A Administração dos Serviços Gerais (GSA, na sigla em inglês), entidade responsável pelo processo de transição federal nos Estados Unidos da América, informou Joe Biden que a administração de Donald Trump está preparada para começar o processo formal de transição.
A notícia foi avançada pela CNN, que teve acesso a uma carta enviada pela administradora da GSA, Emily Murphy, ao Presidente eleito no início do mês. Donald Trump confirmou com uma publicação na rede social Twitter, onde diz ter “recomendado a Emily e à sua equipa” para fazerem o que “for necessário em relação aos protocolos iniciais”. No entanto, assegura que o caso legal para contestar o resultado das eleições “continua forte” — e, como tal, recusa para já conceder derrota a Joe Biden.
…fight, and I believe we will prevail! Nevertheless, in the best interest of our Country, I am recommending that Emily and her team do what needs to be done with regard to initial protocols, and have told my team to do the same.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) November 23, 2020
A carta da GSA foi enviada depois de dois dos estados mais decisivos terem certificado a vitória de Joe Biden. Na passada sexta-feira, o democrata voltou a ser declarado vencedor na Geórgia depois de o estado ter certificado os resultados: venceu com mais 2% dos votos do que Trump. No sábado, a equipa de advogados de Trump pediu uma segunda recontagem dos votos. Esta segunda-feira, também o estado de Michigan deu a vitória a Biden: teve mais 2,8% dos votos e garantiu todos os 16 votos eleitorais.
Num comunicado, a equipa de transição Biden-Harris afirmou que Murphy declarou oficialmente Biden e a vice-presidente eleita Kamala Harris como os “aparentes vencedores da eleição”, fornecendo à nova administração os “recursos necessários” para uma “transferência de poder tranquila e pacífica”.
A decisão de hoje [segunda-feira] é um passo necessário para começar a enfrentar os desafios que o nosso país enfrenta, incluindo manter a pandemia sob controlo e colocar a nossa economia de volta ao normal. Esta decisão final é uma ação administrativa definitiva para iniciar formalmente o processo de transição com os órgãos federais”, lê-se.
O diretor executivo da transição Biden-Harris, Yohannes Abraham, diz ainda “nos próximos dias” conseguir obter uma “compreensão completa dos esforços do governo de Trump para ‘esvaziar’ as agências governamentais”.
Esta decisão da GSA “abre o caminho” para Biden poder aceder às agências e fundos federais, para que possa começar a constituir formalmente a administração que vai governar o país durante os próximos quatro anos. A tomada de posse está agendada para dia 20 de janeiro.
Apesar de ter dado instruções à sua equipa para cooperar na transição, Donald Trump promete continuar a lutar para reverter os resultados, que considera fraudulentos desde que foram conhecidas as primeiras projeções que apontavam para a vitória de Biden. “O nosso caso continua fortemente, vamos manter a boa luta e acredito que vamos prevalecer”, escreveu no Twitter.
No domingo, foi noticiado que a advogada Sidney Powell foi afastada da equipa legal do Trump, dias depois de ter dito, sem apresentar provas, que as máquinas de voto contratadas à empresa Dominion e utilizadas nalguns estados funcionavam com um software criado a seu tempo sob ordens de Hugo Chávez.
Poucas horas depois do anúncio inicial, Donald Trump voltou a sublinhar que ao abrir espaço para uma transição não está necessariamente a conceder a vitória a Joe Biden — antes pelo contrário. “O que é que tem a ver nós permitirmos que o GSA faça o seu trabalho preliminar junto dos democratas com continuarmos a perseguir os vários casos daquilo que ficará na história como as eleições mais corruptas da história política americana?”, escreveu no Twitter.
“Continuamos a avançar com toda a força. Nunca iremos conceder perante os boletins falsos e a ‘Dominion'”, acrescentou, referindo-se a duas acusações frequentes da sua campanha que, até ao momento, padecem de provas. Por essa razão, este tweet foi marcado com uma nota por parte do Twitter, onde se pode ler “esta afirmação sobre fraude eleitoral é alvo de disputa”.
What does GSA being allowed to preliminarily work with the Dems have to do with continuing to pursue our various cases on what will go down as the most corrupt election in American political history? We are moving full speed ahead. Will never concede to fake ballots & “Dominion”.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) November 24, 2020
Trump assume transição após insistência de vários republicanos
A decisão de Donald Trump, 16 dias depois de Joe Biden ter sido declarado vencedor das eleições pelos media (que, desde o final do século XIX, por terem acesso aos números de votos, declaram os vencedores das eleições antes das instituições oficiais, que só poderão fazê-lo depois de o Colégio Eleitoral votar, em dezembro), aconteceu depois de várias vozes republicanas, incluindo algumas dentro da Casa Branca, o terem instado a dar esse passo.
De acordo com o Washington Post, esse pedido foi feito por Jay Sekulow (advogado pessoal de Donald Trump), Pat Cipollone (da equipa de advogados da Casa Branca) e do seu chefe de gabinete, Mark Meadows.
No Senado, e só na segunda-feira, quatro republicanos juntaram-se aos que já tinham instado o Presidente a dar início ao processo de Transição, sendo todos eles de estados que votaram em Donald Trump nas eleições presidenciais de 3 de novembro: Rob Portman, do Ohio; Shelley Moore Capito, da Virgínia Ocidental; Lamar Alexander, do Tennessee; Bill Cassidy, do Louisiana.
Na segunda-feira, o jornalista Carl Bernstein, co-autor da investigação em torno do Watergate, divulgou uma lista de 21 senadores republicanos que “expressaram repetidamente um desprezo extremo em relação a Trump e às suas capacidades para ser Presidente dos EUA”. Nessa list, Donald Trump incluiu desde senadores republicanos mais moderados (como Susan Collins, do Maine) até àqueles que mais acompanham as iniciativas do Presidente nas suas votações (como Rick Scott, da Flórida).
Outra voz que se levantou, entre os próximos de Donald Trump, foi a de Chris Christie, ex-governador de Nova Jérsia. Para este político que fez parte da campanha do Presidente em 2016 e que em 2020 chegou a prepará-lo para os debates contra Joe Biden, falou num “embaraço nacional”.
“Oiçam, eu tenho sido um apoiante do Presidente, votei nele duas vezes, mas as eleições têm consequências, e não podemos continuar a agir aqui como se alguma coisa tivesse acontecido quando não aconteceu”, disse Chris Christie.
Outro aliado do Presidente, o comentário de rádio conservador Rush Limbaugh, também expressou o seu desagrado esta segunda-feira, referindo que as acusações de fraude eleitoral não estiveram à altura das expectativas que a equipa de Donald Trump criou em torno delas.
“Quando se convoca uma conferência de imprensa gigantesca daquelas, que dura uam hora, e se anuncia autênticas bombas, é bom que se tenha mesmo algumas bombas”, disse, referindo-se à conferência de imprensa de 8 de novembro, liderada por Rudolph Giuliani, em simultâneo com a declaração de vitória de Joe Biden. “Teria sido bom que nessa conferência de imprensa se tivesse demonstrado mais do que aquilo que nos foi dado… Falei com algumas pessoas que ficaram espantadas pela natureza da conferência de imprensa. Prometerem coisas estrondosas e depois nada aconteceu. E isso não é nada bom.”