São 100 fotografias captadas por Manoel de Oliveira entre 1939 e 1945. “Muitas delas integraram exposições nos salões internacionais de arte fotográfica na época”, conta ao Observador António Preto, curador da exposição que inaugura esta sexta-feira em Serralves e também diretor da Casa do Cinema Manoel Oliveira.

Descobertas no seu arquivo pessoal depositado em Serralves, as fotografias, na sua maioria inéditas, revelam uma faceta ainda desconhecida do consagrado realizador português. As imagens estáticas de Oliveira mostram um instrumento de pesquisa para a construção da sua linguagem visual e sugerem novas formas de olhar e compreender a sua obra cinematográfica e a sua evolução. “Não seria propriamente um hobby, um livro de rascunhos ou um diário de bordo, mas de uma etapa importante no seu percurso, uma prática exploratória na construção da sua linguagem visual”, sublinha o curador.

Através da exposição, ficamos a saber mais sobre o “dinamismo do enquadramento e do trabalho da câmara” que vemos em filmes como “Douro, Faina Fluvial” (1931), “Hulha Branca” (1932), “Já se fabricam automóveis em Portugal” (1938) e “Famalicão” (1941) têm relação com o trabalho fotográfico que aqui se vê. Uma abordagem que ganha outra consistência depois de fazer um estágio na escola vanguardista alemã Bauhaus, onde aprendeu sobre fotografia a cores para o cinema. Oliveira tornou-se diretor de fotografia dos seus próprios filmes, cargo que ocupou durante uma década, a partir de 1956, com o filme “Pintor e a Cidade”.

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Captadas por uma máquina fotográfica Leica, que também pode ser vista na exposição, as imagens de Manoel de Oliveira resumem-se essencialmente a paisagens, retratos e naturezas mortas, com várias referências ao Porto, a sua cidade, mas também à sua passagem pela aviação, entre 1937 e 1938, sendo uma espécie de prólogo do que viriam a ser as suas preocupações estéticas.

“Manoel de Oliveira revelava uma grande preocupação estética, rigor na composição e no enquadramento e um cuidado meticuloso na sua intencionalidade. As suas fotografias cruzam o modernismo e o pictorialismo”, explica António Preto, que garante não ter dúvidas de que com esta descoberta “surpreendente” haverá “um novo capítulo da historia da fotografia portuguesa dos anos 30, 40 e 50”.

O objetivo da exposição é o de espelhar “as diferentes vertentes da pesquisa levada a cabo pelo realizador, nas influências ou nas escolas e correntes fotográficas, como no que respeita a géneros e temas”. Foi por este caminho que Manoel de Oliveira fez da fotografia uma paixão, um gosto, um passatempo, mas também uma ferramenta profissional.

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“Do ponto de vista material, uma parte muito significativa das fotografias que agora se expõem são provas originais da época (gelatina de prata com diferentes técnicas de tintagem, impressas sobre uma grande variedade de papéis). Relativamente às restantes, optou-se pela digitalização, tratamento e impressão digital dos negativos sobre papel barita. Pretendeu-se, igualmente, evitar o pastiche e assumir uma diferenciação entre estes dois tipos de imagens, originais e tiragens contemporâneas”, pode ler-se na informação que acompanha a exposição.

A exposição inaugura esta sexta-feira e estará patente na Casa do Cinema Manoel Oliveira até 18 de abril de 2021. A sua programação paralela contará com um ciclo de cinema sobre a presença da fotografia no cinema Oliveira, um ciclo de conferências e a edição de um catálogo com ensaios de Emília Tavares, curadora do Museu do Chiado, Maria do Carmo Sérene, coordenadora do Centro Português de Fotografia, Bernardo Pinto de Almeida e David Campany.

O catálogo tem introdução e apresentação do curador António Preto, com textos de Bernardo Pinto de Almeida (ensaísta e professor catedrático da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto), Emília Tavares (conservadora e curadora para a área de Fotografia e Novos Media no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado), Maria do Carmo Serén (coordenadora no Centro Português de Fotografia e investigadora do CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto) e do investigador britânico especializado na relações entre cinema e fotografia, David Campany.

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