Timor-Leste regista níveis “alarmantes” de fome, uma situação que se agravou nos últimos anos, e é o segundo pior classificado entre 107 países, a seguir ao Chade, segundo a última edição do Índice Global da Fome (IGF).
O relatório, que atribui a Timor-Leste um IGF de 37,6 (num máximo de 100, a pior classificação), considera a situação no país “alarmante”, sendo a segunda pior no índice deste ano entre os países analisados.
Notando que a situação se agravou em Timor-Leste, os autores do relatório explicam que isso se deve a “uma série de fatores que tem contribuído para a insegurança alimentar crónica em Timor-Leste”.
Entre os fatores destaca a produtividade agrícola baixa, um consumo alimentar inadequado, “tanto em quantidade como qualidade”, e a dependência de muitos timorenses em estratégias “únicas de baixo valor de subsistência”.
A infraestrutura básica de saneamento, água limpa, estradas, irrigação, escolas e saúde é pobre, como também é baixo o nível de capital financeiro e humano do país”.
“Os riscos climáticos têm também tido impactos negativos (IPC 2019)”, refere.
De particular preocupação é a desnutrição infantil, “com mais de metade das crianças a sofrer de nanismo e quase 15% das crianças a sofrer debilitação”, nota o estudo.
O Índice anual, da autoria das organizações Weit Hunger Hilfe e Concern Worldwide, e que inclui a participação de especialistas da Chatham House e do European Centre for Development Policy Management, procura de forma “abrangente medir e rastrear a fome em global, regional e nacional”.
O IGF baseia-se em quatro indicadores base: “subnutrição (parte da população com ingestão calórica insuficiente), debilitação infantil ou ‘wasting ‘(crianças com menos de cinco anos que têm baixo peso para a sua altura, refletindo subnutrição aguda), nanismo infantil ou ‘stunting’ (crianças com menos de cinco anos e que têm altura baixa para a sua idade, refletindo crónica subnutrição) e mortalidade infantil (taxa de mortalidade das crianças com menos de cinco anos, refletindo a mistura fatal de nutrição inadequada e ambientes pouco saudáveis)”.
Com base nesses indicadores, o IGF determina a fome numa escala de 100, sendo zero a melhor pontuação possível (sem fome) e 100 a pior, com as classificações divididas por severidade, de baixo a extremamente alarmante.
Timor-Leste registou uma melhoria entre 2006 e 2012, passando de um índice de 41,4 para 34,6, porém a situação piorou nos últimos anos, com o país a cair para 37,6, o segundo pior classificado e o único de três com níveis “alarmante” de fome.
O relatório nota que a prevalência de subnutrição em Timor-Leste atinge quase um terço da população (30,9%), com a terceira taxa mais elevada dos países analisados em nanismo infantil (51,2%)
A mortalidade infantil caiu de 7,7 em 2006 para 4,6 em 2018, mas quase 31% da população timorense está subnutrida — valor que era de 41,6% em 2002.
Entre as crianças com menos de 5 anos, 14,6% sofrem de debilitação (‘wasting’ ou desnutrição aguda), tendo o valor aumentado 9,9% nos últimos cinco anos.
Mais de metade (51,2%) sofre de nanismo ou desnutrição crónica, o segundo pior nível dos países analisados, atrás do Iémen.
Em termos regionais – englobando o sul, leste e sudeste asiático -, Timor-Leste tem a pior classificação, sete pontos acima do Afeganistão, e mais de 10 acima da média.