É conhecido como um “gigante adormecido” do ciclo de carbono, mas a história pode estar a mudar na costa leste da Sibéria. Os resultados preliminares de um estudo feito por cientistas internacionais indicam que há depósitos de metano congelados no Ártico que estarão a ser libertados para a atmosfera, um fenómeno que pode acelerar o ritmo do aquecimento global. A notícia é avançada pelo The Guardian, que refere que foram detetados altos níveis deste gás com efeito de estufa até uma profundidade de 350 metros no Mar de Laptev, perto da Rússia.
Nas encostas do Ártico existe uma grande quantidade de metano congelado que, quando libertado, produz um efeito de estufa cerca de 80 vezes superior ao dióxido de carbono. Segundo a equipa de investigadores a bordo do navio Akademik Keldysh, os níveis de metano detetados na superfície foram quatro a oito vezes mais do que seria esperado. Os resultados são ainda preliminares, faltando confirmar a escala de libertação de metano no regresso da expedição e analisar todos os dados.
A equipa liderada por Igor Semiletov, da Academia Russa de Ciências, viajou para o Ártico Oriental, para estudar as consequências do degelo do pergelissolo (ou permafrost), o solo do Ártico constituído por terra, gelo e rochas permanentemente congelados. É aqui que está “bloqueado” material orgânico. Quando o solo derrete, devido ao aumento da temperatura global, esse material começa a decompor-se e liberta metano.
Örjan Gustafsson, da Universidade de Estocolmo e um dos cientistas envolvidos neste trabalho, explica ao jornal britânico que apesar de ser “improvável que, neste momento, já haja um grande impacto no aquecimento global”, o grande problema é perceber que este processo de libertação de metano para a atmosfera pode já ter sido iniciado. Os investigadores acreditam que a libertação de metano já poderá estar a ocorrer numa área ampla a cerca de 600 quilómetros da costa. A causa mais provável deste fenómeno, acrescenta o The Guardian, será a intrusão de correntes quentes do Atlântico, impulsionadas pelas alterações climáticas.
Entre 2000 e 2017, recorde-se, as emissões de metano subiram para limiares que os cientistas admitem que provoquem um aquecimento de três a quatro graus celsius antes do fim do século, provocando desastres naturais — de incêndios a secas e inundações –, assim como perturbações sociais, como fome e migrações em massa. Em 2017, o último ano de dados globais completos e disponíveis sobre metano, a atmosfera terrestre absorveu quase 600 milhões de toneladas de gás metano.