade portuguesa e chinesa disse à Lusa em 04 de setembro que as autoridades chinesas recusaram o acesso ao advogado mandatado pela família no continente chinês, alegando que “a investigação do caso não está concluída”.
Na sexta-feira, o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo disse que os Estados Unidos estão “profundamente preocupados” com os obstáculos enfrentados pelos advogados dos detidos, a falta de informações sobre o seu estado de saúde e as acusações que enfrentam, instando as autoridades a garantir um processo justo.
A lei da segurança nacional imposta por Pequim à antiga colónia britânica, em 30 de junho, levou vários ativistas a refugiar-se no Reino Unido e Taiwan. O diploma pune atividades subversivas, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras com penas que podem ir até à prisão perpétua.