“Está complicado”. Carlos Alberto Silva, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (que inclui os hospitais de Penafiel e Amarante e tem 10% dos internados Covid-19 a nível nacional), escreveu um e-mail esta segunda-feira, antes das 9h da manhã, onde reconhece: “Preciso mesmo de ajuda”.
“Já tenho 30 internados na urgência outra vez e hoje é segunda-feira”, escreveu o responsável num e-mail, visto pelo jornal Público, que foi enviado à Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte e à ministra da Saúde, Marta Temido. Os doentes acumulam-se e vários médicos da instituição estão infetados, pelo que não há quadros suficientes para assegurar as escalas.
Tâmega e Sousa em situação “difícil” com 10% dos internamentos nacionais
“Se tiverem médicos de clínica geral que possam vir fazer urgência era bom porque tivemos aqui alguns positivos que fragilizaram as escalas e está complicado”, escreveu Carlos Alberto Silva no e-mail que foi reencaminhado, pouco depois das 10h da manhã, pelo presidente da ARS do Norte para os diretores executivos dos agrupamentos de centros de saúde.
Contactada pelo jornal, a ARS do Norte afirma que este email é um “documento interno” e esclarece que este pedido ainda não foi satisfeito mas deverá sê-lo em breve. Já ao fim da manhã desta terça-feira, fonte da ARS disse à agência Lusa que “logo que rececionado o email [do presidente do conselho de administração do CHTS], de imediato o mesmo foi reencaminhado para todos os diretores executivos dos Agrupamentos de Centros de Saúde da Região, apelando a uma resposta célere”.
Presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos: “Não é para amanhã. A ajuda tem de ser hoje e já devia ter sido ontem”
Em entrevista à Rádio Observador, António Araújo, presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos (OM), descreveu uma situação dramática no Centro Hospital do Tâmega e Sousa, “com um número de doentes de Covid muito elevado” e um “número muito grande de profissionais de saúde infetados ou em quarentena”. A situação é, segundo António Araújo, “insustentável”, com muitos médicos e enfermeiros a sentirem-se impotentes perante o que se passa.
O responsável apontou o dedo à ARS Norte, que, tal como o Governo, tem o “dever” de antecipar casos como estes. “Estranho é que a ARS norte não esteja diaramente naquele hospital, em presença física, para tentar resolver este problema. É um drama o que o hospital vive”, afirmou o presidente do Conselho Regional do Norte da OM.
“A ARS Norte tinha e tem o dever, tal como o Governo tinha e tem o dever, de antecipar situações dramáticas como esta [que se vive no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa]. E não antecipando, [deve] tentar resolver rapidamente a situação quando ela surge”, disse António Araújo, adiantando que tem chegado à OM “muitos relatos de profissionais de saúde desesperados, a chorar, perfeitamente impotentes para lidar com a situação que estão a viver e, portanto, a requerer urgentemente ajuda”.
De acordo com o presidente do Conselho Regional do Norte da OM, esta ajuda “não é para amanhã. A ajuda tem de ser [para] hoje e já devia ter sido [para] ontem”.
O CHTS serve 520 mil pessoas de uma região que inclui Paços de Ferreira, Lousada e Felgueiras, onde há o dever de permanência no domicílio desde 22 de outubro.
Artigo atualizado com as declarações do presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos à Rádio Observador