Cinco anos depois dos ataques, as famílias das vítimas dos atentados do 13 de novembro em Paris consideram que o processo que deverá começar em janeiro de 2021 com 20 acusados de terrorismo é “um show mediático”.
“O processo é um grande show mediático e um reavivar da dor de quem perdeu alguém próximo ou que foi ferido carrega consigo. Tem de haver um processo, porque foi um ato de guerra e isso deve ficar registado na história, mas não tenho qualquer confiança na justiça”, afirmou à agência Lusa Patrícia Correia, mãe de Precília Correia, lusodescendente, que morreu no atentado ao Bataclan e uma das fundadoras da associação de vítimas 13onze15.
O megaprocesso obrigou à construção de uma sala de audiências especial no Palácio de Justiça de Paris, junto à Notre Dame. As autoridades estimam que o julgamento vai envolver mais de 3.000 pessoas, entre os 20 acusados, 1.700 sobreviventes, testemunhas ou famílias das vítimas, 350 advogados e jornalistas.
Esta logística não impressiona Patrícia Correia nem outras famílias que integram a sua associação já que anteveem que o processo não traga nem novidades nem o castigo necessário aos acusados.
“Houve grandes falhas por parte das autoridades, isso já sabemos. Quanto aos réus, deixamos-lhes sempre uma oportunidade de sair ao fim de alguns anos”, sublinhou.
No banco dos réus não haverá nenhum terrorista que tenha sido diretamente responsável pelas 131 mortes do 13 de novembro no Stade de France, no Bataclan e nas esplanadas do 11.º bairro já que todos foram abatidos após os ataques, mas há figuras-chave que terão participado na conceção e preparação dos atentados.
Desde logo Salah Abdeslam, o único sobrevivente dos operacionais do 13 de novembro que terá transportado três terroristas até ao Stade de France e deveria utilizar um colete de explosivos para levar a cabo outro ataque, tendo, no entanto abandonado os explosivos e fugido para a Bélgica.
Outro acusado que será julgado é Mohamed Abrini que terá acompanhado os terroristas até à região parisiense, tendo um papel importante no financiamento e na facilitação de armas para o ataque.
Acompanhando o julgamento que decorre atualmente sobre os ataques de janeiro de 2015, quando a redação do jornal satírico Charlie Hebdo foi visada, e o subsequente ataque no início de outubro às antigas instalações do jornal, Patrícia Correia considera que a atuação das autoridades tem sido “terrível”.
“É terrível tudo o que se passou no seguimento do processo Charlie Hebdo, com um louco que foi atacar a antiga redação. O Governo deixou-se invadir por estas comunidades islâmicas e estamos em perigo”, considerou.
Passados cinco anos desde o ataque ao Bataclan, a mãe de Precília Correia garante que ainda há “feridas que não cicatrizaram” e que os combates pela memória da filha são a única ajuda possível.
“O que me ajuda [no dia a dia] é o meu combate através da associação para preservar a memória da minha filha, o meu combate junto do Governo para criar um museu e o meu combate junto da autarquia de Paris para criar um jardim de memória”, concluiu.