A BBC atualizou as regras para as redes sociais dos seus trabalhadores, alargando as restrições também para alguns dos principais rostos do canal, que até agora não eram especificamente abrangidos por essas normas. Ainda assim, o canal defende que as novas regras continuam a permitir que algumas opiniões sejam expressas, desde que não sirvam “campanhas políticas” nem passem ao “ataque pessoal”.

Meses depois da enorme polémica em volta da suspensão temporária de Gary Lineker — o apresentador mais bem pago do canal, suspenso depois de criticar duramente as declarações do governo sobre políticas de imigração –, o canal volta agora a rever as suas regras para o uso de redes sociais, tornando-as mais abrangentes.

A “cláusula Lineker” — como conta o The Guardian, é assim que a regra para as redes sociais é conhecida internamente na BBC — proíbe, assim, uma série de apresentadores de apoiar ou criticar partidos políticos, criticar o caráter individual de políticos no Reino Unido, comentar assuntos que sejam objeto de debate político durante períodos eleitorais, ou participar na angariação de fundos para campanhas, conta o mesmo jornal.

Se antes as regras se aplicavam a jornalistas — e tendo a BBC reconhecido, durante a polémica que rodeou o caso Likener e que quase fez cair a direção do canal, que havia “zonas cinzentas” nas suas normas —, agora passam a aplicar-se também a um grupo muito específico de apresentadores, que inclui Lineker e outros “apresentadores freelance” que dão a cara por programas importantes da BBC, e que são mesmo nomeados na nova regra.

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Assim, durante os períodos em que esses programas estiverem no ar (e duas semanas antes e depois da sua transmissão), apresentadores de programas em que celebridades aprendem a dançar (o Strictly come Dancing) ou de cozinha (o Masterchef), entre outros, não podem expressar esse tipo de opiniões políticas nas suas redes sociais. O Match of the Day, de Lineker, está incluído na lista, que também abrange os apresentadores de grandes eventos desportivos.

Uma notícia no site da BBC apresenta as novas regras garantindo que permitirão que os apresentadores deem opiniões, mas não que façam “campanha política”, de forma a “respeitar a imparcialidade da BBC”.

O responsável pela revisão das regras da BBC para as redes sociais, John Hardie, disse ao canal que as normas antigas indicavam que não era possível “tomar partido” em assuntos que gerassem controvérsia política. “A nova abordagem diz que o podem fazer, desde que se limitem a comentar os factos do assunto em si. Por isso, isto é uma mudança significativa”.

A ideia é que seja mais fácil e “prático” distinguir os casos em que os apresentadores podem ou não comentar assuntos políticos e polémicos, garantindo que não passam ao “ataque pessoal”. Neste contexto, seria difícil que os comentários de Lineker, por exemplo, fossem aceites pelo canal, uma vez que constituíam uma dura crítica direta às declarações de uma ministra em concreto.

No mês passado, Lineker defendia, em declarações ao The Guardian, que a BBC tem demasiado medo dos seus críticos e dos que querem “cortar o financiamento” ao canal. “Eles vão sempre querer cortá-lo, independentemente do que a BBC fizer. Ignorem-nos! Ignorem-nos e concentrem-se nas pessoas que amam a BBC”.

A polémica Lineker

A polémica instalou-se há meses, quando o popular apresentador comentou, no Twitter, uma mensagem da ministra do Interior, Suella Braverman, sobre os planos do governo britânico para impedir os migrantes que chegam em pequenos barcos ao Reino Unido de fazê-lo. Lineker comentou a “política incomensuravelmente cruel, dirigida contra as pessoas mais vulneráveis”, e comparou a linguagem usada pela ministra à que “era usada pela Alemanha nos anos 1930”.

O governo classificou os comentários como “inaceitáveis”, considerando “uma desilusão ver alguém cujo salário é pago por contribuintes britânicos que trabalham arduamente a usar esta retórica e aparentemente a desvalorizar as suas preocupações legítimas sobre chegadas de pequenos barcos e imigração ilegal”.

Acabou o braço de ferro: Gary Lineker (que não pediu desculpa) volta ao ecrã no próximo fim de semana, BBC revê política de redes sociais

A decisão sobre o que fazer em relação a isso seria da BBC, afirmou uma porta-voz do executivo na altura, e o canal chegou mesmo a determinar a suspensão de Lineker.

Porém, perante a onda de solidariedade que o apresentador recebeu e a revolta dos membros da redação da BBC, o canal voltou atrás na sua decisão e Lineker voltou a apresentar o programa, com a direção da BBC a pedir desculpa pela confusão e a prometer tornar as suas regras para as redes sociais mais claras.