O primeiro-ministro não compreende como a esquerda pode travar a proposta de Orçamento que o Governo entregou há uma semana no Parlamento. Em entrevista à TVI (e TVI24), esta segunda-feira, António Costa diz ter “dificuldade em compreender como é que à esquerda haverá oposição global a este Orçamento”. E promete: “Não viro as costas ao país neste momento de crise e tudo farei para poupar o país a qualquer tipo de crise”. Já quanto à polémica aplicação Stayaway Covid, pediu a suspensão da proposta que seria debatida na próxima sexta-feira.

Questionado sobre a aplicação de telemóvel para rastrear a situação da pandemia no país, o primeiro-ministro garante que “é segura” e que o Governo pediu esta segunda-feira a suspensão ao presidente da Assembleia da República do debate da proposta para tornar o seu descarregamento obrigatório. “As pessoas perceberam muito bem a mensagem e o número de pessoas que adotou a aplicação subiu. E o número de códigos que médicos têm estado a emitir também aumentou exponencialmente”, garantiu Costa na TVI, avançando que por agora o Governo vai avançar apenas com a discussão da que “é mais consensual”, o uso de máscaras na via pública.

“Sobre a máscara há um consenso grande, vamos já resolver. Sobre o outro tema é bom que haja discussão mais profunda e é bom que os portugueses continuem a descarregar a aplicação que é segura”, afirmou Costa que explicou que pediu aos Parlamento para “desagendar” o diploma agendado para sexta-feira da proposta do Governo. Costa detalha que não se trata de uma retirada da proposta mas de resolver já a questão das máscaras até que sejam “esclarecidas todas as dúvidas”  relativas à aplicação.

Já sobre as negociações do Orçamento do Estado, que conhecem esta terça-feira mais uma ronda negocial com PCP e BE, o primeiro-ministro percebe que os partidos ainda tentem conseguir introduzir alterações à proposta do Governo, mas não “uma discordância de fundo”. Isso Costa disse que “não compreenderia”, já que há propostas neste OE que “constam desta versão que correspondem a muitas reivindicações que têm sido feitas” pelos (até agora) parceiros do Governo.

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E já tem feitas as contas para a aprovação do Orçamento: “O PS sozinho tem mais de 22 deputados do que toda a direita junta”. A propósito repetiu uma ideia que já tinha usado no fim de semana, colocando toda a pressão na esquerda ao dizer que “o OE só chumba se o PCP e o BE somarem os seus votos aos da direita”. “A questão que se coloca ao PCP e ao BE é se se querem juntar ou não à direita”, desafiou nesta entrevista.

“Orçamento só chumba se o BE e o PCP somarem os seus votos à direita”. Costa tenta virar o jogo

“Ninguém pede um cheque em branco”, garantiu Costa que assegurou ainda que “a proposta apresentada já reflete algum do fruto do diálogo mantido”. “Vamos prosseguir as conversas mas isso tem um limite que é do razoável, que é quando a soma total da despesa e da receita tornarem o OE inexequível “. Mas há uma coisa que rejeita desde já: a crise política. Sem garantir que não governará em duodécimos, ou seja, em caso de chumbo da proposta de Orçamento.

Nessa matéria, quando questionado pela TVI, António Costa garantiu apenas: “Não contribuirei para crise política e farei tudo ao meu alcance para ter um bom Orçamento e para que não tenhamos o país governado ao bochechos, em duodécimos”.

Sobre o estado da pandemia, o primeiro-ministro afirmou que aplicar a regra da Páscoa ao Natal — restrições à deslocação entre concelhos — “seria brutal” para as famílias. E avançou que o estado de emergência “não está em cima da mesa”, mas que tudo depende de “um conjunto de factores”. E aqui António Costa admitiu que haverá “um maior número de casos por dia do que em abril, mas felizmente com muito menos internados do que na altura”, espera. E garantiu que as camas em cuidados intensivos são “mais de 500 reservadas para Covid, que podem crescer para 700 e até chegar às 900, aqui já sacrificando a atividade programada de outras doenças”.