O Programa Alimentar Mundial (PAM) vai reduzir a ajuda alimentar a deslocados em Cabo Delgado, norte de Moçambique, a partir de terça-feira por falta de financiamento, referiu esta quarta-feira em resposta a questões colocadas pela Lusa.
Sem financiamento adicional, o que é urgente, o PAM será forçado ou a reduzir as porções de alimentos ou a diminuir o número de beneficiários já em dezembro. Ou seja, daqui a uma semana”.
Está comprometida a assistência humanitária aos deslocados internos em Cabo Delgado, Nampula e Niassa, que segundo os últimos números do Governo moçambicano ascendem a 500.000 pessoas, cerca de metade menores de 18 anos.
Em contraste com 29.150 deslocados que o PAM apoiou em janeiro, a agência das Nações Unidas atingiu “um recorde de 331.630 beneficiários entre deslocados pelo conflito apoiados em outubro” e o objetivo seria “alcançar cerca de 750.000 deslocados internos e comunidades acolhedoras nos próximos meses”.
A organização corrigiu o relatório de outubro que na segunda-feira dava a ideia de que o número de beneficiários tinha diminuído desde setembro, quando na realidade houve um recorde, agora ameaçado.
O PAM requer mensalmente oito milhões de dólares (6,7 milhões de euros) para prestar assistência a quem foge da guerra no norte de Moçambique, ou seja, 96 milhões de dólares (80 milhões de euros) para os próximos 12 meses.
Mas “apenas 11,7 milhões de dólares (9,8 milhões de euros) estão garantidos”, detalha à Lusa.
Além de quem foge, a crise humanitária abate-se sobre quem os acolhe: “a monitorização remota indica que metade das famílias nas populações hospedeiras ficaram sem reservas de alimentos”.
A agência das Nações Unidas considera que a falta de financiamento deriva, “em primeiro lugar, da magnitude desta emergência”.
O número de deslocados internos aumenta a cada semana, o que pressiona o plano operacional e as capacidades do PAM”.
Em segundo lugar, o mundo está a lidar com a Covid-19 e os doadores tradicionais “enfrentam também a crise sanitária e socioeconómica provocada pela emergência do novo coronavírus”, pelo que “a mobilização de recursos é ainda mais desafiadora”.
“Estamos a enfrentar uma situação de subfinanciamento ao longo de todo o ano, que daqui uma semana já será falta de financiamento” e que não é exclusiva de Cabo Delgado – embora esta seja a maior crise humanitária do país.
Todas as áreas estão subfinanciadas, sublinha nos esclarecimentos enviados à Lusa.
Todas as intervenções humanitárias em zonas de conflito, todo o trabalho de construção de resiliência a secas prolongadas e cíclicas, todas as estratégias implementadas após desastres naturais como os ciclones Idai e Kenneth, assim como o apoio ao desenvolvimento, através do combate à desnutrição pela alimentação escolar e para a erradicação total de bolsas de fome.
O quadro agrava-se quando falamos do setor de nutrição, que é particularmente subfinanciado, beneficiando de menos de 1% de toda a assistência destinada ao desenvolvimento”.
A violência armada em Cabo Delgado, norte de Moçambique, está a provocar uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 500 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
A província onde avança o maior investimento privado de África, para exploração de gás natural, está desde há três anos sob ataque de insurgentes e algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo jihadista Estado Islâmico desde 2019.