A Unidade de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária realizou esta segunda-feira buscas no Estádio da Luz e em Ponta Delgada, nas sedes das SAD do Benfica e do Santa Clara, num processo que envolve negócios por três jogadores líbios que passaram por Portugal mas também suspeitas de corrupção no caso Mala Ciao, segundo avançou a Sábado e confirmou o Ministério Público. A TVI adianta que Luís Filipe Vieira é um dos principais visados da operação, tal como Paulo Gonçalves, ex-responsável jurídico dos encarnados que deixou a sociedade depois da acusação no processo e-toupeira mas que continuou a fazer alguns negócios com o clube. A equipa de inspetores chegou ao recinto dos encarnados pouco depois das 9h30, acedendo à SAD a essa hora pela porta 18. A informação foi entretanto confirmada pelo clube lisboeta, que antes negara por não haver ninguém nas instalações.

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“Ao abrigo do disposto no art.o 86.o, n.o 13, al. b) do Código de Processo Penal, confirma-se a realização, no âmbito de investigações dirigidas pelo Ministério Público do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), de 29 buscas, sendo: oito domiciliárias; uma, a uma fundação; seis, a instalações de três sociedades desportivas;  nove, a outros tipos de sociedade; três, a dois clubes desportivos; e duas, a dois escritórios de advogados. Decorrem em vários locais do país e contam com a participação de magistrados do Ministério Público e dos tribunais de Instrução Criminal, inclusive, o Central e elementos da Polícia Judiciária e da Autoridade Tributária”, confirmou em comunicado o Ministério Público, antes de abordar o âmbito destas operações.

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“Nos inquéritos investigam-se factos suscetíveis de integrarem crimes de participação económica em negócio ou recebimento indevido de vantagem, corrupção ativa e passiva no fenómeno desportivo, fraude fiscal qualificada e branqueamento. Estão em causa negócios de diversa natureza, todos relacionados com o futebol profissional e relativos, nomeadamente, a contratos de parceria de cooperação financeiro-desportiva e respetivos aditamentos bem como a acordos de alteração de contrato de parceria. Investigam-se ainda a aquisição dos direitos desportivos e económicos dos jogadores por parte de clubes nacionais de futebol, empréstimos concedidos a um destes clubes e a uma sociedade desportiva por um cidadão de Singapura com interesses em sociedades sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas e a utilização das contas do mesmo clube e de outro, para a circulação de dinheiro”, adiantou.

As investigações incidem igualmente sobre o envolvimento de outros tipos de sociedades (algumas ligadas ao setor imobiliário), o pagamento em dinheiro de prémios de jogo, a satisfação de dívidas pessoais de dirigentes, a utilização por estes de valores dos clubes e a omissão declarativa de operações fiscalmente relevantes. As investigações prosseguem sob direção do Ministério Público com a coadjuvação da Polícia Judiciária e da Autoridade Tributária”, concluiu o comunicado do Ministério Público.

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Ao final da noite, foi também noticiado pelo Notícias de Coimbra que a Académica foi alvo de buscas durante o dia, também no âmbito do caso Mala Ciao. A publicação refere que os inspetores da PJ foram ver às instalações do clube os contratos de venda de Chiquinho, que entretanto foi vendido ao Moreirense e recomprado pelo Benfica, e de Pedro Nuno, que depois de dois anos de empréstimo ao Tondela rumou a título definitivo ao Moreirense. Os estudantes não deverão ser citados neste processo e colaboram em tudo o que foi pedido pelas autoridades.

Além das buscas na SAD do Benfica e do Santa Clara, existem então quase 30 buscas em curso entre empresas e casas particulares, entre as quais a do advogado Rui Cordeiro, presidente do Santa Clara; a do administrador e diretor desportivo Diogo Boa Alma; e a do empresário Khaled Ali Mesquita Saleh, que representa o principal acionista particular da sociedade do Santa Clara. De acordo com a Sábado, um dos objetivos destas buscas passa por cruzar as contabilidades dos dois clubes para perceber se o fisco português foi defraudado no pagamento de impostos nestes negócios e, em paralelo, se essas operações terão sido um financiamento encapotado dos lisboetas aos açorianos e aos avenses, estando a ser investigados crimes como fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais, falsificação de documento, participação económica em negócio e recebimento indevido de vantagem.

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Já a TVI destaca que as buscas procuram recolher a informação para processos que se encontram já na parte final, nomeadamente o processo do ‘Saco azul’, onde existem suspeitas de fuga de 1,8 milhões de euros das contas das águias para serviços informáticos nunca prestados, e o dos e-mails (desencadeado pela divulgação de correio eletrónico de dirigentes encarnados pelo hacker Rui Pinto), que entretanto se juntou a outros como os vouchers e o Mala Ciao num único processo. É por isso que estas diligências visam também outros empresários e intermediários com ligações ao Benfica, que alegadamente terão feito parto do circuito de corrupção desportiva na temporada de 2015/16, quando as águias ganharam o título na última jornada. O canal recorda o encontro em Vila do Conde com o Rio Ave, que pode não ter sido o único: alguns jogadores seriam alegadamente abordados por empresários com promessas de contrato e colocação noutros clubes com condições salariais mais vantajosas.

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Os jogadores em causa são Hamdou Elhouni, extremo contratado pelos encarnados no verão de 2016 que depois foi emprestado a Desp. Chaves e Desp. Aves, estando agora nos tunisinos do Espérance de Tunis após ter sido cedido pela equipa B do Benfica aos avenses; o avançado Muaid Ellafi, que jogou em 2015/16 no Santa Clara e que está hoje no USM Alger; e o médio defensivo Mohamed Al-Gadi, que depois de dois anos no Santa Clara regressou em 2018 ao Al Ahly Tripoli. Ou seja, nenhum dos três atletas em causa está ainda em Portugal.

“A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD confirma a realização de buscas às suas instalações. A Benfica SAD manifesta, como sempre, a sua total disponibilidade para colaborar com as autoridades no esclarecimento das questões suscitadas no âmbito da diligência em curso”, escreveu o clube da Luz numa nota oficial publicada no site oficial dos encarnados. “A Santa Clara Açores, Futebol SAD vem pelo presente esclarecer o seguinte: neste momento decorrem operações de recolha de informação por elementos da equipa de investigação da Polícia Judiciária nas instalações da Santa Clara Açores, Futebol SAD; mais informamos que, desde o primeiro momento, disponibilizamo-nos a fornecer toda a informação requerida, colaborando ativa e serenamente com as demais entidades para o esclarecimento cabal de toda esta situação”, confirmaram os açorianos em comunicado.