O Ministério Público está a investigar uma queixa de alegado favorecimento por parte do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), na pessoa do presidente, Vítor Pataco, ao Benfica, nos processos que envolvem as claques não legalizadas dos encarnados, No Name Boys e Diabos Vermelhos. A informação foi avançada esta quarta-feira na edição impressa do Jornal de Notícias e já tinham sido confirmadas ao Observador, nomeadamente as buscas realizadas na sede do órgão na segunda-feira, que se podem juntar agora ao processo Mala Ciao (que pode até já ter outro nome, depois de ter anexado outros casos que estavam também sob investigação).

PJ faz 29 buscas, incluindo Benfica SAD na Luz, por suspeitas de corrupção desportiva, fraude fiscal e branqueamento

Nesse dia, outros investigadores da PJ estiveram na Luz, nos Açores (Santa Clara), em Coimbra (Académica) e em alguns escritórios de empresários, em inquéritos que investigaram “factos suscetíveis de integrarem crimes de participação económica em negócio ou recebimento indevido de vantagem, corrupção ativa e passiva no fenómeno desportivo, fraude fiscal qualificada e branqueamento. Estão em causa negócios de diversa natureza, todos relacionados com o futebol profissional e relativos, nomeadamente, a contratos de parceria de cooperação financeiro-desportiva e respetivos aditamentos bem como a acordos de alteração de contrato de parceria”.

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As queixas remontam já a 2018, quando Augusto Baganha, então líder do IPDJ, saiu do cargo um ano antes do fim do mandato, a 20 de agosto – o que levou o antigo dirigente a avançar mesmo com uma providência cautelar contra o secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo. Na altura, Baganha justificou-se com números dos seis anos no cargo, nomeadamente “a passagem de uma dívida de 15 milhões de euros para um saldo positivo ligeiramente superior  20 milhões”, e falou de “pressões” e “ambientes estranhos”, tocando entre outros pontos na questão da interdição do Estádio da Luz por alegado apoio do Benfica às claques não legalizadas.

Presidente demitido do IPDJ vai colocar providência cautelar contra secretário de Estado

“O secretário de Estado enviou por SMS o telemóvel do advogado do Benfica para a minha colega do Conselho Diretivo para que fosse resolvido o processo de interdição do estádio da Luz em julho de 2017 e fê-lo de uma forma… com impulsividade. Não as posso revelar, não por não terem relevância para o assunto que aqui nos traz, mas porque ocorreram em privado e podiam ser desmentidas”, referiu Baganha numa audição na comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, no Parlamento, em setembro de 2018.

Interdição da Luz: Baganha diz que secretário de Estado enviou SMS com número do advogado do Benfica para pressionar

O presidente cessante do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), Augusto Baganha, esteve a ser ouvido no Parlamento para explicar o fim do seu mandato no organismo, decidido pelo Governo. Na primeira intervenção na audição na comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, Baganha voltou queixar-se de pressões por parte do Governo quando esteve em funções, revelando mesmo a existência de um SMS do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo. “O secretário de Estado liga à Dra. Lídia Praça e por SMS manda-lhe o número do advogado do Benfica. Isso era raro. Queria que esse assunto [sobre a interdição do Estádio da Luz de 2017] fosse rapidamente tratado”, acrescentou depois aos jornalistas.

Secretário de Estado do Desporto: “Sim, enviei o SMS” sobre Benfica. Mas nega “favorecimento”

Também nessa altura, Augusto Baganha apontou também o dedo a Vítor Pataco, que era seu vice-presidente e que após a sua saída assumiu a liderança do órgão, dizendo que houve um período de dez meses entre a declaração de nulidade do regulamento interno do Benfica (de novo por causa das claques não legalizadas) e a notificação do clube que era do pelouro de Pataco. “Tiveram dúvidas durante dez meses. Há que ter atenção que é tempo demasiado para ter dúvidas”, disse. Com essas datas, o Estádio da Luz esteve apenas interdito quatro dias antes de os encarnados regularizarem essa situação do regulamento e ver o IPDJ aprovar esse novo plano.

Caso e-toupeira leva ex-presidente do IPDJ a pedir reabertura de processo por espionagem informática

Como o Observador revelou também em setembro, a queixa criminal que Augusto Baganha, então presidente do IPDJ, tinha feito por suspeitas de intromissão informática nos processos disciplinares abertos pelo regulador do desporto contra o Benfica por alegado apoio a claques ilegais, e que foi arquivado pelo Departamento de Investigação e Ação (DIAP) de Lisboa, despertou também a atenção de José Augusto Silva, a famosa toupeira do Benfica no processo do e-toupeira, que, segundo a acusação, terá consultado esse processo três vezes a pedido de Paulo Gonçalves, antigo responsável jurídico da SAD do Benfica e assessor de Luís Filipe Vieira.

Processos disciplinares das claques ilegais do Benfica com suspeitas de espionagem informática

“Estou absolutamente tranquilo. Na verdade, fico satisfeito por investigarem, para que a verdade venha ao de cima também por essa vida”, salientou Vítor Pataco ao JN, negando qualquer tipo de aliciamento ou pressões feitas por parte do Benfica no âmbito dos processos de interdição do Estádio da Luz. “O facto de ter estado na Benfica Multimédia [n.d.r. como diretor geral] nada belisca a minha idoneidade, como não beliscou o facto de ter sido treinador [de atletismo] no Sporting e no Belenenses”, acrescentou o atual presidente do IPDJ.