O bastonário da Ordem dos Médicos afirmou hoje que Portugal está perante “um furacão” e que será “extraordinariamente difícil” lutar contra ele “apenas com o Serviço Nacional de Saúde”, referindo-se à luta contra a pandemia.
“Estamos perante um furacão, de maior ou menor intensidade, e como é que nós podemos lutar contra este furacão apenas com o Serviço Nacional de Saúde? É extraordinariamente difícil”, disse Miguel Guimarães na conferência online “Saúde Interrompida: o impacto da pandemia nos doentes não Covid-19″.
[frames-chart src=”https://s.frames.news/cards/coronavirus-em-portugal/?locale=pt-PT&static” width=”300px” id=”1182″ slug=”coronavirus-em-portugal” thumbnail-url=”https://s.frames.news/cards/coronavirus-em-portugal/thumbnail?version=1601301067518&locale=pt-PT&publisher=observador.pt” mce-placeholder=”1″]Apesar de o SNS ter capacidade de resposta e ser “um belíssimo serviço público, sobretudo quando comparado com outros países europeus, tem limitações”.
“Já tinha limitações antes da pandemia, agora acentuaram-se”, disse, exemplificando: “eu tenho um cobertor que não consegue tapar-me completamente, se eu puxo o cobertor para os pés, destapo a cabeça, se puxar para a cabeça, destapo os pés”.
“Foi o que aconteceu na primeira fase da pandemia, ou seja, para tentarmos tapar a cabeça e responder à pandemia, responder à Covid-19, destapamos os doentes não Covid”, sustentou.
Neste outono/inverno – defendeu – “não podemos (…) darmo-nos ao luxo de destapar, outra vez, a doença não Covid, a autoridade nacional tem de ter consciência disso” e vai ter que ter “um plano estratégico um bocadinho diferente daquilo que apresentou”.
“Até pode ser aquilo que apresentou, mas vai ter que concretizar objetivamente as ideias”, disse, considerando que há “ideias boas” no Plano de Saúde Outono Inverno da Direção-Geral da Saúde, mas que faltam “algumas coisas importantes”.
As ideias que estão no plano não estão concretizadas, “nem se mostra como é que vão ser feitas” para responder a “três tempestades”, sendo a primeira, “e a mais importante”, os doentes não Covid.
“Basta pensar nos vários estudos que têm sido feitos” sobre a mortalidade e “o prejuízo” do planeamento e da organização que tem sido feita no combate à pandemia e que “está a ter efeitos completamente devastadores” nos doentes não Covid.
Para já, sabe-se que “a mortalidade claramente aumentou”, quando comparada com anos anteriores, mas na morbilidade “a situação será muito mais complexa, bem mais difícil de avaliar”, porque implica “ir um bocado mais naquilo que está a acontecer, advertiu.
“Mas seguramente que há muitos doentes diabéticos, com insuficiência cardíaca, com hipertensão que tiveram uma evolução negativa, muitos doentes oncológicos que acabaram por não serem diagnosticados a tempo e horas”, declarou.
Outra “tempestade ou desafio” é o combate à Covid-19, cujos casos estão a aumentar e consequentemente o número de internados em enfermaria e nos cuidados intensivos.
Finalmente, há a questão da gripe sazonal que também “vai ter o seu impacto”.
“Se quisermos dar uma resposta integrada a estes três desafios vamos precisar do apoio do setor social e do setor privado, não há alternativa”, defendeu.
Para o bastonário, não se consegue neste momento reforçar a capacidade de resposta do SNS para “responder a tudo de uma só vez”.
Sublinhou ainda que o Ministério da Saúde tem ainda o desafio de “libertar os médicos de família” para fazerem “a sua missão principal” e contratar “equipas específicas para esta atividade, nomeadamente do seguimento dos doentes Covid que não precisam de estar internados”.
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de um milhão de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 1.963 em Portugal.