A BBC tem um novo diretor geral, mas a notícia não é bem essa. A notícia é esta: a BBC tem um novo diretor geral, Tim Davie, que entrou a pés juntos na estação pública britânica, escolhendo os comentários político-partidários das estrelas da estação na internet como principal alvo de início de mandato.

A guerra aberta às posições politico-partidárias expressas nas redes sociais por funcionários e figuras da estação está a dar que falar no Reino Unido e nos media britânicos. Esta terça-feira, a própria BBC publicava um texto que tinha como título “Tim Davie: o patrão da BBC está ‘preparado para despedir as estrelas que quebrem as regras de imparcialidade”.

O novo diretor geral da estação pública do Reino Unido anunciou que serão reveladas em breve novas regras para a utilização de redes sociais por parte de todo o staff da BBC.

A recomendação de reserva à expressão de posições ideológicas e político-partidárias nas redes sociais por funcionários e jornalistas não é um exclusivo da BBC — já outros meios de comunicação em todo o mundo criaram manuais e regras de comportamento em redes sociais para os seus funcionários —, mas a dureza prometida na resposta ao incumprimento dessas regras não é habitual.

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Citado pela própria estação, em declarações proferidas aos deputados britânicos e perante o Comité de Desporto, Media, Cultura e Digital da Câmara dos Comuns, o novo diretor geral diz que está preparado para “adotar medidas de ação disciplinar apropriadas” que podem ir até “à cessação” de contrato com trabalhadores, em caso de incumprimento das normas recomendadas.

As ações de fiscalização e resposta serão muito claras. Seremos capazes de agir disciplinarmente e seremos capazes de tirar pessoas do Twitter [se necessário]. Sei que as pessoas querem ver medidas duras relativamente a isto”, apontou ainda Tim Davie.

Questionado no Parlamento britânico sobre como pretende “tirar pessoas do Twitter” caso os funcionários recusem adotar a reserva recomendada, o novo diretor geral da estação pública britânica explicou: em alguns casos admite pedir aos funcionários que suspendam as suas contas de Twitter caso queiram continuar a trabalhar para a BBC.

A dureza prometida por Tim Davie já mereceu reparos do antigo futebolista e atual estrela do comentário desportivo Gary Lineker, habitualmente muito ativo nas redes sociais. “Acho que só o Twitter pode tirar pessoas do Twitter”, disse o apresentador do programa “Match of the Day”, que no passado já publicou opiniões político-partidárias na rede social. Lineker alegou então que o seu trabalho na BBC está exclusivamente orientado para o desporto, pelo que não tem de cumprir o dever de imparcialidade na análise política.

O novo diretor geral da BBC, porém, parece pouco convencido de que a reputação da estação não possa ser afetada pelas opiniões político-partidárias expressas pelas suas estrelas nas redes sociais, mesmo quando as figuras em causa não cobrem a atualidade política do Reino Unido.

Não entrando em conflito com Lineker e dizendo que este até já afirmou que “compreende as suas responsabilidades como pessoa que faz parte da BBC”, Tim Davie apontou: “Sou o diretor geral, pelo que agora sou que estou a liderar isto. E na minha perspetiva, não é correto as pessoas fazerem declarações políticas partidárias se fazem parte de uma organização de notícias [que quer ser vista como] imparcial”.

As exigências serão maiores para quem trabalha diretamente com “notícias” e com “temas da atualidade”, mas também haverá normas para quem “trabalha em outras áreas da organização”, apontou ainda Tim Davie. As novas recomendações não pretendem “banir as pessoas das redes sociais”, até porque “é preciso estarmos lá”, notou ainda o novo diretor geral da estação.