O secretário-geral das Nações Unidas apelou esta quarta-feira para o diálogo na Costa do Marfim, quando se assiste a nova escalada de tensão no país, que registou pelo menos 10 mortos desde as eleições de sábado.

António Guterres instou o Presidente eleito, Alassane Ouattara, e os principais líderes da oposição a “empenharem-se num diálogo construtivo e inclusivo a fim de encontrar uma saída para a atual crise e a trabalharem em conjunto para alcançar um consenso a favor da coesão nacional”, numa declaração divulgada hoje.

A ONU apela igualmente a “todos os atores políticos a respeitarem a ordem constitucional do país e os princípios do Estado de direito”, após a oposição, que contesta as eleições de sábado e a recandidatura de Ouattara a um terceiro mandato, ter criado um conselho nacional que deverá formar um “Governo de transição”.

A situação permanece tensa na Costa do Marfim, com as casas dos líderes da oposição a serem cercadas pelas forças de segurança e com as autoridades a ameaçarem avançar com ações judiciais. A oposição acusa as autoridades de detenções arbitrárias e uso desproporcionado da força.

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Alassane Ouattara, 78 anos, foi reeleito com 94,27% dos votos na primeira volta das eleições presidenciais de 31 de outubro na Costa do Marfim, de acordo com os resultados provisórios proclamadas pela Comissão Eleitoral Independente (CEI).

A oposição, que boicotou a votação, considera o terceiro mandato de Ouattara “inconstitucional” e apelou para a “desobediência civil”. Cerca de 40 pessoas foram mortas em atos de violência eleitoral desde agosto, por vezes em confrontos interétnicos, uma dezena das quais após a votação.

Eleito em 2010 e reeleito em 2015, Ouattara tinha anunciado em março que iria desistir de uma nova candidatura, antes de mudar de ideias em agosto, após a morte do candidato presidencial do seu partido e então primeiro-ministro, Amadou Gon Coulibaly.

A Constituição da Costa do Marfim prevê um máximo de dois mandatos presidenciais, mas o Conselho Constitucional considerou que, com a reforma adotada em 2016, a contagem de mandatos de Ouattara tinha sido recolocada a zero, dando cobertura a uma nova candidatura.

Os recentes atos de violência no país, levantam receios de uma repetição dos conflitos pós-eleitorais registados há 10 anos. Estima-se que três mil pessoas tenham morrido devido à recusa do antigo Presidente Laurent Gbagbo de admitir a derrota face ao sucessor, Alassane Ouattara.