A economia da Irlanda poderá fechar o ano de 2020 com uma contração económica de apenas 0,4%, segundo as novas projeções divulgadas pelo Banco Central da Irlanda. O mesmo banco central tinha, em julho, apontado para uma recessão na ordem dos 9% mas os dados mais recentes apontam para um desempenho melhor do que o esperado das exportadoras ali sediadas – com as farmacêuticas à cabeça – o que poderá fazer com que a economia tenha um desempenho muito melhor do que o temido. E muito melhor do que os outros países da zona euro.
Esta é uma nova previsão que, porém, não está isenta de riscos. O resultado das negociações do Brexit é um dos principais: na falta de um acordo de saída do Reino Unido com a UE, diz o banco central, a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) irlandês será chamuscada e poderá perder dois pontos percentuais. As exportações alimentares da Irlanda, por exemplo, poderão cair um terço se se confirmar que o Reino Unido sai da União Europeia sem um acordo comercial, ficando apenas sujeito às regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Nas nossas novas previsões, considerámos ser prudente assumir que a União Europeia e o Reino Unido irão passar para uma relação comercial nos termos da OMC, a partir de 1 de janeiro”, indicou o banco central, acrescentando que “a confirmar-se, isso teria um impacto de agravamento dos custos, aumento da incerteza e perturbação dos fluxos de comércio”. Como resultado, o banco central passou a ser mais pessimista sobre o crescimento em 2021 – passa a antever um aumento de 3,5% no PIB.
Quanto a 2020, porém, os últimos indicadores demonstram que as exportações do setor farmacêutico foram muito mais vigorosas do que o que se receava, num contexto de pandemia, o que será decisivo para sustentar o desempenho da economia medido pelo PIB. Por outro lado, também as previsões de quebra no consumo privado poderão ter sido demasiado pessimistas, em julho, em comparação com o que acabou por acontecer.
“Este será o desempenho económico mais robusto de todas as economias desenvolvidas, pelo menos entre os casos que conheço”, comentou o economista-chefe do banco central irlandês, Mark Cassidy, citado pelo Irish Times. Porém, o banco central alertou que uma eventual nova vaga de contágios pelo novo coronavírus, caso resulte em novas medidas de confinamento, poderão pôr em causa as novas previsões, menos pessimistas.
Por outro lado, o economista-chefe salienta que, embora tenha havido uma recuperação assinalável desde os mínimos de abril-maio, “esta recuperação tem sido parcial e desequilibrada”. “Em alguns casos, o nível de atividade económica focada no mercado interno continua muito abaixo dos níveis anteriores à pandemia”. Expurgando o efeito das exportações, num país onde as multinacionais têm um peso muito grande, o banco central estima que a “economia interna” irá descer 7,3% em 2020.
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