Depois de 13 anos de edições mensais, chegou ao fim a revista Up, distribuída a bordo dos aviões da TAP e considerada uma das melhores publicações do mundo no seu segmento. A decisão foi comunicada à redação em setembro, através do departamento de marketing da companhia aérea portuguesa, que supervisionava a revista, mas desde o início da pandemia que a Up estava suspensa — devido ao encerramento do espaço aéreo e a posteriores diretrizes internacionais que impuseram o mínimo contacto físico a bordo dos voos comerciais.
A jornalista Paula Ribeiro, fundadora e diretora da revista da TAP, confirmou a notícia nesta segunda-feira ao Observador e disse que já em janeiro tinha sido informada de que a transportadora pretendia lançar um concurso público para escolha de um novo projeto editorial de bordo. “Não sei em que ponto está o concurso, resolvi não participar e a única certeza é de que nascerá uma nova revista em breve”, disse Paula Ribeiro.
Um porta-voz da TAP confirmou entretanto o “cancelamento definitivo”, o qual se deveu à “situação de força maior resultante da evolução global da pandemia e o consequente impacto muito significativo na operação da TAP”. Segundo a mesma fonte, a empresa lançou “um concurso conducente à produção da revista Up em formato digital”, por esta ser a “tendência global das congéneres” e “o caminho da sustentabilidade e proteção ambiental”. “A consulta de mercado está em curso”, precisou o porta-voz, sem mais pormenores.
O último número da Up saiu a 1 de março e tinha a ilha da Madeira como tema de capa. “Nos meses que se seguiram chegámos a pensar numa versão exclusivamente online, mas não pudemos concretizar”, explicou Paula Ribeiro. A redação incluía cinco jornalistas, uma diretora de arte, dois designers, uma secretária e dois revisores, além dos colunistas e produtores de moda convidados (cada número incluía um editorial de moda). “Foi complicado. Para terminar a revista tive de indemnizar toda a gente, mas cada um vai seguir a sua vida”, disse. “Tenho a certeza de que a TAP vai chamar as pessoas certas para uma nova revista, o padrão é alto”, acrescentou.
Aniversário no Dia de Todos os Santos
A revista, de seu título completo Up – Ouse Sonhar Mais Alto, chegava aos aviões da TAP no dia 1 de cada mês e ao longo dos anos obteve enorme repercussão e popularidade. Teve a primeira edição precisamente a 1 de novembro de 2007.
“Quando o projeto foi aprovado pela TAP, o então vice-presidente perguntou-me quanto tempo eu precisava para que o primeiro número estivesse a bordo. Estávamos em inícios de setembro de 2007. Olhei para o calendário e disse-lhe que a revista estaria pronta no primeiro dia de novembro, por ser Dia de Todos os Santos”, recordou Paula Ribeiro.
Neste domingo, dia 1, a equipa da revista assinalou o aniversário nas redes sociais, com um vídeo que destacava números redondos relacionados com a história da publicação. “O nosso sincero obrigada a todos os que fizeram parte desta incrível viagem”, lia-se, sem que o encerramento fosse dado como certo.
Com uma média oficial de um milhão e 700 mil leitores por mês, a Up foi distinguida pelos World Travel Awards, os Óscares do turismo, como a melhor revista de bordo da Europa (cinco vezes) e também a melhor do mundo (duas vezes). Já este ano voltou a ganhar o prémio de melhor revista de bordo da Europa, anunciou a organização no domingo.
Era um projeto editorial externo que a TAP contratava a uma empresa criada para o efeito por Paula Ribeiro. Tinha edição bilingue, português-inglês, e distribuição gratuita em todas as aeronaves da frota. Apesar de “promover os destinos para onde a TAP voa” e de pretender “reforçar a excelência da imagem da TAP junto dos seus clientes”, a revista era “pensada e executada como uma publicação jornalística tout court”, segundo o estatuto editorial.
“Nunca tive tanta liberdade para trabalhar como nestes 13 anos de revista da TAP”, apontou Paula Ribeiro. “Nas duas fases, primeiro com a companhia pública e depois com a privatização [2015], tive sempre liberdade total. Foi um prazer e uma alegria fazer uma revista que mostrava o melhor de Portugal, era esse o ADN da revista. Tínhamos um feedback enorme e tive a sorte de trabalhar com os melhores profissionais do mundo português, e alguns de fora. Todos os grandes escritores passaram pela Up”, sublinhou a diretora.
Em 2012, quando a Up assinalou cinco anos, fez publicar um livro comemorativo sob o título Portugal Vale a Pena, com recolha de textos de autores tão diversos como Ana Maria Magalhães, Ana Sousa Dias, António Mega Ferreira, Clara Ferreira Alves, Carlos Vaz Marques, Ferreira Fernandes, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto, Leonor Xavier, Lídia Jorge, Ondjaki, Patrícia Reis, Pedro Mexia, Pilar del Río, Vicente Jorge Silva, entre muitos outros.
Paula de Oliveira Ribeiro nasceu há 61 anos em São Paulo, no Brasil, e vive em Lisboa desde 1987. Como jornalista estreou-se na revista Exame, depois criou a Activa, foi diretora da Cosmopolitan, da Ícon, da Grazia. Em 1997 assinou o livro Casas d’Escritas, com fotografias de João Francisco Vilhena e prefácio de Eduardo Prado Coelho. Prepara neste momento um livro e um documentário sobre a história das revistas femininas portuguesas e tem entre mãos outros dois projetos: um livro com as capas da Up e um programa na Antena 1.